Plantas sofrem e o veganismo não liga pra elas

in #pt6 years ago (edited)

▬ image source: The Body Shop ▬

"Mas e as plantas? Elas também sofrem, o veganismo não liga pras plantinhas!"

Se formos pensar bem, plantas sofrerem não anula qualquer necessidade de fazer algo a respeito para diminuir o sofrimento no mundo.

Na verdade, quando vamos estudar teorias utilitaristas como a do filósofo Peter Singer, vemos que o conceito de senciência é central para determinar, tanto em grau de quantidade quanto de qualidade, um norteador moral para nossas ações em busca de um mundo mais justo, ético e igualitário (em termos de dignidade e tratamento respeitoso às diferenças).

Senciência seria, aqui, o grau de capacidade de um ser vivo experienciar dor e prazer. Assim, a senciência de humanos é, em geral, maior que a de vacas, que é maior que a de formigas, que é maior que a de plantas, etc.

À luz da senciência, vemos que faz mais sentido deixar de comer animais que deixar de comer plantas.

A bioética é uma área da ética, surgida para tratar de questões da medicina e da biologia, que tem alguns princípios essenciais para seu estudo normativo, e um deles é a redução de danos. Em outras palavras, aplicar o princípio da redução de danos é analisar as consequências de suas ações e reduzir aquelas que tem as piores consequências. E não é nenhuma novidade que a exploração animal tenha consequências mais devastadoras — tanto para a senciência quanto para o meio ambiente — do que a exploração vegetal. É simplesmente mais custoso explorar animais que explorar frutos da natureza cuja senciência é extremamente baixa (para não dizer inexistente).

Assim sendo... é um argumento muito fraco o de que, dado que plantas têm senciência, logo explorar animais está justificado. Simplesmente não está, e acabo de demonstrar isso.

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Paro para refletir sobre isso por vezes, depois de ver algumas denúncias, e protestos. Ë bom ver posts assim para lembrar de refletir sobre a alimentação. Venho tentando há algum tempo equilibrar melhor minha alimentação. E pensei muito na crueldade com os animais, já que somos animais diferentes, que compartilha muito em genética. Claro que existe uma cultura ainda muito a trabalhar, e mesmo sabendo pelos meus hábitos alimentares e poucas reflexões sobre alimentações. Ainda estou longe de me tornar um vegetariano ou vegano, já melhorei bastante alimentação, em geral, e a base de animais também.

E trazer temas assim nos faz refletir, e refletir é primeiro passo reação, que talvez em grande maioria seja contra os hábitos alimentares sem o uso da proteína humana, e discutir sobre, estimular esses debates e ter gente para lutar por, talvez um dia seremos mais humanos com os animais, com as plantas, com a natureza, com outros animais da nossa especie. É uma talvez uma utopia, porem é um norte, um caminho, e cada vez mais vem ganhando o seu espaço. Obrigado pela reflexão.

Dale, @matheusggr! Fico feliz que, sobre esse assunto tão polêmico, você esteja aberto para considerar as razões por trás da ideia de que há algo errado com nossos hábitos no que tange à consideração dos interesses dos animais. A busca pelo aperfeiçoamento moral veio, vem e sempre virá pelo confronto com ideias e costumes bem estabelecidos, como por exemplo o costume alimentar aparentemente ingênuo de consumir carnes, ovos e leite. Acredito que o principal é considerar o princípio de redução de danos e, assim, ver o que consegue fazer. Não precisa abandonar a alimentação de animais por completo. Eu mesmo não sou vegano, sou ovo-lacto-vegetariano. Entretanto, racionalmente vejo que o mais próximo de um comportamento moral condizente com as possibilidades da sociedade contemporânea é um comportamento vegano. É custoso? Sim, exige a superação de certos desafios culturais, econômicos e sociais. Mas quem poderia dizer que o avanço da moralidade humana viria sem custos? O que não tem custo é a comodidade. Valeu!

Confira aqui no Discutindo saúde no Brazilians o seu post mencionado no projeto saúde @brazilians. Obrigado pelo conteúdo.

