A Natureza do poder, Parte III - Os fundamentos do poder

in #psychology7 years ago (edited)

Realidade social: violência, poder e mudança
A Natureza do poder
Parte III - Os fundamentos do poder


Podemos falar de poder em várias dimensões como, o Poder formal (em sistemas organizados) e informal ( em grupos de amigos) , o Poder carismático (identificação com o que as pessoas queriam ser ), o Poder institucional (poder das instituições e do estado) , e o Poder de Rua (poder carismático de gangs ou o poder de rua das pessoas se manifestam contra o Poder instituído).
O Poder é uma intrincada teia de sistemas morais de crença associados a roteiros agressivos de comportamento.
Os mais obscuros exercícios de poder deixam marcas com a repressão e opressão, destruição e coerção, imposição e coesão forçada, desigualdade e injustiça, uniformidade e conformidade, etc.
O famoso Turing é um exemplo da coerção de instituições, que foi assassinado por fazer um acordo com o poder para curar sua "doença"- a homossexualidade.

Vamos agora concentrar-nos na análise dos pilares do Poder.
Robert A. Dahl, em 1975, apontou que o poder deve ser analisado nos seus fundamentos, extensões, estrutura e custos tecnológicos.
Ele afirmou que o Poder numa pessoa é medido pelo volume de recursos e pela quantidade e "importância" das pessoas que ele controla, e o seu nível de aceitação.

1 - As Bases do Poder

O Poder numa analogia é como o esqueleto de um edifício, que não pode ser visto depois de construído, mas que tem muita influência na sua solidez e consolidação.
Este modelo é baseado em French e Raven de 1957, que enfatizava as bases do poder como baseadas em recompensas, coerção, legitimidade, referência e perícia.

power-bases-pt.jpg

1.1 - Recompensas
A posição central de uma pessoa com Poder subjacente para recompensar os outros é uma influência unidirecional que as pessoas aceitam pelo conformismo.

1.2 - Coerção
A Coerção é o outro lado da face da moeda das recompensas.
As sanções são o resultado da não-conformidade para obedecer às ordens.
Normalmente, as consequências das sanções têm impactos negativos, o oposto de recompensas positivas.

1.3 - Legitimidade
A Influência está relacionada com a posição de uma pessoa na pirâmide das hierarquias, que define os estatutos que dão direitos para influenciar os outros e é um direito que está conectado com a capacidade de recompensar ou punir.

1.4 - Referência
Uma pessoa pode ter poder quando outros imitam seu comportamento (como exemplo) em um processo de identificação.
A Legitimidade do poder existe nos padrões culturais que aceitam a estrutura social e os nomeados eleitos para governar as pessoas.

1.5 - Expertise
O Poder do especialista é uma influência baseada na informação e conhecimento duma pessoa, mas não é baseado no controle porque está limitado ao seu campo de especialização.

1.6 - Conclusão
Este modelo mostra que todos os estudos mais recentes, descobriram que os fundamentos dos ​​de poder estão todos interconectados, mas conceptualmente são muito difíceis de separar ou de perceber as combinações possíveis.

2 - A Bases Psicossociais do poder

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A base psicossocial do Poder foi estudada por Crozier e Friedberg em 1977, com referências o último modelo apresentado de French e Raven na parte 1, e apresentam as quatro principais fontes de poder.

  • O primeiro é o poder do Especialista referindo os aspectos da resolução de problemas pelo perito e a aceitação no grupo de suas conclusões.
  • O segundo é o poder de resolver as incertezas geradas na interação das organizações com o ambiente.
  • A terceira fonte do poder é a capacidade de intervenção de uma pessoa na comunicação e troca de informações com os outros.
  • O quarto vem do conhecimento de cada pessoa e da capacidade de usar regras organizacionais para defender os seus interesses próprios.
Este modelo enfatiza a possibilidade de manobrar e controlar os efeitos do ambiente na organização, que qualquer ator tem em situações hierárquicas sociais.
Depois os modelos analisados ​​nos capítulos 1 e 2, vamos agora analisar os conceitos de meios de sanção, informação, competência, identificação e estrutura sócio-afetiva.

2.1 - Sanções
Poder é a posse que uma pessoa tem, de possuir um sistema de recompensa e punição para a avaliação do comportamento de outras pessoas.
Todo o Poder está ligado a tipos de sanções, usando recompensas e punições que expressam o julgamento de uma pessoa central que pode usar coerção ou ameaças contra o desvio de outras pessoas dos comportamentos esperados.

