Os Efeitos do Poder - Parte 2 - Privação

in #psychology6 years ago

Realidade social: violência, poder e mudança
Os efeitos do poder - parte 2 - Privação


"O Poder tem de ser desmistificado" - charlie777pt

Introdução


Os efeitos do Poder são um assunto tão vasto, que eu tive que dividir este assunto em cinco posts, o primeiro em que fizemos um rally filosófico, seguido por este sobre o Privação, e os próximos sobre a Submissão, Corrupção e Resistência.
Podemos distinguir entre Poder Social (autoridade, status, dominância) como o controle de comportamentos de outra pessoa, e o Poder Pessoal (autonomia, independência e competência) como o controle de nossas próprias escolhas e ações.

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A felicidade individual e a transformação das condições sociais requerem uma revolução com novas visões sobre a igualdade e solidariedade humanas para a descentralização do poder.
O Poder pode ser usado de maneiras positivas, como não causar danos, partilhar informações e para a ajuda e suporte de quem precisa.
Num nível ainda mais elevado, pode ser uma ação proativa para defender, educar e proteger as pessoas ou até mesmo dar conforto e apoio psicológico.

"O verdadeiro poder deve ser reconhecido pela 'proteção que ele oferece". - Ernst Junger
O Poder é usado de maneira negativa quando permite ferir ou prejudicar, ocultar informações e conhecimentos ou negar ou recusar ajuda a qualquer pedido de ajuda emocional.
Pode ser pior quando é reativo e há ataques e confrontos violentos, ou esconder conhecimento e informação com motivos ocultos como chantagem, ou uso de má propaganda para seduzir, gerar ódio e destruição.
"A luta real em que estamos envolvidos é cada vez mais cara entre os poderes de destruição e os poderes da vida." - Ernst Junger.
O Poder dos governos influencia a riqueza económica, a estrutura e o funcionamento de qualquer sociedade e como um monopólio coercivo, usando agressividade e violência para pseudo-proteção, para justificar a invasão da privacidade, contribuindo para aumentar a dominação e o controle.
Max De Pree vê a liderança como a arte de "libertar as pessoas para fazerem o que se exige delas de maneira mais eficiente e humana possível" e que pode ser medida no leader pelo potencial atingido por cada pessoa a motivação e o nível de resultados alcançados.

Os efeitos do Poder variam entre aqueles que o possuem e aqueles que são restringidos por ele.
Estudos atuais de neurociências na Universidade da Califórnia, Berkeley, sugerem que a exposição ao Poder tem efeitos destrutivos nos lobos frontais como trauma cerebral.
O Poder não é uma propriedade pessoal, mas uma dinâmica gerada entre um grupo e um líder, a contingência da situação e as capacidades e volições pessoais do grupo.
Dahl, em 1975, mostrou que os efeitos do Poder dependem da servidão do grupo e podem ser medidos pelo grau de mudanças comportamentais que ele causa.


Pruit em 1976 demonstrou que o modo como o Poder é percebido numa pessoa central e não no caráter real, e mediu esse efeito na função do tipo de sanções que o líder foi investido.
Ele reconheceu que o elemento do Poder é muito difícil de isolar e simular em todas as suas dimensões, bem como todas as possíveis consequências.

Os famosos estudos de Zimbardo e Haney, em 1977, tentaram entender os efeitos do Poder num experimento em que um grupo de estudantes se dividia em dois papéis numa prisão, nos guardas e nos prisioneiros.
O experimento foi interrompido porque os guardas se tornaram tão extremos em usar seu poder sobre os prisioneiros que tronou a situação insustentável.

1- O que é a privação do poder?


Agora, vamos falar brevemente sobre alguns dos efeitos da Privação do Poder.
Os que não têm Poder sofrem sempre de privação de controle, o que causa ansiedade e uma ameaça sentida à autoestima, à auto-imagem e ao autoconceito e que afetam sua estabilidade psicológica.
Seligman, em 1975, colocou as pessoas em condições de não conseguir controlar uma situação, o que gerou uma sensação de incapacidade de agir que ele chamou de "impotência assimilada".
Abramson, Seligman e Teasdale em 1978, descobriram que quando as pessoas não podem influenciar a realidade circundante, elas sentem-se impotentes originado pela privação de poder ,porque perdem o controle sobre a vida pela incapacidade de exercê-lo.
Rotter em 1966 demonstrou que alguns indivíduos podem criar atitudes para tentar dominar a situação, do que no começo parecia incontrolável, mas em paralelo, também criaram attitudes que reforçavam a impotência sentida.
Rotter chamou-lhe controle interno e externo, o primeiro ligado ao sentimento de que nossas decisões têm algum impacto na realidade e o segundo quando sentimos que não podemos controlar a situação ou os eventos ao nosso redor.

