RE: Relatos Enteógenos - 01 - Psilocybe Cubensis
Simplesmente incrível seu post. E esperava que falasse isso mesmo. Até salvei o link para tornar a rele-lo. Não saberei te falar da bioquímica e biofarmacologia envolvida nesses conceitos, o que tenho em mente, que são vias dopaminérgicas, as regiões teria que saber a especificidade da substancia, quais receptores atuam, de qual zona, estimulam diretamente, ou amentam quantidade na fenda sináptica.
E um efeito que vem da alteração do sensório, um podemos dizer estreitamento da consciência, a consciência estreitada, a sua linguagem se fragmenta, por causa orgânica que seria em termo médico intoxicação. Um quadro que muda as interpretações das percepções e um rebaixamento qualitativo da consciência, justificam o que sentiu. em uma leitura Por outro lado, essa parte da percepção de uma atenção introspectiva, é diferente, essa reflexão, e principalmente dos traumas me intrigou. Infelizmente não posso fazer esse tipos de perguntas sobre esses assuntos. Fere a ética da minha profissão, deixo claro que por recomendação médica é proscrito o uso dessas substancias, sem o estudo devido. Mas se algum dia quiser me passar esses relatos por sua vontade, e discutir eles em chat, teria interesse, e para aprender. As palavras falam bastante. E daqui que sai o conhecimento. Se quiser trazer aqui a bioquímica seria legal, não sei se poderia ajuda-lo, poderia ate entender, e qualquer coisa até busco referencias para debatermos.
Olá amigo, que bom que gostou do relato, naturalmente, como leigo meu foco nos textos aqui é trazer a experiência empírica do uso "enteogênico" das substâncias. Não poderei lhe dar muitos detalhes profundos sem estudar o tema ainda. Mas, mesmo entendendo que utilizou-se de termos médicos/técnicos gostaria que esclarecesse alguns pontos de sua resposta. Como por exemplo a ideia de "consciência estreitada", não sei se você já teve a oportunidade de tomar algum psicodélico e sei muito bem que não deve responder isso aqui devido a sua profissão, mas o que é conhecimento geral e inegável da experiência alteradora de consciência em nivel enteógeno é que se tem uma imensa "expansão" e não estreitamento da percepção de si e do mundo. Não só é comum percepções de projeção fora do corpo (sem cunho espiritual, falo do fenômeno, real ou não), percepção de união ao todo, empatia com cosmos, enfim...
Uma frase muito comum que se obtém de alguém que tenha experimentado algo como psilocibina, dimetiltriptamina, acido lisérgico, etc é de que: Toda e qualquer pergunta que ele fizesse "a si mesmo" ele obtinha respostas. E falo isso a respeito de perguntas cruciais que vem torturando a pessoa a longo prazo, aquele tipo de resposta que certamente É a resposta mais assertiva e absurdamente afinada para com a realidade atual. Junto a isso uma sensação de segurança e de tranquilidade a respeito da vida e do todo.
Hoje tenho uma visão pouquissimo espiritual de qualquer substância enteógena, apenas consigo compreender bem que não poderia ser diferente disso, a experiência em si lhe dá um caminho tão intensamente profundo que chegamos ao cerne do homem em si mesmo, camadas da consciência que definitivamente não conseguiremos explicar apenas em teses e cálculos, o âmago do homem está ligado a poesia e a mitologia. Nas experiencias mais atuais que vivenciei, já com uma percepção mais cética de mundo, tive aprendizados tão valiosos quanto, porém o teor mistico foi trocado pelo teor de respeito quanto a vida por si, quanto ao estar vivo e quanto amor pode existir no simples fato de sermos agraciados pela oportunidade de refletir, pensar, desejar entender. Continua sendo uma experiência religiosa, porém sem religião.
A respeito de questões mais específicas farmacológicas e técnicas, vou deixar alguns artigos que li brevemente e me parecem bastante seguros, mas certamente vale a pena uma pesquisa mais extensa e cuidadosa:
Pesquisa de 2017 sobre o uso de psilocibina para depressão
Estudo do uso de psilocibina em pacientes com câncer - para manutenção psicológica
Tratamento para o TOC através do uso de psilocibina
Tratamento para enxaqueca em salvas através da psilocibina e LSD - PDF
Quanto aos relatos mais elaborados e detalhados por outras vias de contato, podemos conversar sim!
Abraço!
Sua analise já disse tudo, é um ponto onde as referencias de linguagem não se convergem, talvez para a medicina e o estudo da linguagem a psicanalise, consciência não tenha o mesmo significado do conhecimento enteógino, E assim remeter a conceitos diferentes, ou até os mesmos pois não sei como esse conhecimento interpreta a consciência. E não teria certo ou errado, pois são linguagens diferentes, diferentes perspectivas.
