Um Compromisso com o Infinito - Parte 3

Chegou em casa um pouco depois do cair da noite e encontrou sua mãe louca de preocupação. Após acalmá-la e explicar que estava tudo bem, foi tomar um banho e comer alguma coisa. Apesar de ter dormido quase o dia todo ainda se sentia sonolento.

Foi para a cama cedo e lembrou-se de amarrar novamente aquelas estranhas folhas ao redor do umbigo. Teve uma noite de sono maravilhosa e acordou se sentindo melhor do que nunca, toda aquela sensação de que a vida não fazia mais sentido havia desaparecido. Estava exultante, cheio de energia, se esquecera completamente do atropelamento, da pancada na cabeça e do velho enigmático.

Passaram-se duas semanas e se aproximava o dia de sua competição, havia treinado com afinco e tinha boas razões para acreditar que poderia vencer.

Alguns dias depois teve que voltar na casa do estranho velho. Pois havia perdido suas folhas e voltara a ter suas crises de pesadelos. Pareceu-lhe interessante que a casa de E. não podia ser vista da rua. Havia apenas um portão de madeira e um pequeno muro de concreto, atrás do qual ficava um terreno cheio de capim, com um caminho íngreme de terra que descia em diagonal, na direção da cabana, pendurada em um barranco alto de onde podia-se ver grande parte da cidade a baixo.

Não sabia se gritava já que não havia campainha para tocar, tocou de leve com a ponta dos dedos o pequeno e frágil portão feito de madeira de caixotes, e percebeu que estava aberto. Resolveu descer. Chegando próximo à cabana, chamou:

– Sr. E. !... Sr. E. !? … – Mas não obteve resposta.

A porta se encontrava entreaberta, pensou em entrar para procurar as folhas, mas alguma força misteriosa parecia não permitir que ele transpassasse a soleira. De dentro da cabana fluía o aroma peculiar, suave mas agradável de ervas, que lhe era reconfortante. Resolveu esperar sentado na mesma pedra achatada voltada para as distâncias onde o velho tinha estado.

Ainda era cedo, neste dia não havia tido aula, e o brilho do sol iluminava com uma luz morna toda a cidade ao sul e as montanhas a leste e oeste. Sobre a cidade pairava uma enorme camada de fumaça cinza e opaca. Enquanto nos morros ao longe, repletos de florestas, o ar parecia bem mais transparente e as árvores brilhavam em um tom de ouro e esmeralda. Isto criava um contraste óbvio.

Ficou ali por um longo tempo, sem conseguir pensar em nada com clareza. Seus pensamentos pareciam um turbilhão caótico e confuso. Mas ao mesmo tempo uma parte do seu ser parecia calma e serena. Sentia uma divisão em si mesmo. Assim como os dois extremos da paisagem. A metrópole era equivalente ao seu lado agitado, com suas as buzinas, sons de carros e o bate estaca ininterrupto das obras de prédios sendo construídos. Já as montanhas selvagens eram o seu lado silencioso. Que parecia muito mais antigo e sábio, e ao mesmo tempo misterioso e desconhecido.

Uma parte de si mesmo queria se levantar e sair logo dali, mas a outra estava imóvel e quieta e ele não conseguia se decidir, era como se estivesse ligeiramente anestesiado, embriagado pelo brilho do sol, e o cantar dos pássaros ali ao redor no capinzal. Não sabe ao certo quanto tempo permaneceu ali, pareceu-lhe apenas alguns minutos, mas na realidade tinha sido mais de 1 hora.

De repente do nada, foi como se algo se rompesse dentro dele, levantou de um salto, se virou e viu sobre uns caixotes uma boa quantidade daquelas mesmas plantas que procurava. Apanhou-as, encheu um saco grande e saiu, sem olhar para trás.

Agora estava estranhamente confiante, todas as dúvidas já não existiam mais. Somente lhe incomodava o fato de não ter tido coragem de conversar com aquela garota da festa. A visão do belo rosto moreno da moça estava muito nítido em sua mente no momento em que fechou o velho portãozinho de madeira e saiu caminhando rapidamente pelas ruas e ladeiras.

Continua...

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Veja também os dois primeiros capítulos:

Um Compromisso com o Infinito - parte 1

Um Compromisso com o Infinito - parte 2

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Imagem: OpenClipart

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