Parte I

    No meio de papeis abandonados (entre outras merdas!), apontamentos de um mind trick comentado com mais apontamentos manuscritos nas folhas manchadas do tempo.     Uma velha nota em maiúsculas vermelhas surgiu ao levantar a mola da capa "BURROS, BOMBAS E SOCOS NAS TROMBAS - «NÃO LÊR SEM SABER QUE RAIO É ISSO!»".

    "FORMA CC", apontado no canto superior direito da primeira página - "larga a droga!", lá fora os cães ladravam. "FORMA CC" como se fosse uma porta a outra memória do Ser. Aqui, é sempre aqui. Mas agora, aquelas três folhas faziam lembrar outro aqui. Não um estado permanente, constante - aqui já foi tanta coisa durante tanto tempo. Outra maneira de olhar o mundo, uma maneira específica de olhar o mundo, uma maneira forjada de olhar a realidade - um filtro limitador para os libertar de olharem a realidade por túneis, prismas, tradições, mitos, lendas ou qualquer outra forma prefabricada de conhecer a natureza das coisas - toda a ideologia é sunambulismo porque aqui não interessa opinião, em caso nenhum é da natureza da realidade adaptar-se às nossas preferências. O Ego não precisa morrer se desaparecerem primeiro os filtros do costume.

    Talvez porque a ideia roça, ou depende, de um nihilismo manhoso - ou porque só agora tive tempo de fumar um cigarro - ainda fico na dúvida se é saudável dar este tipo de ideias a quem quer que seja. "Sê o que quiseres", não é o mesmo que "sê quem queseres", só podes ser quem sempre foste mas podes ver o universo em que sempre viveste de uma infinidade de maneiras. Não precisamos de imaginar muito para perceber que ao sabermos de um detalhe, por vezes, a nossa narrativa interior vê-se obrigada a mudar a percepção que temos da realidade à nossa volta. Este é o problema que se coloca. E se existisse uma ideia tão simples que nos libertasse, para o bem e para o mal, das nossas percepções mal filtradas e nos permitisse a realidade na sua completude, em nós. Agora, isto, mas sem destruir a individualidade da pessoa, sempre me deu vontade de rir. Não é uma boa dose de LSD e ficar perdido noutra realidade - é mais uma questão de ser deus em si mesmo, ou lá o que era. Na dúvida entre aniquilar ou desmanchar-se a rir com a ideia só há Parte II se houverem upvotes suficientes para a inspiração baixar...

HAH, isso querias tu!

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