Só existe corrupção onde existe dinheiro sem dono

Estive pensando sobre essa corrupção endêmica brasileira. Entra governo e sai governo e a única coisa que se renova mesmo é a esperança de que a corrupção acabe, mas ela é ubíqua, está na direita e na esquerda, na União, Estados e Municípios.

Então parei pra pensar sobre o que faz com que exista tanto dinheiro assim disponível pra roubo? Algo estrutural está muito falho nessa história toda.

Há quem diga que a oportunidade faz o ladrão. E há os que defendem que na verdade a oportunidade não faz o ladrão, apenas o revela.

Eu acho que é um pouco de cada coisa. Isso vai depender em grande parte do caráter da pessoa, mas também das necessidades e apuros que você ou seus entes queridos estão passando na vida.

Mas independente disso, o fato é que o dinheiro não pode ficar dando sopa. Experimente colocar a carteira na janela. Pode até demorar um certo tempo, mas vai chegar uma hora que um espertalhão vai tentar levá-la.

Então dizer que o dinheiro não pode ficar dando sopa é sinônimo de dizer que ele precisa ser bem guardado, vigiado e acompanhado. Todo mundo sabe que dinheiro na mão é vendaval, e que ele não aceita desaforo. É algo difícil de conseguir, mas muito fácil de sair caso você não o valorize.

É por isso que todo mundo cuida bem do seu dinheiro. Porque sabe que se não cuidar ele “evapora” rapidinho.

Mas o dinheiro do governo tem uma característica bem estranha, ele é “dinheiro sem dono”. Tudo bem, para os mais poéticos e sonhadores o termo certo não seria bem “dinheiro sem dono”, mas “dinheiro de todos”.

Mas pare pra pensar um pouco. Você já viu algo ser “de todos” e ser bem cuidado e com o mesmo zelo como se fosse seu? Imagine uma bicicleta “de todos”, ou um carro “de todos”? Acha mesmo que eles seriam bem cuidados?

Os mecanismos de incentivo para você cuidar e ter zelo por um bem que é seu é bem simples: se você não cuidar dele ele vai se quebrar ou se perder e você terá que gastar dinheiro pra adquirir outro bem.

Mas e se o bem é de todos? Qual é mesmo o incentivo? Se ele se quebrar ou se perder o meu prejuízo será mínimo individualmente. Ou posso até sair no lucro caso o bem tenha sido estragado por eu ter usado ele à exaustão.

Entende como os incentivos de uso são diametralmente opostos? Um o incentivo é para que eu use e estrague o bem o mínimo possível, visto que o custo do uso será pago por mim. No caso do bem público o incentivo é para que eu tire o máximo proveito possível daquele bem, visto que o benefício do uso está sendo individual e os prejuízos serão socializados.

Então com o dinheiro é a mesma coisa, ou até pior. Quando ele passa a ser “de todos”, na prática o que significa é que ele não tem mais dono. E como não tem um dono específico, todo mundo vai querer meter a mão e se apropriar dele.

Isso me lembra até do conto bíblico da maçã no paraíso. E isso porque era em um paraíso perfeito, onde sequer havia conhecimento do bem e do mal e todos eram perfeitos sem pecados ou maldades. O que dirá então da sedução da maçã num mundo de seres humanos pecadores e “decaídos”?

Bem é isso que eu acho. Desde que me entendo por gente que explodem escândalos infindáveis de corrupção. E entra governo sai governo, entra esquerda ou direita e só mudam as moscas, mas a fedentina da corrupção continua. Então acho que está na hora de começarmos a repensar o próprio conceito de “dinheiro público”. Eis a minha opinião sobre essa questão.

pixabay

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