Relatos Enteógenos - 02 - San Pedro (Trichocereus Pachanoi)

in #pt6 years ago (edited)

ATENÇÃO - O ponto de vista aqui expresso é opinião pessoal do autor e não tem qualquer intento de servir como base para estudo das substâncias, muito menos de servir como encorajador de experimentos independentes. As substâncias alteradoras da consciência são muito pouco estudadas ainda e não devem ser utilizadas sem conhecimento profundo ou acompanhamento especializado.

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Hoje vou contar para vocês a respeito de minha experiência com Mescalina, mais especificamente com um cacto conhecido popularmente como San Pedro. Seu nome oficial é Trichocereus Pachanoi. Existe ainda um cacto irmão conhecido como Wachuma (Trichocereus Peruvianus) e normalmente os dois nomes irão se confundir ao aprofundar-se a pesquisa, mas ambos levam para o mesmo caminho, uma experiência enteógena que pode ou não mudar sua vida, dependendo do que busca, como busca e onde irá parar.

Meu primeiro contato com o conceito de cacto alucinógeno foi (pra variar) com o mesmo escritor que comentei no relato passado, Castaneda buscava uma experiência com Peyote em suas pesquisas antropológicas, acabou supostamente conseguindo muito mais que isso. Depois que se entra no mundo da pesquisa etnobotânica você acaba caindo num mundo paralelo, inclusive de cultivadores de plantas psicoativas. Acabei por ganhar um peyote de presente, um filhote. O Peyote (ou Lophora williamsii, para quem preferir) é um botão único, uma pequena bola na terra, porém considerado o cactus com maior teor de mescalina. Mescalina é o princípio ativo destes cactos, tal como a Psilocibina já descrita no relato anterior e todos os outros que irei descrever ainda, foi utilizada durante centenas (ou seriam milhares?) de anos por povos tradicionais em rituais sempre religiosos e com total seriedade. Raramente a experiência enteógena tem nestas culturas oficiais um uso floreado de desejo de "viajar", normalmente são tidos como remédios sérios e poderosos, coisa que não se brinca. Os curandeiros xamãs, mestres no uso do peyote o consideram uma entidade não necessariamente benéfica que ajuda o homem, seu modus operandi está mais para a visão taoista de mundo, onde um tigre pode ser bonito, mas ele pode te matar. Nunca cheguei a utilizar aquele pequeno peyote, ele leva anos e anos para desenvolver, e alguma coisa deu errado em sua vida (provavelmente o clima de minha região), ele acabou morrendo.

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[Uma experiência real dentro dos preceitos do xamanismo peruano? Não saberemos, hoje em dia existem rotas turisticas especialmente para quem quer vivenciar experiências enteógenas, seja mescalina, ayahuasca, ou o que for]

Nesse meio tempo tive a oportunidade de cultivar e multiplicar (cacto é o ser mais fácil da terra para se cuidar, além de precisar de pouquíssima água, se você corta 1 em duas partes, as duas viram novos cactos e assim vai) meus San Pedro e Wachuma. Já cheguei a ter mais de 10 cactos dessas variedades (além de todos os outros não psicoativos), simplesmente por que sou compulsivo em cultivar plantas, tanto na terra quanto em vasos. Pois bem, em determinado momento da vida aprendi a respeito de seu uso tradicional, estudei a visão de uso dos índios e também o uso contemporâneo nas mãos de pesquisadores independentes, cientistas e psiconautas.

Seu uso oficial consiste em preparar o cacto, no caso, sua polpa interna logo após a casca onde se concentra a mescalina, é feita uma calda grossa, apurada no fogo por horas e horas até se tornar praticamente um mingau verde. Depois de ler inúmeros relatos da dificuldade absurda em tomar aquele mingau verde com sabor de cacto resolvi por experimentar um outro método, uma versão amenizada (mas nem tanto) para os jovens frágeis que não são guerreiros xamãs... Como era meu caso, um simples pele branca em busca de uma visão de mundo atualizada e expandida. O preparo simplificado era de misturar o pó fino do cacto já seco e desidratado direto em um copo de água e tomar com tudo, antes que ele começasse a ganhar firmeza e virasse aquela geleia verde.

