O que caracteriza a direita de forma inequívoca é o livre mercado, onde há pouca interferência estatal na economia. Qualquer outra coisa é acessória a essa principal, e não implica na pessoa deixar de ser de direita.

Diante disso, o que impede que uma pessoa que defende intervenção do Estado na vida privada dos cidadãos também defenda um Estado interventor na vida econômica? Nada. Muito pelo contrário, uma coisa até favorece e leva à outra. Se o Estado já é forte e poderoso o suficiente para se meter na vida privada, é só estalar os dedos e ele se intromete também na vida econômica.

E o oposto também é verdade. Se você defende um Estado fraco que não consiga se intrometer demais na vida econômica dos seus cidadãos, na prática ele será fraco também para se intrometer nas questões da vida privada. Uma coisa meio até que leva naturalmente à outra.

Então apesar de os conservadores gostarem de se auto proclamarem “de direita”, a verdade é que uma pessoa conservadora nos costumes não amarra ela automaticamente ao livre mercado, muito pelo contrário. É até meio contraditório achar que possa haver liberdade econômica, mas sem liberdade individual. E vice-versa, é utópico achar que possa existir liberdade individual sem liberdade econômica. Não conheço nenhum país do mundo onde isso aconteça. Se tem liberdade individual, a liberdade econômica segue quase como uma consequência disso.

E o oposto também é verdade. Se você tira liberdade individual, você termina por restringir também as liberdades econômicas. Os países do mundo com mais liberdade econômica não coincidentemente são também os que dão mais liberdade individual aos seus cidadãos.

Um exemplo prático disso é o próprio Regime Militar brasileiro. Ninguém aqui duvida de que os militares são conservadores em termos de valores morais. Mas será que isso se traduz em serem defensores da economia de livre mercado? Claro que não. Basta constatar que durante o Regime Militar a economia era super, ultra fechada. E foi durante esse período que o Estado mais inchou. Foram criadas centenas de estatais. Existia até supermercado estatal.

Outro exemplo disso mais atual é o próprio candidato a presidente Bolsonaro. Ele por ser militar é bem conservador nos valores morais, mas só recentemente passou a defender uma economia de mercado. Durante toda a sua história política ele defendeu bem mais um Estado intervencionista, protecionista, e criticou duramente várias privatizações que foram feitas.

Em resumo, é sim um equívoco enorme vincular um conservador automaticamente como sendo “de direita”. Você só pode dizer que uma pessoa é realmente de direita sem medo de errar se ela for liberal. Pois o liberal sim, pela própria definição do termo, sempre será alguém que defende o livre mercado.

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