Precisamos falar...

Boa tarde! Hoje trarei o quadro Precisamos falar, onde trago esclarecimentos aleatórios da medicina. Dentre temas que julgo pertinentes na nossa sociedade, até temas polêmicos, que acabam sendo trazidos pela imprensa de modo sensacionalista, e criando uma cultura de desinformação, e preconceitos.

No primeiro, falamos a importância de trabalhar o diálogo com as crianças, de deixar elas construírem com a nossa ajuda, a sua própria linguagem.

Hoje retornarei com o tema Medicina, que após uma ótima discussão no post O paradoxo da medicina, do @thomashblum, ele me deu a ideia de trazer esclarecimentos da conhecida "pílula da cura do câncer", e antes de falar sobre a Fosfoetanolamina, decidi falar um pouco sobre medicina, tentando esclarecer alguns pontos.

Fonte: Pixabay

Como sempre é uma discussão complexa, nada na vida é simples, tudo que vemos e tomamos um conceito, temos que tomar cuidado, a quem esse conceito satisfaz. Na maioria das vezes satisfaz a nós, e consequentemente na maioria das vezes o preconceito nos satisfaz, já disse aqui o @belzunces no post Um assunto delicado - O preconceito, é humano o preconceito, contudo eventualmente temos que esclarecer alguns conceitos melhor, ainda mais quando lidamos com outros seres humanos.

Assim tentarei de modo que ache acessível, para introduzir a abordagem da medicina atual, como ela funciona, e como é um sistema complexo, ainda muito a evoluir, porém muito importante para chegarmos ao estágio evolutivo que estamos.

Para iniciar é importante dizer que a medicina seguiu um caminho cada vez mais biomédico, que até foge minha área de atuação, e que essa medicina biomédica, traz com a ciência, uma evolução imensa em poucos anos. Através de estudos científicos, dos dados produzidos, se constrói a base de conhecimento que iremos ter no futuro.

E não deixo de evidenciar o poder da indústria farmacêutica nessa área, onde com lucros de bilhões de dólares, movem pesquisas em todas as áreas, visando o lucro, e consequentemente participando dessa evolução, e do custo humano a essa evolução, por mais que a comunidade cientifica tente fiscalizar e regulamentar. No mundo de hoje, sem dinheiro não se faz nada, também é sabido, dinheiro e poder, e isso não é de hoje corrompem o homem, propenso a ser corrompido.

A ciência biomédica, é conhecida e bem consolidada, como medicina baseado em evidências. Essas evidências são produzidas por estudos, seguindo regulamentação específica, para cada tipo de estudo, alguns tipos como ensaios clínicos, tem mais peso, do que relato de caso. Essa classificação deixo aqui, um exemplo resumido da Oxford. Esses estudos devem preencher bases de critérios de órgãos institucionais legisladores internacionais.

Em maior resumo, quando se faz um estudo, ele vai ter se Grau de recomendação e Nível de evidência. Que vai depender do tipo estudo realizado, qual método, avaliação dos melhores especialistas em congresso, resultado de metanálises, outros estudos de referência, etc.

Até aqui passamos com muita pressa, na exigência que se tem sobre qualquer estudo cientifico, seja para analisar fatores de risco, fatores protetores, medicações em uso, novas medicações, novas utilidades para medicações já existentes, suspensão de medicações em uso, e outros fatores.

Fonte: Pixabay

Tudo em prol de uma organização, assim como em qualquer área, que beneficie a humanidade, tendo o grande viés que o estudo é a ciência do agora, ainda estamos navegando em uma área onde ainda tem muito a evoluir, e só se evolui a partir de algo, de uso da ciência pelo conhecimento, assim muitas condutas da época que formei em 2012, já estão proscritas.

A cada dia é um estudo novo, e a ciência muda, evolui. Porém somos uma população geneticamente muito heterogenia, e os estudos são guias, nem sempre o que está no papel, responde na singularidade do individuo. A plataforma Cochrane, que tem sede no Brasil também, é uma tentativa de organizar tantos dados, e sistematizar para acesso, dados confiáveis e realizados conforme regulamentações.

Outro importante base de dados no Brasil é a Scielo. Existem outras, e também revistas como The New Englad Journal Of Medicine, JAMA, Conselho Federal Medicina, Projeto Diretrizes e vários outras orientações e consultas confiáveis, que não estão aqui.

Como em qualquer área cada país tem suas instituições, e que nem sempre estão de acordo. Nos congressos mundiais os desacordos vão em questão, em busca de uma conduta em comum, o que nem sempre acontece. Assim existem atualmente dois polos de produção, o americano e o europeu. Que ditam as "regras" da ciência. Os países asiáticos como China e Índia estão crescendo rapidamente, e serão muito importantes nesse cenário.

O Brasil tem muito potencial, e é um grande produtor de ciência, porém a política pública e até mesmo a população, não entende. Somos um país subdesenvolvido, esse conhecimento não faz parte da realidade da maioria da população, que tem muita coisa para se preocupar como a comida, trabalho, renda, filhos. A vida do brasileiro é difícil, e os que estão no poder, que deveriam entender, também ainda estão restritos aos que os olhos podem mostrar, justifica-se que estamos em crise, a economia está em crise, e que devemos contingenciar a evolução seja humana, educacional, médica, tecnológica... mas não se pode mexer no orçamento politico e jurídico.

Não da para entender, pelo menos para mim, que o ministro da saúde, seja político, engenheiro civil e empresário brasileiro.

Em prol do mercado, exportamos cientistas para produzir aos países desenvolvidos e importamos juros.