@alyaugusto, muito interessante o seu ponto de vista apresentado, porém eu preciso dizer que sou contra todo o pensamento utilitarista pois ele esquece o viés principal da ideia a ser tratada. No contexto, quando as pessoas utilizam o conceito de pensar no sofrimento dos animais, baseando-se na questão utilitarista, estão falando que, elas preferem não comer animais do que plantas porque elas conseguem observar o sofrimento dos animais mais fácil do que nas plantas.
É lógico que aqui eu entro no contexto relacionado somente a, ser vegetariano por conta das crueldades com os animais, que sinceramente, é muitíssimo questionável pois questões ligadas a ética no campo, hoje são muito importantes, não somente em questões de direitos dos animais, mas também, devido ao fato de que, animais bem cuidados e bem tratados tendem a ter melhor sabor e muito mais facilidade para reprodução e manuseio, digo isso por conhecimento de causa, haja visto que meus familiares possuem propriedade rural, onde vivi até um ano atrás.
Concluindo, acredito que pessoas que comentam sobre as crueldades dos animais deveriam analisar antes mesmo se, eles sentem pena dos animais porque a demonstração de sentimentos negativos neles é muito mais perceptivo, ou se realmente, é uma questão de tentativa de diminuição de crueldade como um todo, pois neste caso, existem diversas análises que precisam ser levantas para se tomar como base em que caso a crueldade é realmente maior.

Valeu pelo comentário @robertoueti! Interessante perspectiva.
Só não entendi que "viés principal da ideia a ser tratada" é esse que os utilitaristas esquecem.

Quanto a animais melhor tratados terem melhor sabor, isso pode ser comum sim, eu só não diria que seja algo ético. E nem falo aqui da questão utilitarista em jogo, pois o utilitarismo está preocupado com as consequências (como se os animais são bem cuidados ou não), e não com as intenções de quem cuida (caráter deontológico). E as intenções de que você fala, que visam manter atitudes supostamente mais éticas porque o resultado final será um sabor melhor, são claramente antiéticas num sentido teleológico/intencional. Afinal é simplesmente se utilizar daquele ser, que a pessoa diz se preocupar, como meio (carne) para um fim (sabor). Não é vê-lo em sua integridade como um ser de direitos.

Ah, e sobre o bem-estar animal resultar em carne melhor, temos que relevar como é feita a vitela também, uma das carnes mais desejadas — que não passa de um bezerro que nasce, vive e morre em puro sofrimento, confinado sem o mínimo de locomoção para sua saúde, destinado ao mal-estar e dor. Se dar bem-estar a animais simplesmente porque se é um meio para se obter mais sabor não é ético (deontologicamente, não de modo utilitarista), o que dizer deste caso então? O bem-estar animal não é a regra, pois no fundo o animal não é a prioridade — se fosse, seria no mínimo tratado como tratamos cães e/ou gatos.

Agora... não posso falar sobre todas pessoas que falam sobre crueldades com animais. Mas saiba que, ao menos no meu caso, é pura questão ética. A demonstração de sentimentos negativos neles instiga empatia, qualquer pessoa minimamente sensibilizada fica incomodada com isso (não à toa os matadouros ficam longe da cidade grande e dos supermercados). É como o humorista Ivo Holanda sem querer mostra nesta pegadinha do Moedor de Porco: as pessoas não querem saber como o que elas comem é produzido, pois elas não querem se sentir mal pelo fato de estarem matando estes animais que elas sabem ser inocentes. Assista:

Eu adoto a perspectiva utilitarista pois acredito que é preciso lutar contra a entropia, e isso ocorrerá com a diminuição do que mais desfaz a vida, que é o sofrimento no mundo.

