O problema do conservadorismo na política atual

Já vimos na postagem anterior "Direita, esquerda e a Revolução Francesa" que as definições de direita e esquerda se afastaram da sua conotação inicial da Revolução Francesa, e hoje em dia devem ser bem mais compreendidas a partir da guerra fria entre os blocos capitalista e comunista.

O capitalista é de direita, independente de seus valores morais e/ou religiosos. E o socialista pode ser dito de esquerda, também independente da sua religião.

Até aí tudo bem, mas isso gera um problema pra quem se define como um “conservador”. Isso porque o que caracteriza inequivocamente um conservador são os seus valores morais, normalmente vinculados aos ensinamentos religiosos da tradição cristã ocidental.

Ou seja, enquanto direita e esquerda são principalmente determinados pelas questões econômicas, os conservadores se diferenciam por outras questões, os valores morais.

Isso cria um problema porque existem pessoas com valores morais tradicionais e /ou religiosos dos dois lados do espectro. Uns se dizem capitalistas e outros socialistas.

Então o problema do termo “conservador” não está nos valores que ele defende, mas na forma prática que ele defende que esses valores sejam impostos a toda a sociedade.

Por exemplo, um capitalista por princípio defende uma economia livre de mercado, com pouca interferência governamental nos contratos, negociações e trocas consensuais entre os indivíduos. Se estendermos essa mesma lógica para as questões morais, um capitalista também defenderia um Estado que também não se intromete na vida privada dos seus cidadãos. Um raciocínio segue o outro.

Por outro lado, o socialista defende que o Estado deve intervir na vida econômica dos cidadãos por entender que os burocratas do governo “entendem melhor o que é melhor para o povo do que eles próprios”. Portanto a economia deve ser controlada, vigiada, regulamentada, e a liberdade econômica dos cidadãos bastante restrita àquilo que os governantes julgam “adequado à coletividade”. Os interesses coletivos devem se sobrepor aos do indivíduo, e a autonomia dos indivíduos deve ser restrita e direcionada para satisfazer e maximizar os benefícios coletivos. Então basta estendermos esse mesmo raciocínio para as questões morais e chegaremos à conclusão de que os socialistas são aqueles que defendem que o Estado legisle sobre moralidade, tudo em nome do coletivo.

Concluindo, se os ditos “conservadores” defendem seus valores tradicionais, mas sem querer impor esses mesmos valores a todo mundo por meio de interferência nas leis que restringem as liberdades dos indivíduos, podemos dizer que eles estão se comportando como direitistas. Mas por outro lado, se querem que o Estado crie leis para impor a moralidade deles compulsoriamente a todo mundo, então eles estão se comportando como verdadeiros esquerdistas, contrários às liberdades individuais tão preciosas e características do mundo livre ocidental.

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