Um passeio matinal de outono

Como a temperatura diminuiu bastante nesses dias e havia probabilidade de geada para hoje e para os próximos dias, decidi fazer uma coisa que gosto de fazer nos dias frios: sair caminhar por certos lugares, admirando a natureza, tirando fotos e contemplando a beleza majestosa do inverno. Como já é de hábito, fui a uma espécie de parque pouco frequentado, o Balneário. Esse é um local ermo à beira do Rio Iguaçu e que, apesar de próximo à cidade, parece muito distante, com poucos sons urbanos incomodando a paz que povoa aqueles campos.

Fazia 2°C apenas e uma densa névoa cobria minha cidade. Não havia geado naquele dia. Bom, havia muito pouco em alguns trechos de grama no Balneário, pois as condições não estavam muito favoráveis à formação do fenômeno. Porém, a atmosfera estava do jeito que eu apreciava: fria, úmida e com rajadas de vento que aumentavam a sensação de frio a ponto de ser difícil deixar as mãos fora do bolso. O rio, coberto em misteriosas brumas que impediam ver ao outro lado, bufava um vento gélido que empurrava névoas pelo ar. Um som cortante vinha do seu movimento e era possível ver aquelas pequenas nuvens rasteiras vindas do rio varrendo com umidade o terreno à minha frente e também a minha face.

Por lá eu caminhei bastante. Deixei o carro em uma parte segura e, sozinho naquele imenso terreno preservado, saí apreciar a paisagem. Ouvira de um amigo sobre uma trilha que não conhecíamos até então, uma que se iniciava atrás de um campinho de futebol e levava até o local que apelidamos de lar da Iara. Segui a trilha no meio de uma floresta úmida e cercada de banhados. Aquele local parecia um pouco mais quente que os outros onde havia muito vento. Segui caminhando e não sabia bem qual caminho seguir para sair onde planejava, mas não tive problemas e logo estava cruzando um trecho de plantas amassadas e retornando a algum local já de mim conhecido na beirada do majestoso e caudaloso Rio Iguaçu.

Para minha surpresa, pois não visitava o Balneário já há algumas semanas, o outono reclamara a sua presença na paisagem. Árvores com as folhas todas vermelhas e amarelas haviam coberto o chão dessa folhagem tão outonal. Uma paisagem que, junto à névoa pesada que do rio vinha, tornava-se objeto de contemplação para a alma. Foi Nietzsche que falou uma vez sobre o outono ser mais uma estação da alma do que da natureza. Bom, eu diria que é parte de um ciclo que cativa nosso olhar e prende nossa atenção à renovação da alma do mundo, a alma da natureza em si. Pois, como dissera Sendivogius: Maior autem animae pars extra corpus est (a maior parte da alma está fora do corpo).

Após mais uma caminhada e contemplação daquele lugar tão belo, decidi voltar para casa e dar sequência aos meus afazeres. Retornava com aquelas imagens ainda presentes em mim, pensando na beleza dos ciclos e no que mais esse outono e inverno poderiam oferecer em termos de contemplação e bons momentos.

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