A sensação era claramente de estar tomando saliva de dinossauro. O sabor era como um coquetel de arbustos, cactos, plantas aleatórias pegas no meio do mato. A vontade de vomitar ao sentir aquela coisa viscosa descendo pela garganta era absurda e ali você começava a se perguntar: -O que estou fazendo afinal de contas? Sou corajoso de tomar isso ou sou um retardado?
Mas a pessoa que chega até ali tem um intento, tem um motivo para essa busca tão sincera e severa. Pra se chegar ao pote de ouro tem de se passar pelos caminhos estreitos (lembrem-se da jornada do herói). Era eu e meu companheiro de experiências Albert, tomando o San Pedro. Havíamos nos programado para tomar logo depois do almoço (uma alimentação leve e suave para não causar maiores estresses gástricos) e ficaríamos pelo quintal da casa onde eu morava, um quintal grande e cheio de árvores altas.

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Era mais ou menos 11:50 da manhã quando eu e Welington colocamos aquele pó esverdeado nos copos. Uma colher cheia para cada um. Primeiro, seguindo os conselhos de um amigo, tentamos comer com iogurte um pouco dele...

Nojento, mas não horrível. Resolvi tomar todo o restante com água mesmo, misturei o pó na água gelada e mexi bem. Logo aquilo ganhou consistência de um catarro verde grudento e espesso. O gosto não era tããão horrível, mas o que complicava era realmente a viscosidade do liquido. Quando começava a descer pela garganta dava um ânsia danada. Welingotn vomitou um pouco, não aguentava tomar, resolvi então pegar o restante do pó dele e colocar em cápsulas, assim a ingestão seria mais fácil. Depois outro amigo, Albert chegou e tomou também a mesma quantia 1 colher. Metade liquido e metade capsulas também.

Foi tudo muito sutil. Enquanto meu estômago se revirava com aquela gosma toda dentro dele, eu estava deitado no sofá esperando um dos amigos que havia saído. Nesse instante começou a me passar coisas pela cabeça, idéias um pouco confusas e parecia que havia uma levíssima aura em volta dos objetos, isso foi mais ou menos meia hora depois de tomar.Depois levei um colchão pro lado de fora, deitamos no quinta observando o céu. As nuvens dançavam...

Até esse momento as coisas estavam acontecendo lentamente, e eu só sentia a vontade eminente de sentir o mundo, aquele colchão estava me deixando angustiado. Quando já estávamos num grau acima, fomos deitar na terra, Welington preferiu ficar na rede. Era impensável ir para dentro de casa... fora de qualquer possibilidade. Havia um magnetismo, uma relação profunda com permanecer naquele quintal para aquela vivência. Estávamos sem camisa, e descalços, não demorou muito pra nos deitarmos na terra e sentirmos a energia de tudo aquilo pulsando. A partir dai as coisas tornam-se complexamente inexplicáveis.

A cada fração de segundos vinham insights incríveis, profundos e maravilhosos na mente, parecia que havia um filósofo espiritual da natureza sussurrando milhares de coisas em nossas mentes. Era fechar os olhos e um novo aprendizado surgia automaticamente, não existia duvida.. aquilo não era "pira de chapado", havia uma lucidez que não se vê no dia a dia, enquanto se vive a vida. Aquilo era profundo... vinha como um flash para dentro.. e em poucos segundos eu olhava para meu amigo pra contar pra ele, ele já estava olhando pra mim, e sabíamos que pensamos as mesmas coisas, poucas foram as vezes que precisamos mexer a boca. Meu outro amigo na rede estava num insight muito profundo e nem consegui falar com ele direito.

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Tive percepções incríveis com o mundo e com a vida... e 90% do papo com meu amigo, acabava no assunto: "a relação do homem com a natureza". O interessante é que na cerca ao lado onde estávamos havia uma pichação que minha namorada fez escrito "Isso não é real". Entramos numa profunda introspecção sobre aquilo tudo. E como os humanos tentam moldar a vida...

