Eu sou a pior mãe do mundo!!!

in #pt6 years ago

Hoje em dia está sendo muito falado sobre os tabus maternos e toda uma realidade está sendo escancarada sobre as aventuras de se criar um filho desde o útero até a vida adulta. E isso é muito bom, porque realmente só sabemos como é a vida com filhos quando nos tornamos pais e adentramos nessa fase da vida, ainda que, acredito eu, mesmo com dez filhos criados, nunca saberemos de todas as coisas e sempre nos surpreenderemos.

Pelo menos pela minha experiência e pelas mulheres que conheci, toda mãe conhece o desconfortável sentimento de estar falhando em algo, de ter que optar por alguma coisa e não por outra, de não ter feito algo para gerar bem-estar ao seu filho ou por coisas tão mínimas que às vezes nos pegamos pensando que estamos começando a pirar.

Talvez existam mães que não sintam essa culpa materna, mas creio ser um sentimento universal e meio instintivo, talvez, já que dentro de nós podemos estar pressentindo que estamos falhando com nosso papel na espécie humana ao não conseguindo dar conta de cuidar da própria cria. Ainda mais na nossa geração que vemos pela tela do celular aquelas mães perfeitas saindo da maternidade com o cabelo e a unha feita, o bebê dormindo e de barriga cheia numa paz que não conhecemos.

Eu sempre me sinto culpada! Aliás, nesse exato momento a Clarice está só de calcinha no meio de uma bagunça enorme na sala e enquanto escrevo isto aqui, ela tenta disputar minha atenção com o notebook tentando me convencer a brincar com alguns roupas espalhadas pelo chão. E ainda não lembro se ela escovou os dentinhos hoje e se tomou água o suficiente!!! Como ouvi num podcast dias desses, bate um sininho lá dentro da cabeça seguindo de uma voz dizendo: "você é uma mãe de merda!"

O jeito como tentamos lidar com esta culpa é o segredo para tentarmos não focar só nisso e perceber as coisas boas que já foram feitas. É um exercício de reorganização pessoal e afetiva muito grande, pois precisamos manter uma mínima sanidade mental para podermos cuidar bem dos nossos pequenos. Sempre construímos um ideal dentro da maternidade, seja na alimentação da criança, nos métodos educativos, nas marcas de roupas, na organização do quarto, enfim. O problema é que este ideal nem sempre é alcançável e mesmo aquela famosa que acabou de parir gêmeos e que já está fazendo academia e indo no salão passa por certos momentos de angústia (pelo menos eu acho que sim), e não ajuda nada ficarmos nos martirizando pelo fato de não estarmos nem conseguindo pentear o cabelo e tomar um banho.

Além disso, somos de uma geração "psicologizada" que, sob influência freudiana, é bem normal culpar nossos pais pelos pequenos e grandes traumas das nossas vidas que acabam gerando algum problema pessoal. Então, quando nossos filhos nascem é como pisar em ovos, sabendo que qualquer ação sua pode simplesmente marcar a vida do seu filho para toda a vida!

O primeiro momento que senti a culpa materna bater forte foi nas primeiras horas de vida da minha filha. Por ter nascido duas semanas antes da data prevista, eu mal tinha organizado todas as coisas necessárias para o seu nascimento e quando estourou a bolsa foi uma correria tão grande que: esqueci das luvinhas!!! E estava um frio cruel, então por mais mantas e cobertores que eu a enrolava, as mãos continuavam geladíssimas. Então não teve jeito: eu era a pior mãe do mundo por não aquecer direito minha filha recém-nascida!

Hoje em dia aprendi - muito pouco - a lidar com isso. Com certeza vou errar muito e talvez gere um ou outro tema para as terapias da Clarice na sua vida adulta, mas a questão é que não tem como sofrer isso por antecipação, então meu único recurso é colocar na minha cabeça como numa nota mental que eu sempre, por toda a minha vida, estou dando o meu melhor e tudo o que eu ofereço à ela é simplesmente tudo o que eu tenho para oferecer. Que não sou nem nunca serei uma mãe perfeita e que, quem sabe, ela mesma entenda isso.

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Moeder en kind in de duinen, Adolph Artz.