A respeito da ação, interpretei que queria discutir sobre. Eu também não tenho esse conhecimento, e iria ler para entender mesmo. Mas fiquei curioso, se tiver tempo devo procurar, vou dar uma olhada nesses textos que enviou.
A consciência como entendo, vou tentar dar uma passada rápida aqui talvez poste para ficar melhor depois, duas teorias trazem uma interpretação da consciência, a psicopatologia e a psicanalise, a psicopatologia estuda a atividade consciente, e a psicanalise pela linguagem o fisiologismo psíquico, que engloba a relação do consciente e inconsciente.
Na psicopatologia, onde vem o termo estreitamento da consciência, um autor chamado Jaspers, é a base da psicopatologia, e traz o consciente de 3 formas, interioridade de uma vivencia, em contraponto a falta de consciência, a consciência objetiva, que é um saber de alguma coisa", que faz o contraponto sujeito/objeto, e a auto-reflexão que é consciência de si mesmo, é a exploracão do inconsciente não sabido, mas que interage obedece ao inconsciente, onde navega a psicanalise.
Existe o real, o que é comum a todos mais ou menos, e o nosso consciente interage com ele, existem coisas que fazem com que nosso consciente viva uma experiencia real, na realidade da pessoa, mas que não estão na esfera do real, podemos dizer do real em comum a todos.
Então é como se cada um tivesse seu mundo, e um mundo em comum a todos, e o termo estreitamento é utilizado de uma forma qualitativa da consciência, que é quando você já não esta mais no total controle da sua estrutura consciente, quando signifiquei a consciência acima, ainda é pouco para explicar uma estrutura complexa que explicasse de uma forma muito maior.
Esse controle é o que determina nosso funcionamento, substancias em geral que vão desde álcool e outras psicoativas, desestruturam nosso consciente, não temos mais o controle de quando não estamos em uso, a realidade é alterada e a partir disso fica difícil saber o que é real ou não. Mesmo que o que seja vivido satisfaça a nossa concepção do real naquele momento.
É um tema complexo, e estou falando em uma linguagem de uma teoria que não é a mesma que a sua, ainda não tenho um vocabulário que torne melhor essa linguagem, tentei explicar o que pude. E como essas drogas não foram estudadas, talvez ela não preencha o conhecimento que temos disponível hoje na minha área.
Então a partir de um momento, em que o real é alterado, a partir disso, o individuo já entra em um local onde só a realidade que ele está estreitada, não sendo possível, em termos de teoria, saber o que é mais real ao mundo comum, e real a quem está vivendo aquela realidade.
Quem sabe no futuro tenhamos mais a saber sobre isso, o conhecimento não é uma verdade em si, é uma verdade do sabido até o momento, e por isso achei tao bom o seu relato. Só que minha teoria foge ao termo expansão, que também achei intrigante. Na psicanalise o qual é bem mais complexo, não vou entrar no mérito, até por estar a entender os conceitos, mas me intrigou quando fala de saber a resposta, na psicanálise sempre sabemos a resposta, só que nosso consciente não deixa chegar a ela, por uma estrutura de funcionamento mental, onde o consciente se protege a todo custo , precisando de alguém para ajudar a chegar no inconsciente e encontra-la.
Não sei se compliquei ou consegui passar alguma coisa da minha teoria, e que não exclui a sua, são diferentes formas de leituras. Desculpe os termos, é que acaba saindo no automático, podemos ir discutindo, e eu ir construindo uma forma de passar mais fácil até para mim.
É uma discussão muito boa. Obrigado pela oportunidade. Grande abraço. Poremos ir elucidando melhor nossas curiosidades.
Perfeito cara, fico feliz com seu detalhamento em explicar os conceitos, realmente é incrível perceber o quão mediano é o conceito de consciência que eu tenho, que é baseado unicamente no senso comum da psicologia e da filosofia, ou seja: Consciência é o eu pensante dentro da carne, a capacidade de tomar noção, percepção e raciocínio. Mas acima disso aquela mágica até então pouco entendida de poder questionar-se a respeito da própria consciência, que supera o próprio noção do outro instintiva e esbarra no "pensar a respeito de si".
Mas sem dúvidas penso que existem vários pontos, sou um grande admirador do estudo psiquiátrico, mas acima disso acho que existe muita verdade na psicanálise. E realmente, a ideia de respostas advindas de algum lugar que relatou no inconsciente tem tudo a ver com a experiência da psilocibina. Inclusive tem uma famosa entrevista do pesquisador e entusiasta da psicodelia Timothy Leary em que fala que 1 experiência de psilocibina pra ele superou 15 anos de consulta psicológica que vinha fazendo. É claro, é um exagero grosseiro, por que estamos falando de mecanismos diferentes, mas o que é visto inclusive nas pesquisas que te passei (reforço que dê uma leitura dinâmica ao menos em algumas) é que ele tem um potencial muito semelhante aos mecanismos instintivos e naturais do homem de encontrar a solução dos problemas através de uma jornada interna que passa por inúmeras fases psicológicas, poderia dizer que cada experiência enteógena recria a jornada do herói (Joseph Campbell) dentro de nós. E isso acaba acelerando alguns processos difíceis como traumas severos psicológicos envolvendo morte, acidentes, etc. Mas como ambos sabemos, tudo muito novo, fresco e pouquíssimo estudado. Vamos observando. Semana que vem me organizo para mais uma postagem com outra substância, o negócio vai ficar ainda mais complexo haha.
