É só um riozinho

Existe uma praia que amo no litoral de São Paulo. Ela é bem reservada, tem poucas casas por perto, apenas uma vilinha de pescadores. Na alta temporada um pessoal vai para acampar e algumas pessoas alugam casas por lá. O movimento aumenta, mas nada comparado às praias dos centros das cidades do litoral que é aquela muvuca e você se sente uma formiga num formigueiro.

Mas para chegar na praia, é preciso atravessar um rio que, na minha opinião, é a melhor parte. Imagina só, água doce do lado de água salgada? É uma proeza da natureza que a gente tem a sorte de encontrar despoluído ainda nos dias de hoje encontrar.

No último ano da minha faculdade de Ecologia eu e minha turma fomos para uma saída de campo pelas redondezas. Como estávamos perto, no fim da visita técnica chamei o pessoal para ir à essa praia, e fomos. Eu disse que havia um riozinho que a gente precisaria atravessar para chegar na praia, mas nada de mais.

Chegando lá, nunca vi pessoas mais desesperadas na minha vida:

-Você disse que era só um "riozinho", e não o rio Amazônas!

Acusaram-me de tê-los levado ao encontro da morte. Acho que ficamos na margem do rio discutindo uns 20 minutos até todos se convencerem de que havia uma possibilidade de sobrevivência na travessia. E o Lama, sujeito muito tranquilo, à quem nada nem ninguém aborrece, sempre com sua máquina fotográfica na mão, tirou a foto do momento:

Conclusão: não tem. Só sei que camarão que dorme a onda leva e homem que arrega no rio não chega na praia.