#DICIONÁRIO DA MÚSICA# - Grandes Álbuns - Ivan Lins - Chama Acesa (1975)

in #pt6 years ago

Dando continuidade ao projeto, resolvi experimentar uma variação do modelo hoje, e não falar de algum artista específico apenas num resumo geral, mas focar em um álbum, como base para conhece-lo. Coisa que eu já fazia nos artigos anteriores, mas agora estará mais nítido.

E o melhor artista para introduzir esse "Grandes Álbuns" no momento é Ivan Lins com seu Chama Acesa, principalmente por que foi a partir desse álbum que eu conheci o artista, e por acaso, um álbum muito pouco comentado do cara, não sei se foi por que sua persona dos anos 90 se tornou mais forte que essa fase pós-inicial ou algo do tipo. Até um momento anterior a essa audição eu tinha o Lins na minha mente como uma figura totalmente rede globo, de tema de novela das oito (que passa às nove) e aquela coisa de barzinho escroto do Leblon.

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Qual foi meu choque ao me deparar com esse álbum experimental, intenso, visceral, misturando mpb com jazz, musica regional com poesia melancólica e letras incrivelmente profundas com a suavidade melancólica de uma geração que já se foi.

Chama Acesa começa com "Sorriso de Mágoa", uma levada intercalada entre um mpb meio sambado com um arranjo experimentalista, iniciando com apitos e intercalada com uns metais e um baixo "quebrado" que pegam o ouvinte desprevenido. Lins já mostra pra que veio nessa letra forte e amarga rapidamente:

Não me afague o rosto
com essa mão farpada
Nao me afogue em poço
que eu não beba agua
Sou feliz ao gosto
dessa dor calada
A felicidade é o sorriso da mágoa.

A música termina com um solo de primeira de metais e piano que poderiam muito bem ser algum arranjo alternativo de uma música do The Doors caso estes fossem brasileiros.

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Já em seguida temos outra porrada, dessa vez, mais lenta, mais filosófica e mais densa. Pra mim, a melhor música do álbum: Nesse Botequim. Uma canção arrastada, melancólica e intensa. Ivan Lins canta com uma clareza de voz indiscutível e num crescente muito peculiar. Mesmo sendo curta, traz no seu segundo ato uma pegada jazzistica de primeira, com aquele baixo marcado, bateria de pratos suaves e o rosnar da voz intercalado a um piano muito bem produzido.

A letra dela vale ser compartilhada inteira, tanto por ser curta quanto por ser FODA!

Nas portas desse botequim
Passaram tempos antigos
Passaram sonhos, amigos
Passaram crimes, castigos
Nas portas desse botequim
Passaram porcos e vadios
Passaram povos, pavios
Passaram os corpos vazios
Nas portas desse botequim
Passaram teias daninhas
Passaram reis e rainhas
Passaram fés, ladainhas
Nas portas desse botequim
Passaram trens e tratores
Passaram cães e tambores
Passaram bois voadores
Nas portas desse botequim
Passaram barbas, batinas
Passaram mãos assassinas
Passaram grossas cortinas
Nas portas desse botequim
Passaram quedas de braço
Passaram trevas de aço
Passaram as águas de março
"É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho"

Chama Acesa, música que dá nome ao álbum é a terceira faixa, Lins não dá tempo para descansar, três músicas poderosas seguidas. Essa em especial tem uma pegada muito forte de jazz, com uma espécie de improviso não muito claro nos metais e no piano, e essa letra visceral pra marcar de vez:

Você está parado na estrada
Contemplando toda a redondeza
Atrás a cidade assustada
Na frente a cruel fortaleza
Por baixo essa terra marcada
Do lado direito essa tristeza
Do outro, me dói, não há nada
Mas em cima essa chama acesa

Um solo curto e arrebatador de clarinete (creio eu) marcam o final da música. A maioria dos solos dessa álbum terminam as músicas, diferente do modelo padrão onde o solo serve como um prenúncio do refrão final.

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Não vou discorrer a respeito de todas as canções por que se não eu ia ficar aqui até meia noite. O fato é que Lins conseguir extrapolar na experimentação jazzistica dentro de um álbum que segura uma pegada pop e audível mesmo pelos atores da globo que vão nos seus shows hoje em dia. Quem vê o barbudo, cabeludo e com aparência de junkye Ivan Lins dos anos 70, custa um pouco em aceitar o seu "Então é Natal"... Mas tudo bem, cada fase é uma fase, e todas tem seu valor e potência :)

Deixo aqui o link para o álbum completo pelo youtube, infelizmente não encontrei as músicas separadamente para postar aqui. Mas acreditem, vale a pena ouvir e conhecer.

Pra quem gosta de: MPB, Jazz, Milton Nascimento, experimentalismo, The Doors, Piano, "brasileirismo", criatividade melódica e poesia.

Fonte das imagens: 1, 2 e 3


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Obrigado por ler!


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Gostei dessa ideia (um formato dentro de outro formato). É bem legal para pode detalhar alguns aspectos específicos sobre os álbuns em si.

Ah, e sobre essa escolha do álbum do Ivan Lins... Mandou bem!

Isso, a ideia é uma sub-categoria, de escrever sobre álbuns específicos, por que as vezes o que nos apaixona é um álbum e não o autor inteiro, ou as vezes conhecemos melhor apenas este ou aquele.
Aguardo suas ótimas colaborações, amigo!

Eu não conhecia mais que o nome dele. Estou surpreso com esse toque de jazz. Muito bom!! Bela descrição também, dá vontade de ir lá e verificar como é a obra do artista!

Sim cara! me surpreendi bastante ao ouvir, apesar de ser um mundo comum para esse pessoal de piano, mas hoje que consigo ouvir o "jazz" de forma mais nítida, quando o percebo em meio a uma música convencional, sempre gosto. E nesse caso, a interação é perfeita. Ouça que vale a pena!

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