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Olha, minha irmã sofreu uma depressão pos-parto. Ficou se achando a pior mãe durante um periodo...graças a Deus superou, acho que mais pela minha sobrinha que por ela mesmo...porque a menina é uma doçura!
Essa busca pela perfeição é muito danosa a gente. Saber que somos humanos e falho, reconhecer isto é fundamental para nos admirarmos como especie.
Já dizia o poeta:
"Perfeição demais me agita os instintos
Quem se diz muito perfeito
Na certa encontrou um jeito insosso
Pra não ser de carne e osso, pra não ser"

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Olá @joaolyra! Muito obrigada pelo comentário e pela leitura. Eu tive depressão também, mas foi numa fase diferente, minha filha já estava um pouco maior. Por isso tenho ideia do que sua irmã passou, é um sofrimento muito terrível. Acredito que por estarmos o tempo inteiro assistindo na TV, vendo perfis perfeitos na internet e etc e vemos que talvez por não ofertarmos tudo o que algumas mães ofertam somos as piores mães que já existiram... No entanto, como já foi dito, justamente por essa preocupação já nos mostra que sempre estamos tentando dar nosso melhor.

E esse trecho mostra exatamente o que devemos pensar: ninguém é perfeito nem vai ser.

Obrigada novamente!!!

Confira aqui no Discutindo saúde no Brazilians o seu post selecionado no projeto de saúde do @brazilians. Obrigado pelo conteúdo.

A parte sobre a geração influenciada pela psicanálise me chamou atenção. Não tinha pensado nisso dessa forma... Que preocupação deve ser pensar nisso, que daqui uma década e pouco a sua filha pode levar à terapia essas coisas. Que trauma será que a criança pode ter? Às vezes são coisas que parecem tão pequenas para nós... E o quanto os pais podem sentir culpa? Mesmo assim, deve ser incrível ver a complexidade de uma psique madura se construindo na sua frente a cada dia.

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Muito obrigada pela leitura e comentário, @flaviusbusck! Não é fácil ter a frente esta possibilidade de que você pode causar algum dano psicológico em outro ser humano na tentativa de educá-lo... Acredito qie antigamente não se pensava muito sobre isso porque era algo muito natural, hoje em dia já está mais complicado e parece que a criação de filhos demanda muito mais recursos psicológicos e financeiros que antigamente, nisso a gente fica se cobrando para criar filhos bem sucedidos e não só do ponto de vista financeiro, mas também mental!!! Agora pensa tudo isso e a possibilidade de ter mais um heheheh, não é para qualquer um!

Não é, não :D Hehehehe! O que acontece é que as mães, hoje, fazem jornada tripla, trabalham fora, cuidam da casa e criam os filhos. Não há criatura que dê conta, o ideal é o que acontecia nas gerações passadas quando as mulheres da família se revezavam nas tarefas e as crianças eram criadas não só pela mãe, mas pela tia, pela avó e pelas irmãs mais velhas também ;)

Oi, @casagrande!!! Muito obrigada pela leitura e comentário. Hoje em dia mudaram muito as coisas, mesmo... E acredito que os resultados disso só saberemos daqui uns anos e é esse meu medo heheheh, apesar de agora ficar com ela o tempo inteiro, sempre fico pensando nas faltas que devo estar cometendo... Enfim, quem sabe eu acerte em algo, mas a culpa é difícil de não existir, mas vamos seguindo! Abraços!

Muito forte seu relato @caroline.muller. E espero que a escrita te ajude, até para refletir e descarregar as angústias da alma. Existe essa interpretação do senso comum de Freud, e por isso acredito ser importante trazer esses temas, mas é uma linguagem difícil, e pretendo traze-los como estudo, até para entendermos juntos melhor esses assuntos que são muito mal interpretados como um todo, também tenho muita dificuldade de interpretá-los, lembra a filosofia.

Então de certa forma, o Freud tentou desvendar os mistérios da mente humana, e a partir daí ocorreu uma revolução no estudo mental, quando a lobectomia cada vez ganhava mais espaço. Só que esse conhecimento, por interpretação geral acaba caindo numa valoração da dinâmica que nada mais é que humana.