Bachrrach e Lawler, em 1980, fazem uma distinção entre Base e Fontes de Poder:
Para eles, as bases do Poder são a coerção (criação de sentimentos negativos nas pessoas que assumem a conformidade), pagamento (como recompensa controlada), poder normativo (recompensas simbólicas como promoção) e competência (medida pela informação).
Além das bases, existem quatro fontes de poder, a posição na hierarquia (que determina os recursos do poder), fatores pessoais, avaliação e oportunidades (imprevisibilidade e restrições de poder).

Para Crozier e Friedberg, as fontes de poder nos atores sociais são baseadas em coerção estrutural como a avaliação do especialista, as possíveis ações, o ambiente da organização, a circulação de informações que dão poder com base no acesso e nas regras e normas organizacionais de funcionamento.

2.2 - Informação
A informação pode ser uma importante fonte de poder para qualquer um, assim como os políticos usam o seu acesso privilegiado à informação para influenciar e mudar as atitudes e comportamentos das pessoas, normalmente por interesse próprio.

2.3 - Competência
As nossas capacidades e aptidões pessoais, podem ser uma forte fonte de poder, como no caso de um especialista que tenha formação e conhecimento especializado sobre um domínio da realidade.

2.4- Identificação
O processo de identificação é a projeção dos nossos próprios desejos numa pessoa que é um modelo para nós.
A Identificação é baseada em formas de admiração, adoração, deferência ou amor como um tipo de atração humana mútua como Poder de Referência.

2.5 - Legitimidade
A Legitimidade é uma fonte de racionalização do poder baseada num contrato social que define quem tem o direito de governar, facilitando a estabilização do sistema social de acordo com convenções sociais que são ideológicas e mistificadas como uma espécie de eternidade nas relações sociais.

2.6 - Estrutura Socioafetiva
Enriquez em 1983 estudou o processo de fusão onde o indivíduo controlado molda seus comportamentos na vontade dos dominadores, como uma "fusão de amor" que é muito visível na liderança carismática, que torna as pessoas totalmente dependentes de serem como o líder.
Podemos ver os aspectos ocultos da repressão em que este poder fortalece as tendências masoquistas dos dominados.
Como piada final, uma das frases muito ouvidas na língua portuguesa quando de fala de autoridade e Poder é "Eu quero, posso e mando"

Nos últimos três posts analisamos a Natureza do Poder, no primeiro falando sobre as Noções de poder, no segundo sobre as Dimensões do Poder, seguido por este sobre os Fundamentos do Poder.
O próximo post é sobre a Dinâmica do Poder, e para terminar o ciclo do Poder com um último post sobre os Efeitos e Consequências do poder.
Nota: Em virtude do próximo artigo ser muito extenso, e por incluir um dos meus assuntos favoritos a Liderança, exigirá a divisão em vários sub-posts para poder explicitar melhor estes conceitos.

Video sobre o Poder



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Referências consultadas:

Les concepts fondamentaux de la psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer
La psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer.
A dinâmica social-violência, poder, mudança - Gustave-Nicolas Fischer Planeta/ISPA, 1980
Gustave-Nicolas Fischer é Professor de Psicologia e Diretor do Laboratório de psicologia na Universidade de Metz.
Raven, B. H. e; Rubin, J. Z. (1976). Social psychology: People in groups
French, J. R. P., e; Raven, B. H. (1959). The bases of social Power. In D. Cartwright (Ed.),Studies in social Power. Ann Arbor, Castel, R. As metamorfoses da questão social. Vozes, 1998.
Moscovici, S. (1976).Social influence and social change. London: Academic Press.
Michel Foucault, Discipline and Punish: The Birth of the Prison
Festinger, L. (1954). A theory of social comparison processes.
Human Relations
Dahl, R.A. (1957). The Concept of Power,
Giddens, Anthony, Capitalism and Modern Social Theory: An Analysis of the Writings of Marx, Durkheim and Max Weber, 1971.
Grabb, Edward G., Theories of Social Inequality: Classical and Contemporary Perspectives,1990.
Weber, Max, Economy and Society: An Outline of Interpretive Sociology, 1968.

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wow charlie, excellent post, tha nature, in general: the world is one sistem of power and life.

Thanks, much more to come about power and leadership.

O poder pode ser exercido de várias formas e todos nós, de uma ou de outra forma, somos influenciados por ele. Gostei muito do seu aprofundamento relativamente a este assunto! Parabéns, @charlie777pt !!

Muito obrigado pelo comentário e cumprimentos.
Estes artigos são para despertar as consciências para estes assuntos que nunca foram tão inportantes como nesta época.

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