O amor para Platão e o amor platônico. #“Oamor”ou“Aspaixões”

in #pt6 years ago

A grande maioria dos leitores deve saber que Platão escrevia em forma de diálogos e não textos corridos dos quais estamos acostumados. Nestes diálogos ele expõe seu pensamento nas palavras de Sócrates, e, é ele que nos dirá a visão de Platão acerca do amor.
 
No primeiro texto desta série, eu trouxe o mito do andrógino (que pode ser lido aqui), retirado do livro de Platão “O Banquete”, após as palavras de Aristófanes, Agatão faz seu discurso sobre o que pensa ser o amor (não vou explanar em detalhes pois é bem próximo a visão de Sócrates, com algumas ressalvas).




 
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A primeira questão para Sócrates é: o que é o amor? Antes de qualquer coisa precisamos saber o que ele é, então, ele nos define o amor como sendo a busca da beleza e do bem. Após isso ele então nos diz:
 

Esse então, como qualquer outro que deseja, deseja o que não está a mão nem consigo, o que não tem, o que não é ele próprio e o de que é carente; tais são mais ou menos as coisas de que há desejo e amor, não é? (PLATÃO, 2000 p.32)

 
Ou seja, o amor é desejar as coisas que não se tem. Não amamos o que já possuímos e sim o que não temos ou o que queremos ter para nós. Além disto, todos desejam o que é melhor, ou pensam ser melhor, ninguém escolhe o pior, sendo assim, o amor é a busca pelo belo e pelo bom.
 
Vou aprofundar um pouco mais neste assunto, você leitor tem um cachorro, no presente você não o ama pois o tem ali, não existe a necessidade de tê-lo ao seu lado pois ele já está ali, mas você quer tê-lo no futuro, até o último dia de sua vida, mas como o futuro ainda não existe e você não “possui esse momento”, é exatamente isso que você ama, o que você ainda não tem.
 
Não generalizando, mas o ser humano é exatamente assim, quando desejamos conquistar alguém, damos atenção, presentes, enfim, fazemos todo o possível para conquistar, mas muitos, muitos logo após conquistar, deixam de lado ou já não dão a mesma atenção devida, ou, a mesma dedicação para conquistar. Talvez, mas apenas “talvez” daí surja o conceito do senso comum de: “só damos valor quando perdemos”.
 
Para Platão inicialmente o amor vem da nossa sensibilidade, é o desejo sexual, é a beleza do corpo, a vontade (instintiva) de procriar, é o desejo inconsciente do belo, é uma forma de se eternizar, pois filhos são uma forma de sermos eternos.
 
Mas quando perdemos o desejo por outro corpo, começamos a desejar outros corpos, partimos do particular ao universal, portanto Platão nos diz que devemos continuar sempre pela busca do belo, pois a beleza apenas é parte deste conceito. Em sua visão nunca conseguiremos alcançar o conceito em vida, mas sua busca se torna necessária.
 
Mediante essa busca pelos conceitos universais, do bom e do belo neste caso, que surge o termo errôneo ou equivocado de:
 

Amor Platônico


Este termo, no senso comum, é usado para designar o amor sem qualquer tipo de interesse entre casais, seja ele sexual ou material. Pode ser também o sentimento não correspondido, ao qual a pessoa que “ama” nunca declarou seu amor, neste caso seria algo distante ou impossível, mas ambos os conceitos estão errados e explicarei por quê.
 
Para Platão, existia o mundo sensível, o que vivemos, e, o inteligível, o mundo das ideias (já escrevi no Steemit sobre: aqui). Para ele, a busca pelo amor verdadeiro não se dá no mundo sensível, apenas no inteligível, pois neste mundo apenas temos a “ideia” de amor-perfeito, sem brigas e traições.
 