E ainda vou querer falar de relação com esquizofrenia/psicose e tudo isso em relação as substâncias. Aliás, a gente deveria é fazer um bate papo ein?
Eu vou pensar num modelo aí e te procuro no discord.
E não é um conceito mediano o que tem. É de outra perspectiva. Por exemplo a filosofia, o saber epistemológico, tem seu conhecimento em uma dimensão maior. A psiquiatria é um saber médico, no contexto saúde doença, a psicanálise começou de certa forma a partir da filosofia, e vem se distanciando da psiquiatria, e é o estudo da linguagem dentro da psiqui. Saussure no final do seculo XIX, nos trouxe o conhecimento de como estudar uma linguagem, e diferenciou o que fazia parte do comum a todos, e o que era a parte da psique, individual. Com base nisso Lacan, fez uma releitura mais estrita de Freud, que se baseava no evolucionismo biológico de Darwin.
Por isso tento nao descartar nenhum conhecimento, não podendo valora-lo sem conhece-lo, seria o comum preconceito, que todos temos, é humano.
E isso de psilocibina ter a possibilidade de chegar ao inconsciente, é intrigante mesmo.
Uma luta que temos, e que na cultura ainda encontramos dificuldade, é diferenciar que existe muitos conhecimentos estão no tempo presente, e muitos se apegam no passado, mas sem conhecer o passado não se chega no presente. Além de que o conhecimento, o saber é uma dimensao do que é sabido, podendo haver outra dimensao do sabido, e outra, e outra. Caminharemos para um tempo que talvez consigamos juntar essas dimensões, estamos em um tempo que muitos humanos excluem um saber por não dimensioná-lo, e descarta na paixão pelo seu saber, o afeto reina sobre a lógica, e nao tem culpado, somos humanos, não vulcanos. kkkk
As medicações psiquiátricas entram nesse contexto, são muito uteis, porem poremos tratar uma neurose obsessiva (Toc), com psicoterapia, e com medicação adjuvante, só que estamos em um momento, em que a medicação por vários motivos, dentre a industria, os profissionais, a cultura imediatista, que procuram caminhos mais rápido e fáceis, para uma problemática muito maior, que são sofrimentos da psique pelas relações humanas.
Então, até dentro mesmo da minha profissão temos discussões tensas(muitos médicos também não acreditam na psicanálise, a biomedicina é a base da medicina, os dados, os estudos científicos), de porque usar uma droga (seja ela qual for, e englobando as drogas que estamos e iremos discutir), se já temos um acervo de tratamento pelo discurso muito grande e que funciona, aos quadros neuróticos, que seria a maioria das pessoas incluindo a gente. Os psicóticos são mais complexos. E droga por droga, da forma como traz, talvez adiantaria os processos da psicanalise, que realmente são mais demorados, pois necessita entender o individuo, a maioria não entende que precisa ver para alem dos sentidos, aqui a importância da reflexão, e refletir sozinho você guia o caminho do seu pensamento, um fluxo continuo, o terapeuta faz um corte, e se constroe uma linguagem a partir disso. Nem sempre nossa criação, nos da o amadurecimento humano que precisamos para lidar com o mundo real, e precisamos de lógica para isso, e ai está a psicanálise, por mais que inundada pela economia do ser humano em conhece-lá.
Estarei aguardando os outros posts, guardei o relato da sua experiencia, tornarei a rele-lo, pois a sua realidade naquele momento é expressa de modo muito descritivo, e é o real que você viveu.
Terei prazer em discutir esses temas, que sabe você não goste e estude também, planejo trazer um post do meu estudo diário, pois venho ficando cada vez com menos tempo, pela demanda do dia a dia, e assim conseguiria postar, mesmo que fosse um assunto totalmente fora da linguagem comum, e que é difícil para mim também, por estar aprendendo. E claro que estou disponível para discutirmos esses assuntos, só falar, terei o maior prazer, é o que eu faço, o que eu gosto, onde moram minhas paixões pelo conhecimento, e onde trabalho para que essas paixões não interfiram com minha lógica, e isso é difícil, ainda há muito trabalho a ser feito. kkkk
Obrigado pela discussão @thomashblum. Realmente gosto muito dessas discussões com você, e acredito que seria muito bom ter uma mente aberta ao conhecimento na área que atuo, que vai para além da medicina, é a área do conhecimento humano.