Voltando, essas informações produzidas no exterior, são filtradas e adaptadas a nossa sociedade através das instituições governamentais brasileiras, através do Mistério da Saúde, e seu processamento de dados o Datasus, orientando o funcionamento da legislação brasileira onde através da nossa constituição:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

No Brasil o modelo médico principal é o Sistema Único de Saúde, porém pela liberdade individual, a medicina pode ser atuada no modelo autônomo, conhecido como particular. A organização dos dados científicos são realizados na direção do SUS, e das sociedades médicas que são por exemplo Sociedade brasileira de Cardiologia, S. B. Oncologia, ABP, entre outros, cada especialização tem sua sociedade, e tem os conselhos regionais como no Rio de Janeiro o Cremerj, que regulamentam a atuação médica dentro da ética de atuação e disponibilizam acessos a conteúdos científicos.

Assim seguimos orientações do Ministério da Saúde, e dos conselhos, das sociedades médicas, da literatura internacional, e devemos decidir a conduta em relação cada clínica diagnosticada. Assumindo que dentro de uma base de dados enorme, e com direções diferentes, afinal a ciência se produz continuamente, as diretrizes mais atuais de cada especialidade, serão guias de atuação, referências, que junto ao conhecimento do médico, aplicará aquele individuo específico, dentro das possibilidades que ele dispõe.

Lembro a medicina é feita no caso a caso, cada individuo é único em genética e funcionamento mental e biológico, e a base de dados nos guia, e está longe de ser a verdade em si. A medicina é uma ciência humana, o médico é um humano atuante, a medicação é uma das possibilidades de tratamento, um instrumento, assim como o próprio saber. Tratar e curar são diferentes, e os dois são importantes. E ainda há de se discutir que o conceito de cura é bem amplo. Saber diferenciar cada aspecto é importante para compreendermos.

Ditados populares:

A medicina é uma ciência de verdades transitórias.
autor desconhecido

Na medicina como no amor, nem nunca, nem sempre.
autor desconhecido

Se você não sabe o que procura, não sabe interpretar o que acha.
autor desconhecido

Exemplo Diretriz atual:
Diretriz Brasileira de Hipertensão arterial -2016

Exemplo Estudo:
Avaliação da qualidade de estudos clínicos e seu impacto nas metanálises

É isso ai pessoal, em busca da evolução, nossa sociedade se organizou, elaborou modelos de governo, e os governos modelos de atuação. Ao mesmo tempo essa organização, em busca de continuar evoluindo, elaborou ciências divididas em áreas de atuação, e busca de mais conhecimentos. Vivemos a revolução da informação, a Blockchain e a internet nos mostram isso claramente, já passamos da revolução agrária e industrial.

Alguns dizem que estamos, porém acredito que ainda estamos produzindo, e se dará o inicio da Revolução do Conhecimento, onde usaremos o conhecimento produzido, em prol da humanidade, fugindo dos estereótipos distópicos muito bem trazidos, e com bela crítica a sociedade atual, pela arte cinematográfica.

Finalizando para se elaborar um estudo qualquer que for, deve-se preencher regulamentações éticas, nem sempre foi assim, e por isso o estigma cultural, esse estudo deve ser baseado em evidências já elaboradas, por isso é obrigatório referência bibliográfica, esse estudo vai ser categorizado de acordo com o poder dele de evidência. Essa categorização vai delimitar a importância do estudo. Que vai ser absorvido pelas instituições que elaboram as diretrizes de atuação de acordo com as discussões em congressos mundiais e nacionais.

Atualmente revisão sistemática e metanálises de ensaios clínicos, éticos, sem conflitos de interesse, randomizados, duplos ou triplos cegos(sem informação tanto do cientista que faz o estudo, dos paciente do caso e do controle), com maior número de participantes, e menores fatores de confusão dos dados, são os mais confiáveis e de maior nível de evidências.

Por mais que a ciência médica evolua, assim como outras ciências, como humanas, exatas, ou formais e empíricas, dependendo da classificação e referência em uso, não há um dono da verdade, as áreas já foram mais separadas, porém ainda estão longe de se interagir como deveriam.

Somos invadidos pela cultura e a imprensa tem grande fatos nisso, procurar referências conhecidas são importantes, estamos evoluindo, sempre digo, em todas as áreas, por mais que algumas sejam mais acessíveis e visíveis que outras, a medicina não é refém do mercado, por mais que o mercado faça médicos reféns, a ciência não tem dono, é produção em si, é o que nos traz aqui nesse momento, no virtual, e não estarmos caçando para sobreviver, é o que nos faz viver mais, não o que nos torna até o momento pelo menos imortais.

A ciência médica teve muito custo humano na história, e cada vez mais esse custo é debatido e criticado, ainda se tem problemas a resolver, porém é muito claro que o caminho que estamos, é um caminho ético em busca do conhecimento. Humanizar mais a medicina ainda é necessário e urgente!

Somos seres biológicos, animais racionais, produzimos a ciência, e não ela nos produz. O futuro depende de muitos aspectos, nunca se teve uma sociedade como um todo tão evoluída na historia até então descoberta, termos noção disso e produzirmos agora, nos faz continuarmos a evolução, que sabe um dia não faremos o mercado refém da ciência em prol da humanidade e não de alguns humano.

Chegamos aqui e falei muito de dados, e como a biomedicina utiliza sua produção e precisa de base de dados para diminuir a margem de erro, o que será da absorção da medicina da tecnologia Blockchain?

Tem alguns tokiens interessantes saindo. Ainda não me satisfez os que vi, também não tenho ideias até o momento melhores. Entretanto é um novo mundo, uma nova dinâmica de avaliação e acesso de dados, uma nova tecnologia. Será que a medicina vai demorar a se abrir a esse inevitável mundo novo? O futuro nos espera, e espero que seja um caminho em prol da humanidade e não do lucro.