Diarios da Estrada 06 - Passando Noites em Postos de Gasolina

in #pt6 years ago (edited)
Trechos do diário:

Foi escolha minha, queria fazer minha primeira viagem de caminhão as minhas custas. Não deu tão certo. Acabei ficando mais um noite lá. Bom que fiz uma bela fogueira e aprendi muito sobre as Salamandras do Fogo. Fiz queima de vários materiais, inclusive do pó de MDF, que apesar de me falaram que faz uma chama bonita, achei sem sem graça. A borracha de pneu queima bem mas deixa um cheiro terrível. O plastico de garrafa PET derrete antes de queimar, mas a coca cola demora muito para ferver. Demorei 2 horas e meia de pura brasa para derreter uma moeda de 1 real. E aprendi a canção da salamandra, que escrevo abaixo:

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É claro que o fato de estar sob efeito do LSD ajudou e muito em essa noite se tornar prazerosa. Fiquei horas alimentando a fogueira, tive alucinações com as salamandras, de manha a moeda não tinha derretido nada, e ainda no meio da noite fui "visitado" por um transexual de beira de estrada, que fumou um comigo e me contou sua história de vida. Porém não está registrado no meu caderno essa conversa, então realmente não lembro de nada do que ela me falou.

No dia seguinte consegui pegar uma carona com o Sr. Francisco. Um caminhoneiro gente boa, mas muito louco. Ele tinha um caminhão automático novinho e fizemos o trajeto a 130km/h. E durante o caminho ele me mostrou a vantagem de ter um caminhão automatico: poderia dirigir com os pés enquanto bola um baseado ou estica uma carreira. Mas deixou claro que era bem disciplinado: Maconha só de dia e cocaína só de noite, se não podia dar problema. Nunca tinha dormido no volante ou feito nenhuma cagada na estrada, pois sempre foi disciplinado quanto a isso. Ele me levou até Igarapava, mas me deixou num posto do lado errado da estrada.

Não tinha nenhum posto ali perto do lado certo que precisava ir, então acabei passando mais duas noites lá. Conseguia comida no proprio posto naquele esquema de esperar o restaurante fechar, e ficava lendo ou conversando com os outros motoristas. Até que conheci uma hippie chamada Xuxa (ela tinha cabelo loiro e andava de chuquinhas) que me contou seu passado com um companheiro também hippie, que eles caíram na estrada juntos e que depois de um tempo ele abandonou ela longe de casa e ela tem vivido na estrada desde então. Vi que ela estava totalmente desabrigada e convidei ela a dividir a barraca comigo, mas no meio da noite ela tentou me agarrar e eu não estava nada a fim, então ficou um clima estranho na barraca.

No dia seguinte quando acordei ela tinha sumido e eu conferi para ver se não tinha sido assaltado, mas quando sai da barraca ela estava com um café da manha pra mim e conseguiu uma carona até a rodoviária para nós. Falou que nunca ninguém tinha ajudado ela sem querer algo em troca, que o fato de eu oferecer a barraca e só dormir de verdade tocou o coração dela, então ela iria me ajudar a chegar no meu destino. Fomos juntos até a rodoviária e ela mangueou uma passagem de ônibus até Ribeirão Preto pra mim. Na hora da despedida ela chorou e tentou me beijar mais uma vez, porem eu estava numa fase de não trocar energia com ninguém nesse sentido, então só dei um abraço bem apertado nela e segui viagem sozinho, até chegar em Ribeirão Preto.

Lá eu conheci a Patricia, uma moça que estava recomeçando a vida vendendo brigadeiros gourmet aos 51 anos. Abandonou o emprego para se dedicar a família e nunca esteve tão feliz de conseguir se manter só com seus brigadeiros. Conversamos bastante sobre espiritualidade e liberdade, ela me deu um dinheiro e um brigadeiro (que por sinal era delicioso mesmo) e me indicou onde ficaria o posto mais perto. Fui para lá mas era no sentido errado de novo, acabei chegando em Cravinhos, onde tive que passar mais uma noite no posto por não conseguir carona. Ficou uma grande lição de vida: SEMPRE PERGUNTE PRA MAIS DE UMA PESSOA, se não você fica preso

Apesar dos perrengues, tá valendo a pena. Sempre fiz isso. Aprendo pelo mais difícil, pra depois arrebentar no mais fácil. Viajar sozinho tem seu preço, e eu pago ele feliz.

Essa é uma série que envolve minhas viagens pelo Brasil. Encontrei meus diários e resolvi compartilhar eles aqui.

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Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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E amigo eu sei bem como e essa vida... eu sou Uber e vivo pra rua tb... a unica coisa e que eu nunca uso nada para alterar a minha consciencia... mesmo pq hoje em dia posso ir preso. Mas de qqr maneira muito legal o seu post e que Deus te proteja!


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Sim meu amigo, ano passado eu trabalhei de motorista particular e pra dirigir com passageiro precisa estar totalmente consciente e atento! Gratidão por seu comentário! Fica com Deus e forte Abraço!

aeaahaha, esse é o fire!

Que top cara, conheceu pessoas espetaculares! Parabéns!


projeto #ptgram power

Valeu meu amigo!!! Sim, tive muita sorte de conhecer esses figuras na jornada. Esse é um dos riscos de se jogar na estrada, pode-se conhecer os mais diferentes tipos de seres humanos!!! hahahahaha

Tadinha da Xuxa... impressionante como a ajuda vem de quem a gente menos espera!

Pois é, a história dela era de partir o coração. E eu por acolher toda essa dor despertei nela um sentimento que há muito ela não tinha, o respeito pelo ser maravilhoso que ela é. E sim, vivendo na estrada eu descobri que a sincronia do universo acontece de onde menos esperamos.

Owwww só figuras!!! XDDDD

Né não? Eu costumava me chamar de para-raio de figuras,,, hahahaha

Nossinhora!!!! E sem fio terra ainda por cima hauahauahua

Que relato massa, meu amigo! Pequei em não dar atenção aos outros mas já já vou ler direitinho! Muito legal sua experiência, muita coisa para contar realmente! Adorei a cena da moeda que não derreteu, hahah! E a tal xuxa carente, muito massa!

Pô e essa coisa dos motoristas de caminhão, cara, baseado em muitos papos que tive, com várias pessoas, me parece que 90% desses caras são viciados em coca realmente. Já ouvi relatos de motorista com um prato no colo cheio de carreirinhas e que vai cheirando uma depois de tantos km, intercalando isso com aqueles rinosoro de desentupir nariz, e intercalando isso ainda com aqueles vick de passar em volta do nariz hahahah. Pensa na cena frenética.

Sim meu amigo!!! Se não é coca é algum tipo de anfetamina, principalmente o rebite. Todos que eu peguei de carona tinham alguma "técnica" pra cheirar, uns de km, outros de horários e teve um que era toda vez que cruzava com outro caminhão da mesma cor (era branco do dele, então ele cheirava muito mesmo)
E vamo que vamo que tem muita história pela frente! Legal que vc vai acompanhar!
Forte abraço!

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