Diarios da Estrada 018 - Na casa do Cigano

in #pt6 years ago (edited)

Acordei no dia seguinte animado com a ideia de ir ao espaço xamanico consagrar ayahuasca. Fazia uns 4 anos que tinha tomado a ultima vez e nunca sentido nada de mais, porem dessa vez seria num individual. E isso me animava bastante, ter a chance de tomar o chá e viajar só nas minhas piras, brincar com ela assim como eu fazia quando tomava cogumelo, ter um tempo só pra mim dentro daquela energia.

Encontrei meu amigo e ele me levou pra Araçoiaba. O espaço se chama Circulo do Arco Iris e fica na zona rural, então passamos vários pastos, ruas de terra, casinhas de campo, até chegarmos no espaço. Era uma casa de sitio muito bonita, com um espaço pra fogueira, uma capela e a casa em si. Entrei na casa pra conhecer a xamã e encontrei uma senhora. Fui falar com ela achando que ela era a xamã só que não, na verdade ela era a guardiã da xamã, que já estava vindo me encontrar. Eu pensei "orra, se a guardiã é uma senhora, quantos anos será que tem essa xamã?"

Nesse momento sai uma moça de dentro e vem falar comigo. Era a Flavia, a xamã que estava afrente daquele templo. Confesso que fiquei um pouco decepcionado mas aceitei rapidamente e fomos preencher a ficha de anamnese. Fui ultra sincero na ficha e coloquei tudo que eu já havia usado. Ela quando leu ficou meio surpresa e me perguntou porque eu estava ali. "Vim conhecer o cigano. Vivo na estrada e tenho muita afinidade com eles." Ela me respondeu que o cigano viria no fim do ritual para conversar comigo e me perguntou se eu já tinha visto alguém incorporar. Falei que não e ela me deu uma breve explicação de como funcionava a incorporação lá. Que quando a entidade vinha não rolavam pulos, espasmos ou coisas que estão no nosso imaginário, apenas eu perceberia que estou falando com outra pessoa através do corpo dela. Fiquei muito intrigado e ansioso para começar o trabalho.

Porém acabou a energia e não tínhamos como começar, pois o trabalho é em cima de um trilha que define a energia dos portais. Então continuamos conversando e a cada momento em me sentia mais em casa, mais confortável de estar ali, parecia que eu conhecia a Flavia há muito tempo e eramos grandes amigos. Conversamos um monte sobre uma série de coisas, rimos muitos, foi muito bom. até que um momento ela falou que não daria mais para esperar e que faríamos o trabalho mesmo sem som.

Entramos no templo, consagramos (bebemos) o chá e ela acendeu umas velas. Deitei de um lado num colchão e ela em outro. Aos poucos comecei a pensar na minha vida, no que tinha feito até então, onde queria chegar. Quando menos percebi a Flavia me chama e eu saio desses pensamentos para consagrar mais uma vez, já que tinha passado o primeiro portal, e eu fiquei meio de cara. Pra mim só tinham passados 20 minutos do começo mas na verdade tinha passado uma hora (Cada portal tem aproximadamente 1 hora). No segundo portal fomos interrompidos varias vezes: pessoas no portão, gatos entrando e saindo fazendo uma barulhada, a guardiã entrou sem saber que estava tendo trabalho já que não tinha trilha, uma loucuraiada sem fim de coisas acontecendo, até que chegou o fim do portal. Agora iriamos consagrar e ir pro portal dos ciganos, onde eu poderia conversar com o Cigano do templo.

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Aí o bagulho ficou louco mesmo. Eu entrei numa força (expressão que usamos quando você está no efeito do chá) que quando ela incorporou o cigano eu não via mais o rosto dela e sim de um homem, com bigode e cavanhaque, olhos de cores diferente, e sua maneira de falar também mudou completamente. O Cigano me saudou e se apresentou: Pablo. Ele me disse que nunca um ritual havia sido feito sem musica mas no meu caso era uma exceção, pois eu já estava tão confuso que musica só me atrapalharia. E que toda a loucura que aconteceu no segundo portal era uma manifestação da confusão que estava dentro de mim. Então ele fez uma pergunta que me fez ficar mais confuso ainda:

Quem é você?

Como assim quem sou eu? Eu sou Fabio! Não, não quero saber quem você está, quero saber se você sabe quem você é. Quem eu estou? Quem eu sou? Quem eu penso que sou? Não seria eu quem penso quem sou? Quem pensa e quem sou? Se sou eu pensando, logo devo ser eu quem penso, mas e se quem pensa não for eu, mas alguém que pensa que sou eu? Bem menino, o Cigano sabe quem você é, e te convido para vir morar comigo um tempo para eu te ajudar a descobrir quem você é.

Falei pro Cigano que tinha compromissos marcados na semana seguinte e no fim de ano (estávamos em novembro agora) e o Cigano respondeu que sem problema, eu poderia ir nos meus compromissos da semana seguinte e que eu ficasse com ele 3 meses, até o próximo compromisso. Mas que não precisava responder agora, iria ter um ritual aberto no dia seguinte que eu estava convidado a participar e poderia responder depois. Agradeci o convite e disse mesmo que teria que pensar.

Então acabou o ritual e a Flavia voltou. Ficamos rindo de tudo e como o Cigano me convida a morar lá sem falar com ela. Imagine um completo estranho chegando na sua casa e de repente uma entidade o convida a ficar na sua casa. Porem ela me disse que por algum motivo parece que me conhecia a muito tempo, então estava tranquila quanto a decisão do Cigano. Jantamos e eu arrumei um lugar no templo para dormir, só imaginando o que viria pela frente...

Essa é uma série que envolve minhas viagens pelo Brasil. Encontrei meus diários e resolvi compartilhar eles aqui.


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Rapaz! Que brisa monstra essa! Eu queria ir em um espaço xamânico também, mas lá nos Andes, encontrar as entidades loucas lá. AHHAHAHA

Hhahahahaha
Te falar que foi uma viagem mesmo...
E não foi diferente quando eu fui pros andes conhecer as entidades das montanhas... Recomendo muito!!!

Já me convidaram inúmeras vezes para ir em ritual de Daime, mas nao quis nao.... fico com medo de ficar locao e fazer m...


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Man, depende muito do lugar que você vai. E quando você vai com medo de duas uma: Ou o medo se manifesta, ou você trava e nem entra a força. Eu acho que todo mundo deveria experimentar uma vez pelo menos, mas antes de mais nada conhecer bem o lugar que você vai. Principalmente a energia que você sente ao chegar no lugar. E também, como é uma experiencia espiritual transformadora, talvez você não tenha ido ainda pq não sentiu o chamado. E tudo certo!

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