Diarios da Estrada 05 - Dias em Uberlandia e o Retorno a Estrada

in #pt6 years ago (edited)
Saindo do Festival Samsara comecei a viajar junto da Família Cósmica. Era muito bom estar com esses amigos e bem melhor viajar acompanhado que sozinho. Combinamos uma regra de convivência que era "Todo mundo come, todo mundo dorme" ou seja, cada um tinha sua forma de fazer dinheiro, mas todos contribuiriam para que ninguém ficasse sem comida ou sem ter onde dormir. Se eu fizesse a mais ou a menos que os outros, não passaria necessidade. E foi nessa que percebi que para viver só precisava de 3 coisas: Comida, abrigo e saúde. Todo o resto é secundário, dá pra viver muito bem se você tiver garantido o que comer e onde dormir.

Eramos em 8 pessoas, 5 caras e 3 minas, sendo eu e mais 2 malabaristas e o resto artesãos. Logo o pessoal tinha que ir a algum lugar para vender os artesanatos e resolvemos passar o dia no campus da UFU (Universidade Federal de Uberlandia). Enquanto o pessoal abria o pano (expressão usada pelos artesões quando vão colocar seus trabalhos a mostra) eu cai para um sinal fazer malabares. Não foi muito bom, mas consegui um montante que pagaria a minha refeição e mais 2, então no geral conseguiria cumprir o combinado. Porém passei na frente de um restaurante fechando e senti de dar uma ideia no lugar, realizando o famoso mangueio (Manguear é a expressão usada para se conseguir as coisas na base da conversa, muitas vezes dinheiro ou comida) Mangueei um tempo no restaurante e consegui 8 marmitas, já que o restaurante estava fechando e a comida seria posto fora. E ficou o ensinamento que o melhor horário do manguei de rango é com o restaurante fechando.

Voltei para o campus, distribui as marmitas e todo mundo ficou feliz demais. Sempre bom poder guardar dinheiro para o dia seguinte, já que nunca se sabe o que vai acontecer. Fiquei sabendo também que um dos alunos nos ofereceu sua republica para passarmos a noite, então já estava tudo acertado, comida e abrigo. Pegamos todos nosso dinheiro e compramos em cerveja e fizemos uma festa na republica. Afinal, quem precisa guardar dinheiro quando se pode ganhar facilmente no dia seguinte? Viramos a noite regada a cerveja e outros entorpecentes, e no dia seguinte voltamos a UFU para fazer mais dinheiro. Nesse dia se uniram mais dois viajantes a nossa turma, mas eu percebi que eles tinham um trabalho um pouco diferente do nosso. Eles abriam o pano mas não vendiam nada, porem acabaram o dia com bastante dinheiro. Claro que isso despertou minha curiosidade, pois ganhar dinheiro sem fazer nada me pareceu uma boa ideia.

Como eles eram recém chegados, não tive a manha de perguntar na cara qual era o esquema, resolvi esperar pegar mais intimidade com eles. Após pegar as marmitas de novo, voltamos para a republica e fizemos outra festa, mas dessa vez tomamos vários ácidos que esses novos integrantes tinham e estavam distribuindo. Isso me fez entender um pouco de onde vinha esse dinheiro fácil...

Nessa noite eu me apaixonei por uma integrante da Família, e até me inspirei num poema a ela. Percebi que ela sempre se dizia invisível no role, que ninguém reparava nela, então escrevi esse poema:

Invisível é o ar que respiro
Invisível é o calor da brasa
Invisíveis são as veias da terra
Invisível é a cor da água

Invisível é a essência do ser
Invisível é a presença do amor
Invisível é a energia dos olhos
Invisível é a saudade e a dor

Invisível é a força que rege nossas vidas
A teia que liga todos os seres
A magia que existe na arte dos encontros
A luz que une todos os saberes

Você se diz invisível
Então tudo que me toca
Me lembra você

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É claro que eu nunca entreguei esse poema a ela, e que esse amor foi totalmente platônico. Mas mesmo assim foi divertido cultivar o sentimento por um tempo, até ele se tornar fraterno. No dia seguinte voltamos a estrada, precisávamos descer até o Rio Grande do Sul para os próximos festivais, tínhamos algumas semanas pra ir de carona. Alguns alunos nos deram carona até um posto na beira da estrada, onde nos dividimos em duplas para pegar a carona. Eu acabei ficando com o mesmo amigo que foi pro rio comigo, enquanto os outros formaram casais. Cada caminhão que parava um dupla subia, até que chegou a minha vez. Só que nesse momento eu estava cansado desse amigo e senti que minha sincronia era viajar sozinho um tempo, então desfiz a dupla e mandei o amigo sozinho. O pessoal entendeu minha posição e no fim ficou comprovado que foi uma boa ideia: o amigo resolveu voltar para o rio de janeiro e não seguir viagem com a gente, então foi bom pra todo mundo. Todas as outras duplas conseguiram carona até que fiquei eu e esses novos integrantes. Quando eles conseguiram carona, me deixaram com 4 ácidos e um pouco de maconha, para poder passar a noite e fazer alguma troca se fosse possível. E assim todos seguiram viagem e eu fiquei sozinho no posto, tentando pegar carona de verdade pela primeira vez solo. Mas já estava tarde então resolvi montar minha barraca mais escondida da estrada, acendi uma fogueira e tomei um ácido para ver o que acontecia. E aconteceu...

Essa é uma série que envolve minhas viagens pelo Brasil. Encontrei meus diários e resolvi compartilhar eles aqui.

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Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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Parabéns! Você está participando do projeto #ptgram power! Em prol de bons conteúdos e participação ativa na comunidade #pt.

Boa história fire! É aquela questão do "instinto" ter liberado o mala no caminho heheh.

Belo poema!


projeto #ptgram power

Valeu pelo comentário meu amigo!
Sim, sobrevivência em primeiro lugar! Que vá a mala!!!

Amei o Poema!!!! Soo cute 💕💕💕

Gratidão minha querida!!!
Pois é, as vezes bate uma onda de fofura e acontece essas coisas... hahahaha

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