Alfred Cortot (1877 - 1962) e a Segunda Guerra Mundial.

Nascido em Nyon na Suiça, Alfred Denis Cortot (1877 – 1962) começou seus estudos de piano aos 5 anos de idade na cidade de Genebra. Em 1886 ingressou no Conservatório de Paris como aluno de Émile Decombes e Louis Diémer. Graduou-se em 1896 premiado como o melhor intérprete da instituição, estreando um ano depois nas séries “Colonne” e “Lamoreaux”.

Sua paixão pela música de Richard Wagner (1813 – 1883) o levou para a cidade de Bayreuth na Alemanha, entre 1898 e 1901 aonde trabalhou como regente coral, e maestro assistente de Felix Mottl e Hans Richter. Durante este período estabeleceu reputação como pianista tocando os concertos de Beethoven na Alemanha e França. De volta a Paris dirigiu como maestro as estreias francesas de Götterdämmerung e Parsifal de Wagner. Estabelecendo-se como pianista, maestro e músico de câmara, co-fundou um famoso trio com o violinista Jacques Thibaud e o violoncelista Pablo Casals que esteve ativo até a morte prematura de Thibaud num acidente de avião em 1953.

Cortot começou a lecionar em 1907 no Conservatório de Paris, aonde esteve por 10 anos. Em 1919, juntamente com o pianista Auguste Mangeot, fundou a “École Normale de Musique de Paris”, que existente nos dias de hoje com o nome de “École Normale de Musique de Paris – Alfred Cortot”, em sua homenagem, que esteve envolvido com as atividades da escola até sua morte em 1962, e é hoje um dos mais conceituados entre os principais estabelecimentos musicais da Europa.

Em 1928 fundou a “Orquestra Sinfónica de Paris” com Ernest Ansermet, Louis Fourestier, a principal orquestra da cidade entre 1928 e 1939.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Cortot se envolveu nas mais espinhosas questões que envolvem o papel da música e dos músicos durante a ocupação alemã na França. Por um lado simplesmente continuou seu trabalho durante a ocupação nazista, agindo como defensor da França e de sua herança musical como Comissario das Belas Artes. Por outro adquiriu grande prestigio dos nazistas, o que levou-o as sombras durante o período subsequente de sua vida.

Em 1941 participou do festival da propaganda Staffel numa Paris sob controle alemão. Em 1942 tocou com Wilhem Kempff para a exposição do artista nazista Arno Breker, e na Alemanha, 12 concertos com a Filarmônica de Berlim sob a direção de Wilhelm Furtwängler.

Neste período realizou paralelamente concertos para prisioneiros franceses presos em campos de concentração. Contribuiu para libertar 26 pessoas, protegeu a classe artística francesa contra o regime de trabalho forçado de Hitler, membros da resistência francesa identificados pelas tropas de ocupação, e ajudou a diversos artistas de origem judaica. Estes fatos só vieram a tona no final da guerra, por meio de testemunhos em seu julgamento após ser brevemente preso pelo governo da França.

Paralelo a uma carreira de sucesso, foi rotulado permanentemente como um colaborador nazista em Paris. Os músicos da cidade foram proibidos de tocar com o pianista pela “União de Músicos de Paris” sob penas de não mais poder tocar na cidade, seus concertos em janeiro de 1947 se transformaram em verdadeiros tumultos. Cortot processou a "União", venceu após sete anos de lutas judiciais.

Seu biografo Bernard Gavoty afirma que Alfred Cortot preferiu a França em união com a Alemanha ao invés de ir para os Estados Unidos. Wilhelm Furtwängler maestro da Filarmonica de Berlim desde 1919, foi o principal interlocutor de Cortot na Alemanha durante a segunda guerra mundial. Ambos personagens do séc. XIX num dos momentos de maior turbulência do se. XX.

Como interprete gravou mais Chopin do que de qualquer outro compositor, suas apresentações do Concerto para piano n.°2 de Chopin em F menor com o maestro Sir John Barbirolli, e o Concerto para piano n.° 4 de Camille Saint-Saëns em C menor sob a regência de Charles Munch são consideradas execuções de altíssimo nível.

Em linhas gerais o que faz Alfred Cortot ser um interprete especial, é a qualidade de seu rubato, a capacidade de fazer o piano soar de forma orquestral, o equilíbrio entre o conteúdo emocional da arte, e a abordagem intelectual de elementos culturais, estilísticos, e técnicos associados.

Certamente ele é um dos músicos mais controversos da primeira metade do sec. XX. Venerado por alguns pela sua importância como artista, músico de câmara, professor, colecionador de manuscritos, escritor de livros, artigos sobre música, editor de de trabalhos para piano, fundador da “Ecole Normale de Musique em Paris” e reformador do sistema de educação musical francês. Ele foi de outra forma mantido em notoriedade por sua alegada colaboração com o regime nazista na França ocupada durante a última guerra mundial.

Me despeço aqui, com um vídeo do ultimo concerto de Alfred Cortot em 1958 acompanhado do espanhol Pablo Casals ao violoncelo, que em oposição, se recusou a tocar em todos os países amigáveis ao longo regime de Francisco Franco.

Um grande abraço
Guilherme Faquetti
27 de janeiro de 2018.

Referencias Bibliográficas

https://simple.wikipedia.org/wiki/Pablo_Casals
http://en.chopin.nifc.pl/chopin/persons/detail/id/2289
https://minerva-access.unimelb.edu.au/handle/11343/37451
https://en.wikipedia.org/wiki/Orchestre_symphonique_de_Paris
http://holocaustmusic.ort.org/politics-and-propaganda/third-reich/cortot-alfred/
https://en.wikipedia.org/wiki/Alfred_Cortot#World_War_II
http://www.bach-cantatas.com/Bio/Cortot-Alfred.htm
https://www.gramophone.co.uk/review/alfred-cortot-plays-chopin