Psicologizando... | A Psicologia Clínica e o Trabalho com Crianças (II)steemCreated with Sketch.

in #pt6 years ago

Ludoterapia e Habilitação Neuropsicológica

Nas crianças que chegam com problemáticas comportamentais, é feita Ludoterapia.

O Brincar é o principal meio de comunicação da criança. Permite que a criança se expresse, expresse os seus sentimentos e emoções, os seus pensamentos, o seu comportamento.

Se encontrarem um Outro atento, estarão cada vez mais capazes de se mostrar. Depois depende do Psicólogo entender quais são as iniciativas importantes que a criança está a tentar mostrar, e depois ser contingente - mostrar um comportamento semelhante - em resposta a essa iniciativa.


Nos casos de Autismo, a criança desistiu de emitir iniciativas pois os pais não conseguiram entender esses comportamentos - o simples sorriso, o choro, o mandar objetos ao chão, são tudo iniciativas.

Estão a chamar alguém que lhes responda com as formas mais primitivas que têm. Precisam dessa comunicação básica para se sentirem seguros e protegidos, para sentirem que são parte de um grupo de humanos cuidadosos.

E precisam dessa comunicação para organizarem a sua mente caótica cheia de estímulos. Se isso não acontecer, se ninguém responder ou não responder no tempo adequado, a criança começa a fechar-se no seu próprio mundo caótico, começa a desistir de emitir iniciativas.

O trabalho do Psicólogo aqui terá que ser bastante atento: as crianças autistas lançam poucas iniciativas ou iniciativas impercetíveis. Tudo o que acontece em gabinete terá que ser espelhado pelo técnico e entendido como iniciativa. Com o tempo, começamos a entrar no mundo próprio do autista e este começa a percecionar que alguém está a tentar comunicar com ele.

Com o tempo, começam ambos a partilhar um meio de comunicação que só os dois conseguem entender e só depois de muito mais tempo irá o autista entender que podemos partilhar outro tipo de comunicação com o meio exterior. Só neste momento irá a criança sentir-se como parte daquela comunidade, com uma mente mais organizada e com um mundo próprio menos caótico.


Em casos de Hiperatividade, as iniciativas vêm quase todas ao mesmo tempo porque a dificuldade principal é que a criança não sabe a que iniciativas irão os outros estar atentos, então está continuamente a lançar iniciativas.

Estas iniciativas são sob a forma de atividade extrema: dificuldade em estar sentado por mais de 2 minutos, dificuldade em permanecer na mesma tarefa por algum tempo, constantemente a mudar de atividade, constantemente a falar sobre os mais variados assuntos...

O Psicólogo aqui terá que ser capaz de se manter focado nas iniciativas principais para a criança.

No início será uma tarefa árdua e cansativa, mas com o decorrer das sessões, o técnico será capaz de se focar naquelas iniciativas em que a criança começa a demorar um pouco mais de tempo.

E depois a criança começa a perceber que o Psicólogo está a prestar atenção a essas ações, então entende que há alguém a seguir a sua comunicação. Ambos irão continuar com este tipo de comunicação até que a criança seja capaz de controlar o seu comportamento de uma forma mais coerente.


Em casos de Desafio e Oposição, as iniciativas são um pouco mais elaboradas porque normalmente já fazem parte do processo de desenvolvimento do adolescente. Aqui, as iniciativas serão: falta de respeito para com os outros ou com as coisas dos outros, arrogância, zanga, raiva, que podem ser demonstradas de forma mais severa nos casos de agressão a colegas ou a professores.

Estas crianças/adolescentes estão a tentar dizer que, apesar de estarem mais crescidos, ainda precisam de limites e afeto. Aqui eles já sabem que tipo de iniciativas os pais prestam atenção - às más. Então irão repetir essas mesmas ações vezes sem conta até que os pais lhes imponham o limite rígido, mas afetivo, que estão a pedir.

Isto é o que também acontece no gabinete do Psicólogo: contêm-se essas ações, todos esses sentimentos fortes, e dá-se os limites necessários para que sintam que é seguro crescer porque irá sempre haver alguém significativo ali presente.


Quando as crianças vêm à terapia com dificuldades escolares, normalmente são enviadas pelos professores. Na maior parte dos casos, após uma avaliação psicológica e neuropsicológica, inicia-se Habilitação Neuropsicológica (outros casos, após a avaliação, revelam-se dificuldades emocionais que estarão a impedir a criança de aprender, então inicia-se Ludoterapia).

