Evandro, meu primo endiabrado

Meu primo Evandro era sádico e dominador, e em alguns momentos um verdadeiro demônio. Mas isto nunca me impediu de o amar loucamente. Eu também o achava lindo. Por algum motivo ele sempre pegava mais leve comigo, provavelmente por eu ser a mais nova.

Mesmo assim, em diversos momentos estive a ponto de apanhar, mas nestas horas, Leonardo sempre aparecia como num passe de mágica, e Evandro perdia a coragem de continuar em seu intento.

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Ele sempre era o líder e sua brincadeira favorita, era nos dizer que estávamos em guerra. Que o inimigo estava próximo e que precisávamos nos preparar para enfrentá-lo. Para isto tínhamos que fazer tudo que ele mandasse como parte do nosso treinamento. Éramos seus soldados; eu, as duas meninas mulatas; Tonha e Santa, e Juliano, o irmão mais novo. Em certas ocasiões, também outros primos e primas que apareciam para passar alguns dias na fazenda.

Eu era muito nova, e já neste tempo, comecei a perceber uma estranha característica ou distúrbio da minha personalidade. Por pior que Evandro fosse, quanto mais ele nos maltratava, mais eu gostava dele, e sentia um imenso prazer em assistir a dor, a humilhação e o sofrimento das outras crianças.

Além disto eu ansiava pelo momento de participar, mas quando chegava a minha vez, minhas tarefas sempre eram mais suaves, e os castigos também, ou até mesmo eu era poupada, o que me dava alívio e ao mesmo tempo frustração.

A minha mente consciente sabia perfeitamente que, não raramente, ele passava dos limites, e aquilo era errado e injusto. No entanto outra parte de mim (meu próprio corpo) sentia um imenso jubilo naquela situação, meu coração disparava de emoção, embora eu mesma fosse incapaz de agir desta forma, eu era cúmplice e adorava aquelas brincadeiras.

Lembro-me como tudo começou e de sua voz grossa e autoritária:

— Soldados, vocês são muito moles, precisam ser mais rápidos ou serão capturados facilmente pelo inimigo!

Havia um pequeno campo cercado e uns 50 metros mais adiante, próximo à cerca na outra extremidade, algumas árvores frutíferas. Aquele espaço era onde ficava o maior, mais forte e violento touro da fazenda, conhecido como “Pirílo”. Justamente por ser muito bravo, ele não ficava solto no pasto junto com os outros animais.

A tarefa que nos foi imposta era correr por ali o mais rápido possível, com objetivo de alcançar uma das árvores, subir nela, saindo deste modo do raio de ação das chifradas de Pirílo.

— Vamos ! Corre ! Rápido! Ou vai morrer...

Todos corremos praticamente ao mesmo tempo, mas Tonha e Santa saíram um pouco na frete e o touro, com seus enormes chifres perseguiu em disparada atrás das duas meninas que foram para a esquerda. Isto deu tempo suficiente para eu e Juliano chegarmos em uma goiabeira, que era fácil de subir, e assim o fizemos.

As meninas eram muito rápidas e também conseguiram, Tonha subiu em um abacateiro, e Santa quase levou um chifre na bunda, pois escolheu um pé de jambo que era difícil de escalar. Deu para perceber o movimento da cabeça do animal, passando de raspão, quando ela se atrasou um pouco para galgar os galhos mais altos.

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