Percebi o quanto somos desrespeitosos com o todo que nos envolve. Aí lembrei que eu já cortei uma árvore.. um mamoeiro que ficava perto de minha horta. Me senti muito mal por isso, meu amigo ficou indignado tentando entender porque eu o cortei.. me senti mal e fui lá "pedir desculpas" para ele, sentei do lado dele, mas ele não estava morto, no buraco do tronco eu joguei terra e nasceram plantas ali, além disso a vida dele brotou por todos os galhos.. mesmo eu tendo cortado ele nasceu mais forte e com mais galhos. O toquei, conversei com ele, senti... percebi o mundo que havia ali.. e ele me ensinou muito.. me deu verdadeiras lições de vida. A respeito dessa força imanente, da persistência da vida diante de todo tipo de dificuldades, da natureza do ser vivo que é permanecer vivo aconteça o que acontecer e da resignação de ser apenas um toco de árvore re-brotando do zero e ainda assim, continuamente.

Durante a experiência um mantra constante dava o tom da experiência: A certeza plena de que só devíamos comer o que é natural, o que é da terra, da natureza, a terra não nos deixa com carência de nada, tudo brota dela...

Senti uma fome nesse momento pois havia comido muito pouco, busquei uma maçã e enquanto comia ela ficava pensando em tantos planos que tinha, de ter uma vida mais ligada a natureza, experienciar o conceito de eco vila, ter as próprias hortas, etc. Tive realmente uma séria conversa com a energia da natureza. Só que não tem como explicar, era tão profundo... realmente profundo... vinha de forma mística para dentro de nós esses ensinamentos. E não era nenhum pouco difícil ou confuso de entender. Aquilo chegava e ficava. Diferente de vários enteógenos. Não ficou nenhuma duvida ou sensação de delírio. Era lúcido, incrível, profundo, verdadeiro e totalmente positivo.

A experiência inteira automaticamente se conduzia para o lado bom. Não tinha como virar bad. O que ajudou muito foi ficar deitado lá trás.. sem duvidas. Já era 6 da tarde quando começamos a lembrar que havia aquele outro mundo, totalmente corrompido, humano, hipócrita e ofensivo para voltar. Mas não estávamos angustiados ou depressivos, sabíamos agora o caminho a seguir. Já no interior da casa, minha mente continuava em outras camadas de realidade. Quando me vi no espelho, sem querer me hipnotizei lá e permaneci uns 10 minutos observando meu corpo carnal. O complicado é que eu tinha que arrumar a casa, coloquei uma musica legal. Enquanto limpava a casa fui assimilando tudo e organizando a mente.

É como se alguém agitasse minha cabeça e mudasse todas as engrenagens do lugar, mas elas não ficaram soltas, só mudaram de posicionamento.. funcionavam ainda melhor. E para terminar a noite/dia perfeito, assistimos o filme "Into the Wild" Na Natureza Selvagem. Esse filme abalou por fim todas as estruturas que o San Pedro já havia abalado, só que de forma mais coesa ainda. Era tudo o que eu precisava pra dizer enfim que meu dia foi uma transformação incrível em minha vida, sem duvidas nunca mais serei o mesmo depois dessa. Muitas certezas na mente.

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Finalizo o relato indicando um filme nada sério a respeito do assunto, mas que dá uma ideia da cultura jovem pós moderna procurando uma experiência transcendental: Cristal Fairy e o Cactos Mágico. É uma "pós-comédia" meio bizarra e independente, algumas cenas ótimas, outras mais ou menos, mas vale pela curiosa saga em busca de um cacto enteógeno.

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Fontes
Foto 01
Foto 02
Foto 03
Foto 04

Obrigado por ler! :)


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Sort:  

interessante.

Obrigado por ler :)

Welcome to our The Healing Tree Retreats Center https://healingtreeretreats.com

Perdão pela palavra, mas que "doideira" hahaha
Eu não sei se teria tanta coragem assim :P

A sensação era claramente de estar tomando saliva de dinossauro.

Fiquei imaginando isso... Como assim? kkkkkk

Me diz uma coisa @thomashblum, qual o risco de experimentar coisas assim? Mesmo com todo estudo e cuidado que tiveram (eu acho)?