Pois o mundo sensível é corruptível, instável. Já o mundo inteligível é imutável e atemporal. Portanto, na visão de Platão, não apenas o amor, mas qualquer conceito universal como o bom, o belo, a justiça, a virtude, entre outros, apenas podem ser alcançados no mundo inteligível e não no sensível.
 
Por fim, neste mundo nunca alcançaremos o “amor platônico” apenas após transcendermos, isto na visão de Platão.
 
Obrigado pela leitura, espero que tenham gostado e até a próxima!
 
REFERÊNCIAS:
Versão eletrônica do livro “Banquete”
Autor: Platão - Créditos da digitalização: Membros do grupo de
discussão Acrópolis (Filosofia) Homepage do grupo:
http://br.egroups.com/group/acropolis/

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Parabéns, seu post foi selecionado para o BraZine! Obrigado pela contribuição!
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Boa, @antigourmet! Parece-me que os sentimentos são tão complexos que não encontramos definições suficientes para explicá-los. No grego, utiliza-se várias palavras para amor, não é mesmo? O amor pode ser muita coisa, mas geralmente é associado com afeto, desejo ou paixão. Assim como a felicidade é muito associada a contentamento e prazer. Dá umas boas horas de conversa e várias páginas de definições. Obrigado por compartilhar ;)

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Sim @casagrande, na Grécia antiga eles distinguiam vários tipos de sentimentos e sensações que atualmente representamos com uma ou poucas palavras, assim como vc descreve.
Obrigado por ler e comentar.

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Ótimo texto @antigourmet! Gosto muito dos seus textos e suas interpretações sobre a filosofia. Sou sempre suspeito a falar, pois além de gostar, leio, e é base da minha função social. Na perspectiva da psicologia como disciplina médica, alguns autores tomam a teoria das ideias de forma mais ampla, lastreados em Kant, tudo que existe, antes de existir em matéria, existe para nós humanos em forma de ideia, as ideias compõe o pensamento na linha fenomenológica. Falo isso não em relação seu post, mas em relação pensamento filosófico atual da massa, que associa esse pensamento ao mundo místico. De toda forma, são perspectivas que devem ser complementares e criticadas para podermos conhece-las melhor, ter alguém que pense sobre as paixões e o amor nessa época é incrível, até hoje tem-se pouco em relação a norma. Por isso são fontes de aprendizado! Obrigado por compartilhar seus textos para aprendermos! Valeu!

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@antigourmet parabéns pela feliz abordagem de um tema que a todos interessa, o Amor.

Após muitos anos volto a ler sobre o tema. e sobre Platão. A primeira vez foi no Liceu onde estudava a disciplina de Filosofia e nalgumas referencias literárias nas aulas de Português.

Agora nesta vez tenho o previlégio de ter o gosto pela leitura e 58 anos vividos de pouca teoria e muita prática.

Fui solteiro até os meus 44 quando vim viver para o Brasil. Vivi paixões intensas e loucas em que não pensava em mais nada, comia, respirava paixão, vivi amores mais ou menos suaves que nada mais são do que companheirismo, amizade, respeito, cumplicidade, partilha, fusão, sexo, felicidade ou não, depende muito da cabeça de duas pessoas. E finalmente sempre vivi e continuo a viver buscando e admirando o belo e bom sempre tentando que o desejo me dê incentivo para obter o tão quase inatingível amor perfeito, sim porque para mim não existe o impossível.

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Obrigado por comentar e acrescentar a todos sua experiência @pataty69, acho fantástico ouvir esse tipo de estórias.
Já eu diferente de vc, tenho 41 anos e fui casado 3 vezes, das quais obtive 15 anos de experiências de convivência com outro ser, hoje, não quero mais casar e apenas viver essas sensações que vc descreveu.

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Hello @antigourmet, thank you for sharing this creative work! We just stopped by to say that you've been upvoted by the @creativecrypto magazine. The Creative Crypto is all about art on the blockchain and learning from creatives like you. Looking forward to crossing paths again soon. Steem on!

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