Estávamos indo de canoa para a foz do Bagé, que fica na Reserva do Alto Juruá. Lá aconteceram as filmagens da produção de couro e dos seringueiros cortando seringa. Depois voltamos para a pista de pouso e pegamos o avião novamente, desta vez tendo como destino a vila Jordão, que fica no encontro entre os rios Jordão e Tarauacá, encontramos os índios que estavam nos esperando com canoas, e partimos para a reserva deles, que é bem próxima ao Peru.

Os Kashinawá são um povo muito gentil e simpático que estão sempre rindo, e quase nunca se zangam. Poucos falam português, a maioria fala a língua deles que e muito interessante, e totalmente cantada. Esta viagem parecia que era um sonho. Tudo adquiria um sentido mágico, os índios são muito espiritualizados, e me contaram muitas lendas e histórias que vão se emendando umas nas outras e parecem nunca ter fim.

Eles plantam muitas coisas e há uma grande fartura de alimentos, como banana, mandioca, feijão, milho, amendoim, melancia, além de muito peixe e carne de caça que é muito boa, acho que a melhor carne que já comi na vida, um veado moqueado (feito na brasa enrolado em folhas) que era delicioso.

Eles adoram fazer caiçuma, que é uma bebida, e bebê-la é como se fosse um ritual em que não se pode recusar a tigela cheia até a borda. Também tem mariris, que são festas com danças para comemorar a boa colheita, e as pescarias com tinguí, que é uma planta que, quando é jogada na água os peixes ficam doidos pulando sem parar, e então é só bater neles com pedaços de pau e pegá-los.

Os índios também se reuniam à noite ao redor de uma fogueira e tomavam o cipó, bebida sagrada que eles chamam de Runipan, eles bebem e os pajés começam a cantar para chamar os espíritos.

continua...

Fotos: Yawa Bane

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