Somos o que somos, pela nossa criação, pela nossa cultura, pela nossas ligações com o mundo, pelas nossas relações, cada um tem uma chave que move, e que não está no controle de causa e efeito, não existe uma receita de bolo, e isso que nos torna humanos.

A culpa é por um ideal, e uma exigência que você faz em sua dinâmica, que mesmo você sabendo que é o melhor que pode, acredita nos padrões ideais de que poderia ser melhor. Porem como já diz, é o melhor, o melhor da sua realidade, cada um tem um jeito, uma criação, uma personalidade, e Freud traz muito isso, que nos culpamos por esquecer que o mundo real não nos pertence, pertence a ninguém, e nos só fazemos parte dele.

Espero que consiga aliviar sua culpa, pois o julgamento mais duro que temos, é sobre nossa moral, e as vezes não precisamos julgar o tempo todo, e entender que o dialogo e amor, e entendimento que nem tudo esta no nosso controle, e que somos humanos, imperfeitos em sua essência, e ricos em afeto. Não há padrão, não há ideal, existe um mundo real, e existe a nossa realidade, e fazer o que podemos muitas vezes é o bastante, essa preocupação já nos diz que é o bastante.

Muito obrigada pelo seu comentário, @matheusgrr! De fato, minha visão sobre Freud e psicanálise em geral é bem de senso comum, mesmo. Mas chega a ser meio que piada essa questão de "a culpa é da mãe!" Eu por exemplo, sempre culpei minha mãe por todos meus traumas (ainda que muito leves, claro) e só agora que sou mãe que me livrei desse peso. Porque é muito, muito difícil mesmo educar e cuidar de um filho. E sobre o que você diz "o mundo real não nos pertence, pertence a ninguém, e nos só fazemos parte dele", eu nunca pensei dessa forma e isso pega muito na questão paterna porque é muito difícil não ser egoísta quando se tem filhos, queremos criá-los ao nosso modo e, quando não saem do jeito que queremos, achamos que foi só a nossa culpa e nos decepcionamos...
Quanto ao alívio da culpa, é muito difícil que consiga hehehe. Sempre penso que algo está faltando, mesmo nos mínimos detalhes.

Agradeço novamente pela sua leitura e comentário, muito obrigada por esclarecer um pouco sobre a questão do Freud. Abraços!

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Saudações, Carol. Gostei muito de seu texto. Não sou pai, porém, imagino como deve ser difícil criar filho, principalmente sendo mãe, pois, dentro da cultura ocidental, as mães são mais responsabilizadas pela criação dos filhos do que os pais, geralmente, elas permanecem mais tempo com a "prole".
Seu texto mostra que é uma pessoa reflexiva, isso é bom, pois quando erramos e pensamos sobre o erro, temos a oportunidade de corrigí-lo e não nos mantermos sempre no mesmo caminho.
Só coloco uma questão sobre isso. Não são todas as mães que tratam bem seus filhos com afeto. Há mães narcisistas perversas que criam o filho(s) com um grau de maquiavelismo alto, manipulando, mentindo, maltratando..... Isso não é fácil de ver, pois geralmente essas mães são uma persona fora de casa e outra dentro, então, quem vê a situação de fora acha que a mãe é excelente e que o filho(a)(s) são culpados, pois como são imaturos ainda, pela questão da idade, não conseguem perceber a manipulação que sofrem e tendem á ser mais reativos. Essas mães percebem isso rapidamente e usam isso contra os filhos.
Como sou psicólogo, vejo muitas moças que possuem depressão e dentro da conversa, geralmente alguma questão familiar ligada á mãe é envolvida.
O fato de você perceber e assumir o erro, já a torna uma mãe com possibilidades infinitas de melhoras. As narcisistas perversas nunca reconhecem que erraram e sempre jogam seus erros para cima dos filhos.

Espero não ter me extendido muito. Fiz esse comentário pois seu texto me chamou muita atenção.

Bom dia, Carol!!

Ai, ai, ai... Parece que eu tô me vendo quando for mãe! hahahaha
Não é uma mãe horrível, Carol. Uma mãe horrível não enxerga com esse olhar tão reparador que se pudesse voltava no tempo para deixar uns 20 pares de luvinhas por precaução. rs
És uma boa mãe. A mãe que a linda Clarice precisa.
Forte abraço pra ti!

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