#FazendoHistoria - A Lenda da Origem do Xadrez

Existe uma antiga lenda muito conhecida sobre a criação do Xadrez que tem grandes chances de conter algum fundo de verdade histórica.

Conta-se que há muito tempo atrás, um grande rei chamado Balhait, que era muito amado pelo seu povo, dono de vastos domínios e uma grande riqueza, estava desolado e mergulhado em profunda tristeza. Estavam todos felizes, o exército havia vencido sua última batalha e finalmente destruído totalmente seus inimigos, entrando em uma época de grande prosperidade para todo o reino.

No entanto ele havia perdido um de seus filhos que era um importante general, o chefe da cavalaria, justamente no ataque final, onde as tropas inimigas foram derrotadas, e era este o motivo de sua dor inconsolável.

Começaram então a chegar pessoas de todos os lugares, sábios, artistas, construtores que prometiam tirar o rajá de sua tristeza e devolver-lhe a alegria mostrando-lhe algum engenho, invenção, que pudesse maravilhá-lo e tirá-lo de seu tédio sem fim.

Mas nada disto podia lhe restituir o bom animo, e o soberano já estava a ponto de mandar para a pena de morte o próximo louco que aparecesse. Um Brâmane chamado Sissa teria então criado um jogo, e oferecido ao rei.

Tratava-se de um tabuleiro de Xadrez muito parecido com o que temos atualmente. As peças justamente representavam os elementos do exército. Os soldados eram equivalentes aos peões de hoje. Os carros posteriormente se transformaram em torres e os elefantes em bispos, os cavalos e o rei permaneceram as mesmas peças enquanto o vizir, foi substituído pela rainha.

O brâmane ensinou o rei a mover as peças e a jogar transmitindo-lhe os princípios do jogo. Ainda usava-se o lançar de dados antes da jogada de cada participante, dependendo do número obtido podia-se mover um maior número de peças, em compensação as peças tinham um raio de ação mais reduzido que hoje em dia.

Sissa explicou que escolhera o tema da guerra para o seu jogo porque sendo a situação mais extrema possível, exigia uma maior eficiência nas decisões, no vigor, na persistência, na ponderação e na coragem de um soberano.

Logo eles começaram a jogar e depois de algum tempo Balhait já tendo evoluído um pouco e aprendido algumas estratégias elementares do jogo, estava agora a ponto de vencer seu súdito depois de um longo esforço de raciocínio.

A posição que se apresentava no tabuleiro era tal que, sacrificando seu vizir, o rei venceria a partida. E foi algo que ele não relutou em fazer. No mesmo momento em que vencia, ele lembrou-se de seu general que havia tombado na guerra.

Cheio de admiração, o rei, finalmente havia entrado em um novo estado de espírito e prometeu recompensar o jovem criador do xadrez com qualquer pedido que este exigisse.

Agora ele poderia escolher uma grande quantidade de ouro, um palácio, mulheres lindíssimas, jóias e pedras preciosas, enormes manadas de animais, até mesmo uma cidade inteira.

Segundo a lenda, Sissa teria feito um pedido um tanto extravagante, que deixou a todos surpresos. Ele teria exigido seu prêmio em grãos de trigo, e que a quantia de trigo deveria ser calculada da seguinte forma: 1 grão para a primeira casa do tabuleiro, 2 grãos para a segunda... 4 grãos para a terceira casa, 8 para a quarta, e assim por diante, sempre dobrando o número de grãos de cada casa até que se chegasse a última.

O rei perguntou se ele realmente desejava aquilo, pois esta seria sua grande chance e não compreendia como podia desperdiçá-la com simples sacos de trigo. Mas Sissa continuava irredutível.

Foi ordenado que os matemáticos do reino calculassem a quantia para que o trigo fosse trazido. Depois de um longo tempo, o rei já começava a ficar irritado com a demora dos sábios, quando entraram e lhe comunicaram que seria impossível reunir tanto trigo. Que chegaram a conclusão que nem se fosse possível trazer uma quantidade de sacos que cobrisse todas as montanhas de todo o mundo, esta quantidade seria suficiente.

O rei ficou cheio de espanto e admiração pela inteligência de Sissa e pela primeira vez na vida se viu impossibilitado de ver realizada uma de suas ordens. O colossal número seria: 18.446.744.073.709.551.615 grãos de trigo.

Depois de mais esta lição, Balhait nomeou Sissa como seu vizir, e o jovem Brâmane ficou conhecido como um dos maiores sábios da Índia.

Este antigo rajá indiano tornou-se o primeiro grande admirador do xadrez, e mandou que o jogo fosse preservado nos templos. Considerava a prática do jogo excelente para todos os militares pois desenvolvia o senso de justiça e o refinamento da arte da guerra, e assim o Chaturanga, teria começado a se difundir pelo mundo.

Fonte da imagem: Ken Kelly - artnet

Bibliografia:
O Homem que Calculava - Malba Tahan
Adventure of Chess - Edward Lasker

Este artigo faz parte da segunda edição do desafio da tag #fazendohistoria

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