Pausa para um retiro existencial

Se você, assim como eu mora em uma cidade do interior, longe do litoral, provavelmente só vê o mar uma vez por ano e olha lá. Assim é para mim. E ainda que muitos anos não pude nem mesmo cumprir esse ritual tão restrito e importante, sinto-me abençoado pelo cosmo quando me ponho em frente aquele vasto horizonte, sentindo a brisa intensa bater no rosto e esperar aquela primeira marola tocar meus dedos do pé como uma recepção sutil e ancestral, fundamental. Poucas coisas me são tão sérias quanto o contato real e lúcido com a natureza, a pura natureza. Estar então ali cara a cara com o oceano é para mim um momento de comunhão. Único, por mais que se repita, sempre é único. E como todo bom ser de poder (gosto de pensar no oceano como um ser, um grande ser, quem sabe como o oceano do livro Solaris), estar em sua presença gera não só respeito mas uma grande quantidade de insights, de mergulhos em si mesmo. Gosto de pensar nessa ida ao mar, que muitos vêem como só diversão como sendo um momento praticamente religioso, mesmo hoje em dia eu não tendo religião, não tenho dúvidas do tamanho do poder da natureza e da energia que essa pode emanar e ela é para mim o contato mais próximo que posso ter com qualquer entidade suprema.

Em resumo, mergulhar nas águas salgadas desse grande pai dos seres vivos de nosso planeta, é para mim um processo de purificação, um lembrete de meu rumo e meus objetivos nessa terra.

Felizmente esse ano terei a oportunidade de ir novamente em encontro a esse momento tão esperado, e novamente, assim como ano passado, com minha filha e minha esposa. Será a segunda ida de Clarice ao litoral e agora mais lúcida, com seus dois anos e seis meses certamente terá uma experiência poderosa de prazer e alegria em brincar na beira do mar, juntar conchinhas de manhã cedo, fazer castelinhos de areia e chorar pra comprarmos sorvete pra ela.

Serão cinco dias de desconexão aqui dessa rede que virou meu habitat e de certa forma, da internet inteira, com exceção do telegram e whats quem sabe, por que ninguém é de ferro. Talvez eu não abra o Blockfolio pra ter uma surpresa mais interessante ao voltar. Mas irei dedicar o tempo a essa experiência de viagem mesmo e também para leitura e desenho também, duas atividades que estão em defasagem.

Esses cinco dias de distância e de contato com o meu próprio ser servirão também para aquela organização definitiva sobre as metas desse ano e um auto-enfrentamento com meu eu para largar mão de corpo mole e botar a vida pra funcionar de vez. Estou me pressionando com tudo isso? Não, são experiências que sei que fazem parte desse momento e farei bom uso delas. Mas claro, a vida não é só essa poesia tão fácil de escrever, na verdade ela é bem pouco poesia, é muito mais sol ardido na cabeça, criança chorando por que quer balão da peppa, água viva queimando as pernas e chuva atrapalhando a ida na praia. Mas o tesão da vida é exatamente dançar entre a paz de espírito e o caos do inferno, hue hue!

Acredito que muitos aqui, assim como eu, tem esse amor pelo mar e por essa relação de contato profundo com a natureza, mas dedico esse post em especial ao amigo @manandezo por que sei que a relação dele com o mundo é bem parecida com a minha! :)

Fonte das imagens

E para terminar deixo aqui uma música poderosa do grande Walter Franco que representa muito bem essa sensação indescritível de flertar o mar