Fala amigo. Olha, mesmo sendo considerado uma substância segura e utilizada por muitos séculos, hoje eu não usaria provavelmente. Principalmente por que não é mais meu foco, estou apenas trazendo tudo isso aqui para não se perder na areia do tempo. Registrando na blockchain. Mas também não usaria por que de fato hoje com uma visão mais cética e cuidadosa, sei que é possível que algumas substâncias desencadeiem crises psicológicas nada agradáveis, logo logo irei fazer uma postagem especialmente sobre isso. Sobre os riscos, mesmo que estejamos falando de substâncias seguras e positivas. Caso não tenha lido, aconselho a dar uma olhada na introdução ao tema que eu fiz, e tem também o relato de psilocybe cubensis. Naturalmente existem experiências mais seguras e outras mais complexas que exigem um cuidado especial, mas quando se fala nesse tipo de jornada, estamos falando a respeito de uma linha de pesquisa nenhum pouco exata com medições científicas, por que infelizmente elas esbarram nas limitações da lei e da cultura.

Como sempre, fico muito interessado nos seus relatos. Digamos que você muitas vezes já serviu como "meus olhos" para esse mundo com qual não tenho contato direto hahahaha
Pareceu uma boa experiência. De certa forma, uma coisa leve e tranquila, como se tivesse vindo pra te levar a um contato mais profundo com a natureza (ou a alma do mundo) mesmo.
Obrigado por compartilhar conosco!

Sim, meu amigo, foi sem dúvidas uma relação estreita com o sussurro da natureza, algo que eu naquela época tinha vivenciado muito pouco, posso afirmar que essa experiência foi uma das que me levou a ser quem sou hoje, no quesito relação com a natureza. E com isso não quero dizer que é assim que se faz, mas que para mim, serviu como porta de entrada para a relação com a "mãe terra". Na época teve grande influência em minha decisão de se tornar vegetariano também além de várias outras coisas, mas além das camadas mais esperadas, mexeu com meus conceitos de relação do homem com o planeta. Não foi definitivamente uma experiência assustadora e incontrolada de psicodelia, foi muito mais um "estar em um lugal calma (mental) e ter alguém ajudando a encontrar os livros certos dentro da biblioteca da própria alma".

Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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Confira aqui no Discutindo saúde no Brazilians o seu post selecionado no projeto saúde @brazilians. Obrigado pelo conteúdo.

Cara, que relato!
Mas confesso que dei uma risada insana da "saliva de dinossauro".
E confesso também que fiquei muito interessado nesse cacto mas vai ficar só na curiosidade mesmo. haha

Não foi fácil! hahahah! Tem que ter estômago forte.
É uma experiência poderosa de transformação, mas não creio que seja necessária para todos, tem gente que alcança o mesmo simplesmente pelo vivenciar do dia a dia. Vai da mente de cada um :)

Mais uma vez, que post precioso!
Meu primeiro contato com a mescalina foi a sintética, tomei em casa e foi altamente sinestésica: vi o som com cores, as cores com sabor, uma alegria e paz gigantes tomaram conta de mim. Ficamos trocando ideia horas e determinado momento resolvemos pintar a parede de casa com tinta guache e colheres... uma explosão de cores!!
Depois tive contato com ele em pó, mas não senti muita coisa. Tomamos 2 colheres cada um (e realmente a textura era tensa de encarar) mas não sei o que aconteceu que não abriu nada, uma leve euforia por um breve tempo e só.
Quando fui a Bolivia conheci uns xamãs que trabalhavam com san pedro, mas era um preparo que nunca tinha visto: parecia um doce de banana. Era uma massa marrom, como se fosse uma goma dura, mas que você conseguia tirar pedaços dela e ingerir. Tinha gosto de terra e agia aos poucos ao se diluir no estomago. Ai sim eu consegui entender a força do mescal, a conexão com a Terra e a sustentação necessária para ser um agente terrestre da natureza. Pq muito do que vi foi bem o que você descreveu: Tudo tem vida, tudo tem energia, conversei comas plantas, as pedras, com o céu, com o vento, foi muito forte. E depois manter essa consciência voltando ao "reino humano" precisa de muita sustentação.
Gosto muito dessa série, vai me recordando de muita coisa boa.
Forte abraço!

