Psicologizando… | O Papel da Fala – Leitura Bibliográfica (I)

Nesta série de artigos, irei analisar o livro de Alexander Luria The Role of Speech in the Regulation of Normal and Abnormal Behaviour (O Papel da Fala na Regulação do Comportamento Normal e Anormal), publicado em 1961.

Logo no Prefácio, Luria afirma que o livro é uma análise do desenvolvimento do papel regulador do sistema verbal na ontogénese - evolução do indivíduo - e da sua perturbação sob várias condições mentais patológicas.

Luria irá depois falar sobre o desenvolvimento esperado da fala na criança e que funções esta serve durante fases importantes.

"O papel da comunicação verbal na organização de partes complexas do comportamento tornou-se um modelo à luz do qual se pode traçar com mais clareza a formação de aspetos complexos da atividade psíquica"

No primeiro capítulo, O Papel da Fala na Formação de Processos Mentais, o autor afirma que uma das conquistas da psicologia moderna foi o estudo da origem dos processos mentais - a sua formação e evolução.

O princípio básico da psicologia soviética é a ideia de desenvolvimento: tais atividades mentais - perceção inteligente, memória intencional, atenção ativa e ação deliberada - são o resultado de uma longa evolução do comportamento atual da criança.

Os psicólogos soviéticos são então guiados pela ideia de que a psicologia deve ser "a ciência que estuda a formação dos processos mentais”, e o facto de que a atividade mental da criança é condicionada desde o início pelas suas relações sociais com os adultos é de uma elevada importância.

A experiência humana é passada à criança pelos adultos e manipular esta experiência torna-se a principal forma de desenvolvimento mental desconhecida nos animais.

Por outro lado, os trabalhos de Vygotsky são baseados na ideia de que todas as atividades mentais importantes resultam do desenvolvimento social da criança, no decurso do qual surgem novos sistemas funcionais cujas bases são encontradas nas formas de relação da criança com o mundo dos adultos.

A criança está socialmente ligada à sua mãe por um longo período de tempo. Está ligada, primeiro, direta e emocionalmente, depois mais tarde, através da fala; é neste sentido que a criança melhora a sua experiência e adquire novas formas de comportamento e novas formas de organizar a sua atividade mental.

Ao nomear vários objetos próximos e ao dar instruções e ordens à criança, a mãe está a modelar o seu comportamento (neste aspeto leiam também o artigo Como Melhorar a Atividade Mental).

Depois de adquirir a habilidade da Fala e depois de ter observado atentamente os objetos nomeados pela mãe, a criança começa também ela a nomear ativamente os objetos e a organizar a sua perceção e a sua atenção deliberada.

Assim sendo, a criança aprende como formular os seus próprios desejos e intenções de forma independente, primeiro num discurso externo e depois através da fala interna. Após isso, ela cria formas superiores de memória intencional e de atividade deliberada.

Todas estas formas complexas de atividade mental são primeiramente efetuadas através da fala externa audível; depois transformam-se gradualmente nas principais formas de atividade mental da criança.

Muitos psicólogos negligenciam a origem social destes processos mentais e falham ao interpretar tais fenómenos psicológicos como sendo "propriedades intrínsecas da vida mental", acreditando que estão embutidas nas profundezas da mente e não nas formas externas reais das relações da criança.

Para usar a terminologia de Vygotsky, é essencial estudar o processo no qual as funções anteriormente partilhadas entre duas pessoas, gradualmente se modificam para estruturas funcionais complexas que formam a essência da atividade mental superior humana.

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Referência: Luria, A. R. (1961). The Role of Speech in the Regulation of Normal and Abnormal Behavior. Nova Iorque: Liveright Publishing Corporation.

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Fiquem atentos aos próximos artigos!

Podem também consultar os restantes artigos da série "Psicologizando...":

Neuropsicologia - Como melhorar a nossa atividade mental Parte I | Parte II

A Importância do Brincar Parte I | Parte II

A Psicologia Clínica e o Trabalho com Crianças Parte I | Parte II

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