Para tal, é necessário prestar muita atenção aos resultados da avaliação para que se possa trabalhar mais especificamente com a função substruturada.

Se for uma dificuldade na Atenção Voluntária, treina-se essa função com exercícios específicos juntamente com as regras básicas da habilitação neuropsicológica:

  • sentados direitos com ambos os pés no chão e os braços em cima da mesa,
  • toda a leitura terá que ser feita com o indicador da mão esquerda a indicar a linha e o indicador da mão direita a indicar a leitura,
  • nenhum erro deve ser aceite, o que quer dizer que só se avança se a tarefa anterior for bem conseguida.

Somente seguindo estas regras, seremos capazes de afirmar que as tarefas estão a re-formar o cérebro da criança. Se for uma questão de dificuldades de Memória, trabalha-se diretamente a Memória juntamente com exercícios para manter a Atenção. Se for uma dificuldade de Leitura e Interpretação, trabalham-se textos com exercícios de interpretação, sempre com exercícios de Atenção. E assim para qualquer função mental.

Brevemente falarei mais sobre a Habilitação Neuropsicológica e a estruturação das Funções Nervosas Superiores!


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Podem ler mais aqui! Todo o conteúdo é produto da minha própria escrita ou da interpretação que faço de artigos científicos e livros. Estejam à vontade para partilhar desde que citem o meu nome!

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Que tema lindo. Amei... fiz 4 anos de psicologia e queria seguir a linha Gestalt mas a vida tomou outros rumos e parei a faculdade mas meu sonho é ser psicóloga, quem sabe! Adorei

Quem sabe sim! :) Na minha opinião não devemos parar de estudar - ler, procurar novos conhecimentos, conversar com outros sobre esse conhecimento, portanto pode ser que um dia volte à psicologia! :)

Excelente trabalho!. Conteúdo de Qualidade .
O jogo é o maior facilitador da aprendizagem e da interação.
Claro que também ajuda o envolvimento e intervenção psico-social no mundo real das pessoas que rodeiam a criança.

O Brincar dentro de um contexto atento à criança é o essencial para o desenvolvimento global do ser humano, o brincar sempre sozinho não dá à criança muito do que ela precisa: os nomes dos objetos à frente da criança, a sua função, o que esses objetos nos podem fazer sentir... É mesmo muito importante estar um outro presente (não a sufocar claro!).

Que post lindo e interessante, @helgapn! E sobre os pais responderem as iniciativas das crianças a tempo, lembrei que várias vezes observo os filhos tentando chamar a atenção dos pais que estão debruçados sobre o celular. Já vi crianças gritam, se esperneiam, se espalham no chão, faz de tudo e a mãe ou pai nem se movem olhando para o celular. Ou dão um celular para o filho ou compram algo para a criança calar a boca. E dessa forma, se a criança tiver algum problema, jamais vai ser observado para se tratado. Chocante...
Obrigada por compartilhar o ótimo conteúdo!

Obrigada eu por ter gostado @cleateles! Realmente nos dias que correm mais e mais pais esquecem-se dos filhos. E depois pressionam-nos para serem excelentes em tudo! Como? Sem o afeto dos pais?! Custa-me também entender, os pais estão cansados, o tempo livre que têm passam-nos à frente de um ecrã, as crianças são obrigadas a estar caladas e quietas porque os pais estão cansados... Muito rapidamente deixam de ser crianças e muito cedo aparecem as problemáticas que citei :( Já pensei em um dia criar uma Escola para Pais! :) Para que eles soubessem como passar toda esta informação teórica para a prática! :)

É uma ideia maravilhosa!!! Uma escola para que os pais lembrem da responsabilidade no desenvolvimento de um filho. Você seria a "Super Nany" dos pais!haha... E eu acredito que tem pais que precisam ao ponto de saber o quanto, pois muito já devem ter desaprendido como educar seus filhos.
Não sei em que poderia ajudar, mas tens meu apoio!
Forte abraço e boa sorte!

A Super Nanny?! :D Mas há sim muitos pais que precisam de umas sessões regulares para tornarem automáticos certos comportamentos como brincar com os filhos e como saber brincar! :) Quem sabe falemos mais sobre isso por aqui! :) Só a partilha já é muito importante! Obrigada @cleateles!

Eu que agradeço a partilha de ótimo conteúdo, @helgapn!

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