Maravilha, cara! Sei bem como é esse prazer de pintar as paredes estando sob efeitos de psicoativos, é incrível. Certa vez pintei uma cômoda depois de tomar cogumelos, uma pequenina dose. Foi uma tarde de arte, prazer e paz. Indescritível. A cômoda ficou vangoghiana. hahah.
Interessantíssimo esse seu relato do doce de san pedro, fiquei fascinado! Não havia ouvido nada a respeito até hoje, imagina se fosse hoje, em tempos de steemit, você podia fazer um puta artigo xD
Mas seu relato já vale muito! bem interessante. Eu sei que eles apuram bastante como um caldo grosso, mas não imaginava tão sólido. Mas certamente você pode captar o potencial de conexão que o mescal tem capacidade de alcançar! Muito legal! Valeu por comentar e relatar! Abraço

Seus relatos são incríveis! Gosto muito desse quadro. Guardo os links! kkkk
É um processo muito complexo, tenho muita curiosidade de entender os efeitos bioquímicos, cheguei a ler o que me passou, mas ainda é longe do que gostaria de entender. Até medicações que usamos, ainda não estão perto de serem entendidas bioquimicamente na especificidade que eu gostaria, por mais que já seja medicações bem estudadas, ainda falta um pouco dessa tecnologia, também não estamos longe. E fico triste de substancias como essas não serem estudadas. Você chegou falar dos relatos enquanto em uso das substancias, você utiliza eles na confecção dos post? ou por lembranças?

Talvez eu não tenha com clareza uma noção do que exatamente você procura em termos de estudo dos efeitos, poderia ser mais claro? Quem sabe existam sim pesquisas a respeito na parte neuro e bioquímica, só pesquisar melhor. Agora, sobre os relatos, a parte do relato em si eu tenho guardado uma espécie de diário no computador com mais de cinquenta relatos da época, sempre escrevia logo após a experiência. A introdução ao tema e descrições das experiências eu faço pelo conhecimento prático e teórico que tenho, mas jamais sob efeito de qualquer coisa, hehe, primeiro, porque seria impossível, uma experiência enteógena é intensa demais para que você consiga ficar sentado escrevendo um texto elaborado. E um momento de introspecção e desligamento dos hábitos cotidianos. O intelecto é utilizado nas experiências mas de forma diferente, para dentro e não para fora. Outro motivo é que não tenho tentado experiências enteógenas há muitos anos, não pelo menos nesse nível e com esse tipo de substância. Obrigado por ler e comentar, amigo. Essa semana próxima público mais um.