A Privação de Poder é sentida quando há uma total falta de controle que pode só estar dentro de nossas mentes quando pensamos que os eventos e as circunstâncias eliminam totalmente nossa influência.
Touraine, em 1982, definiu esta impotência de capacidade incontrolável de usar o nosso poder como uma alienação, como uma falta de consciência.
Parece que a privação de poder está correlacionada com os mesmos fenómenos na consciência de nosso próprio poder para influenciar a realidade.
Isto mostra que qualquer estrutura social, económica, política e social criam uma dualidade de poder entre ricos e pobres, homens e mulheres, pais e filhos, empregados e desempregados, etc., definindo uma dominação excluindo os que estão na parte inferior da pirâmide.
O Poder define uma distribuição de escala das pessoas afetadas pela distribuição do Poder, definindo desde o grau de uso absoluto até á completa privação.

2- As Mulheres e a privação de poder


Houve muitos estudos nesta área que mostraram , na maioria dos casos, as mulheres são normalmente privadas de poder, e vamos aqui resumir algumas das conclusões dessas investigações.
Em primeiro lugar, compreenderemos que as mulheres com a responsabilidade das tarefas domésticas têm mais dificuldades em conciliar as responsabilidades em casa e ne trabalho, e que precisam lidar com as representações sociais e os estereótipos de que não têm o direito de exercer o papel de líder.
Nesses estudos, os líderes masculinos são vistos por mulheres e homens, como mais capacitados e competentes do que os líderes femininos, e que as mulheres associam-se aos homens porque se sentem menos habilitados a desempenhar a liderança.
Isto mostra que as mulheres são pré-condicionadas para serem mentalizadas para se sentirem inferiores aos homens.

Outros estudos provaram que, quando existe uma liderança bem-sucedida de mulheres, considera-se que é mais baseada na sorte do que em capacidades, enquanto no caso de ser uma liderança masculina, o sucesso é atribuído à competência.
Assim, a sociedade tende a desvalorizar as mulheres com base em estereótipos de género que tendem a demonstrar a inferioridade das mulheres, exceto no caso de profissionais de saúde em que as mulheres são mais capazes em algumas tarefas devido á sua maior tolerância nas inter-relações com outras pessoas.

Investigações sobre mulheres gestoras de empresas mostraram que as mulheres têm que se ater aos valores masculinos porque as organizações veem os homens como mais aptos do que as mulheres e o modelo dominante é o dos valores masculinos.
Eles descobriram que as mulheres gerentes são identificadas com valores masculinos e são mais submetidas a "rituais de iniciação" porque precisam provar continuamente suas competências para serem aceites.

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Introdução:

A Realidade Social: Violência, Poder e Mudança

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Uma Introdução à Violência
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Os influenciadores da Violência - Parte 2 - Fatores Sociais, Cognitivos e Ambientais
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O que é Poder? - Introdução
A Natureza do Poder A Dinâmica do poder:Os Efeitos e as Consequências do poder

Artigos da próxima série de publicações sobre Realidade Social, Violência, Poder e Mudança

  • Parte 3 - Submissão
  • Parte 4 - Corrupção
  • Parte 5- Resistência

C - Mudança:

Mudança e Cultura
As teorias e a conceptualização da mudança
Fatores que determinam a mudança
Os caminhos da mudança
Mudança social

Referências consultadas:

Les concepts fondamentaux de la psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer
La psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer

A dinâmica social-violência, poder, mudança - Gustave-Nicolas Fischer Planeta/ISPA, 1980
Gustave-Nicolas Fischer é Professor de Psicologia e Diretor do Laboratório de psicologia na Universidade de Metz.
Raven, B. H. e ; Rubin, J. Z. (1976). Social psychology: People in groups
French, J. R. P., e ; Raven, B. H. (1959). The bases of social Power. In D. Cartwright (Ed.),Studies in social Power. Ann Arbor, MI: Institute of Social Research
Castel, R. As metamorfoses da questão social. Vozes, 1998.
Moscovici, S. (1976).Social influence and social change. London: Academic Press.
Michel Foucault, Discipline and Punish: The Birth of the Prison
Festinger, L. (1954). A theory of social comparison processes.
Human Relations
Dahl, R.A. (1957). The Concept of Power,
Giddens, Anthony, Capitalism and Modern Social Theory: An Analysis of the Writings of Marx, Durkheim and Max Weber, 1971.
Grabb, Edward G., Theories of Social Inequality: Classical and Contemporary Perspectives,1990.
Weber, Max, Economy and Society: An Outline of Interpretive Sociology, 1968.
Porter, L. and Lawler, E. (1968). Atitudes e Performances Administrativas. Homewood, Ill.: Dorsey Press.
Vroom, V. (1964). Trabalho e Motivação. Nova Iorque: Jon Wiley and Sons.
Vroom, V.H., Yetton, P.W., 1973, “Leadership and Decision – making”, Pittsburgh:
University of Pittsburgh Press.

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One of the best sciences is psychology
It tells us about human abilities and human actions
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What language used in your content Mr. @charlie777pt...
I don't know this language....

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But tomorrow this post will be in English
I always write my last posts in Portuguese and English
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Thanks @charlie777pt.. Are you portuguese??

Yes I'm Portuguese, but I'm from Mozambique in Africa an ancient colony of Portugal.

really great share of psychology ..but i dont understand properly Portugal language.

Hi
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but i remain its based on the psychology.really awesome thing which tell about a human by seeing body language.its awesome science of human discription

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