Crônica dos meus nomes

Minha mãe me dizia que mesmo muito antes de engravidar já havia decidido que o nome de sua filha seria Fernanda ou seu masculino, se fosse um menino.

Eis que eu fui gerada. Até meu nascimento estava mantida essa sentença. Na época, pela ausência do pai, ela mesma foi até o cartório para fazer o tal registro. Ao chegar lá ficou contente em ver que um dos funcionários era um amigo de longa data.

-Augusto! Que bom reencontrar você!
-Oi Marlene, minha amiga, há quanto tempo!
-Verdade, alguns anos!
-E como anda a vida? Desde que saiu da empresa não tive mais notícias suas, o que tem feito?
-Arrumei uma filha! Hahaha. Vim justamente registrar o nome dela!
-Mas que beleza, meus parabéns! E qual vai ser?
-Fernanda! Homenagem a muitos Fernandos e Fernandas que conheci e admiro.
-Muito bom, é o tipo de nome que nunca sai de moda! Hahaha.

Após um pouco mais de bate-papo, minha mãe reparou que Augusto segurava um livro. Leitora assídua como era, quis saber de qual se tratava.

-Ah, é "A herdeira", do Sidney Sheldon, aquele escritor americano.
-Sei, adoro os livros dele. O meu preferido é "O outro lado da meia-noite", achei muito intenso e emocionante.
-Também já li, é uma história forte, mesmo, uma das melhores dele. Romance, vingança, assassinato... Um prato cheio pra quem gosta de um bom conto trágico! Hahaha.
-É, verdade.

Lembrando do que ainda tinha que fazer, ele se aprumou.

-Bom, Ma, preciso ir resolver um assunto pendente lá dentro, mas antes de ir embora vai lá se despedir e a gente aproveita e combina alguma coisa! Quero conhecer sua filha, também!
-Claro, vou sim.

Depois que Augusto saiu, ela ficou um bom tempo perdida em pensamentos. De repente, voltou à realidade e foi concluir seu dever ali, com uma expressão e atitude ainda mais decidida.

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Após finalizar os trâmites do registro, foi reencontrar Augusto.

-Pronto, meu querido amigo, já fiz o registro da minha pequena.
-Que bom, Ma! Então, me passa seu endereço que qualquer dia apareço pra ver você e conhecer a Fernanda!
-Deixa eu anotar... mas só tem um detalhe: não é mais a Fernanda, e sim a Noele.
-Noele? Mas como assim? - disse com tom confuso.
-Depois que comentamos sobre o livro "O outro lado da meia-noite", lembrei da personagem Noelle, uma das principais da história e, então, esse nome me pareceu muito mais bonito que Fernanda. Daí, na hora do registro, decidi mudar. Não me deixaram colocar os dois L's, mas tudo bem!
-Ok. Legal. Mas, Ma... Essa personagem, Noelle, era um pouco mais pra vilã, não era? Não exatamente ruim, mas meio perversa, vingativa. E ainda mais, no fim de tudo, ela morre...
-Sim, sim... Exatamente, essa mesma! Ela era fantástica, a minha personagem preferida! E além do mais, meu amigo, no fim de tudo... quem é que não morre?

Fonte da imagem:
https://www.watermarklearning.com/blog/qa-for-the-ba-as-management-consultant-webinar-4172012/question-mark-6/