Me expressei errado. Era para perguntar se você tinha relatos dos momentos em que estava usando, ou logo apos utiliza-los, e utilizava esses relatos da confecção do post. Como se vc usa o diário para escrever? ou é da lembrança que você guarda da experiencia? Essa parte bioquímica é complicada, nosso cérebro tem muitos locais de ação diferentes, e as substancias em geral agem em locais além do que deveriam, a procura da biomedicina, é que locais cada vez mais específicos, isso traria menos efeitos colaterais. Porem no corpo todo temos receptores, e no próprio cérebro. Tem droga(em geral) que age como agonista do receptor, tem algumas que são antagonistas, tem algumas que aumentam a quantidade do neurotransmissor na fenda, antagonizando o inibidor do receptor, tem outras a que agem na cascata de eventos bioquímicos que irão originar o impulso neuronal, tem que vão fazer mais de uma ação, ou agir em receptores diferentes mas que geneticamente se assemelham. Por exemplo o sertralina é um inibidor da receptação da serotonina, o aumento da serotonina remodula a fenda, aumentando a quantidade de receptores com o tempo, é uma droga mais seletiva, porem ainda muitos não se adaptam, é uma droga muito boa na teoria e na prática, veio como um inibidor mais seletivo, porem com mais estudos e tecnologia, ela nao é tao seletiva quanto se pensava, tem estudos que mostram interação com plaquetas, outros com receptores cerebrais adrenérgicos (alfa 1, alfa 2 e beta), colinérgicos, GABA, dopaminérgicos, histaminérgicos, serotoninérgicos (5HT1A, 5HT1B, 5HT2) ou benzodiazepínicos. E talvez não seja somente isso, ainda devemos descobrir mais interações, que na teoria serão importantes talvez para refinamento da molécula, na pratica ela funciona plenamente, da forma que deve ser indicada, e dependendo da dose alvo, biologia da pessoa, qual objetivo do tratamento. O objetivo é sempre que a droga aja no local espeficico que deve agir, quanto mais seletivo em algumas clinicas melhores, enquanto outros nao precisam ser tao seletivos como a duloxetina que já tem um perfil mais seletivo em relação a interação o neurotransmissor serotonina, e também nos receptores noradrenérgicos, não sendo tao seletiva ao receptor especifico, mas por ter esse perfil acaba sendo útil em pacientes que tem dor associada ao transtorno depressivo, como fibromialgia. Porem ainda é uma medicacao mais nova, e temos que ser críticos com ela, na pratica não vi muita diferença, costumo esperar mais estudos para usar mais uma medicação, quanto mais estudos melhor, e não a medicação por ser mais nova, muitas vezes saem estudos mostrando que não é tao seletiva quanto se descreveu inicialmente, muda o perfil de uso, tem novas indicações, ou tem menos, por vezes suspende o uso. Saiu uma blockchain acho que Nano que fará um pouco dessa avaliação, nos somos seres muito complexos, o micro do micro tem uma repercussão imensa, é como se olhássemos do espaço o ser humano, ou como micro-organismos aos nossos olhos, caminhamos muito, mas ainda há muito a ser caminhado.

Entendi! Então, como expliquei, sempre escrevia relatos logo após o uso, algumas vezes até tentei escrever durante a experiência mas não tinha como se manter numa linha prática de raciocínio comum. Então, quando eu "voltava", tão cedo quanto possívle fazia o relato detalhado de emoções, sensações e aprendizados que recebia, ainda que sempre muito sintéticos, resumidos e mal elaborados. Hoje em dia, ao re-escrever este conteúdo eu estou me utilizando da memória para com as experiências da época juntamente com a leitura dos relatos antigos e também me baseando num arcabouço de informações conhecidas a respeito da substância.
Entendi ainda que de forma limitada sua explicação sobre os mecanismos das substâncias, e compreendo a complexidade com que lidamos para tentar entender o funcionamento delas em nosso corpo. Tive boas conversas com um psicólogo aqui de minha cidade e ele me mostrou de forma clara a respeito dessas questões de como funcionam os antidepressivos. Tive a "oportunidade" de experimentar um tratamento de curto prazo (6 meses) de Venlafaxina, foi de grande importância para minha saúde mental em determinada fase da vida, porém o maldito efeito da sudorese imensa me fez decidir interromper o tratamento, estava se tornando insuportável mesmo, exagerado, fora do normal. No mais, posso dizer que nunca me senti tão bem, tão sintonizado e tão dentro do que deve ser "se sentir normal". Tudo melhorou com ela, menos o desejo sexual, haha.
Depois de uma retirada muito, muito difícil, tentei a sertralina, mas foi 3 dias de enxaqueca destruidora. Larguei mão e decidi enfrentar a vida como vinha enfrentando antes da psiquiatria, hehe. Mas tenho um real interesse e carinho pela medicina psiquiátrica, acho que é de uma ajuda incrível para nós.
Ah, tentei encontrar algo mais aprofundado a respeito do funcionamento da psilocibina na cabeça, dá uma olhada se isso ajuda, é bem mais detalhado e específico:
http://rsif.royalsocietypublishing.org/content/11/101/20140873

Tem esse tambem, pelo Sci-hub, se não abrir me avise que dou um jeito:
https://sci-hub.tw/10.1016/0378-8741(94)90006-X

e por fim, esse: Farmacologia da psilocibina
http://www.maps.org/research-archive/w3pb/2002/2002_Passie_22704_1.pdf

Veja que estou falando sobre a psilocibina e não a mescalina (que seria deste post) por que ela, como lhe falei, hoje é considerada a principal substância a ser estudada com menos preconceito.

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