Fui vegetariano (e quase vegano) por mais ou menos 5 anos. Não é muito comum ver ex-vegetarianos, mas meu caso foi de decisão pessoal. Acabei por aprofundar meus estudos a respeito de alimentação e saúde, principalmente baseado no conceito da dieta paleolítica ou se preferir, na dieta padrão que regeu o homem até pouco tempo antes de revolução industrial, ou seja, milhares de anos. Antes dessa mudança estudava muito a respeito da saúde do corpo e o vegetarianismo, o motivo inicial que me levou para longe da carne foi o sofrimento animal, de fato, aquele starter pack (Terráqueos, Não Matarás, etc) e depois, bem educado dentro disso apenas deixei de comer, aprendi o universo da alimentação vegetariana. O argumento de veganos serem insensíveis é um pouco dramático demais, acho que não dá pra dar bola pra isso, mas para os que dão bola, daí temos os frugívoros, que só se alimentam do que a natureza dá sem ter de machuca-la. Claramente você vai precisar decidir entre ter uma saúde completa e estável e ter uma mente limpa e em paz sem causar sofrimentos. Os dois não é possível. O que é possível é relevar. É o que eu faço hoje, com uma percepção muito mais sincera e honesta a respeito do meu alimento, onde como carne por que sei que ela faz parte de minha dieta assim como os inúmeros vegetais que aprendi a amar. É egoísta quando visto que cego meus olhos diante do grito de dor da vaca degolada pendurada em um gancho, mas penso que tenho convicções firmes a respeito de minhas metas aqui na terra e em determinados pontos precisarei ser egoísta, não é possível resolver tudo. Numa visão ideal de vida eu só comeria carne de faxinais, colonias rurais, animais tratados soltos, em partes isso já é possível em meu universo de cidade pequena, mas não completamente.

Interessante tua trajetória, e na verdade acho que até que é bem comum que as pessoas tornem-se vegetarianas e depois voltem a comer animais. A questão é se isso é um regresso moral ou não.

Agora, quando você diz que "Claramente você vai precisar decidir entre ter uma saúde completa e estável e ter uma mente limpa e em paz sem causar sofrimentos. Os dois não é possível.", eu tenho sérias ressalvas, pois não é difícil encontrar vários e vários casos de veganos super bem de saúde. Inclusive há veganos halterofilistas, como o Patrik Balbomian, que já venceu campeonatos de strong man:

Se você procurar no Facebook mesmo encontrará grupos de musculação vegana. Há pessoas de todos os tipos interessadas na causa animal, não por conta de saúde ou dieta, mas simplesmente porque o consumo que surge do sofrimento animal é desnecessário, não precisamos dele, não faz sentido quando nosso círculo moral é ampliado o suficiente para abarcar seres de outras espécies (como um dia precisamos ampliar para abarcar mulheres, negros e por aí vai).

Agora, se comer carne pode parecer totalmente necessário pra alguém, é bom saber que carnes de laboratório já estão sendo testadas e melhoradas para que sejam comercializáveis. Quando isso ocorrer, e o sabor e textura forem basicamente idênticos aos de animais, com custo da carne de laboratório ainda mais barato, quem ainda preferir matar animais para se satisfazer não estará sabendo acompanhar seu tempo.

E perdão se sou chato nesse assunto, é que minha ambição ética e acadêmica é distribuir a noção de que precisamos desafiar a nós mesmos, especialmente quando isso envolve salvar vidas.

Boa cara, já dei uma boa pesquisada nesse pessoal vegano que vibra com saúde perfeita e é campeão de algumas coisas, e acho que isso é sim possível, mas penso nisso como uma conduta exceção. Algo como: é possível, mas não é o natural de nosso organismo. A respeito de detalhes tecnicos, aconselho o Dr Carlos Souto, que estuda a dieta paleo baseada em ciência pura e evidências confiáveis. Aqui tem uma postagem legal sobre o assunto:
http://www.lowcarb-paleo.com.br/2013/11/vegetarianismo.html (se tiver paciência de ler). Mas realmente sou bem de boa com tudo isso. Acho que dez vezes um vegano do que um obeso mórbido, mas não é raro ver obesos veganos, afinal, descambam para o carboidrato, o que é nitidamente um problema, dado que você favorece a vida animal mas comete suicidio lento...
Sou completamente a favor da carne de laboratório e não vejo a hora disso se tornar verdade, não tenho nenhum fetiche de homem caçador, hehe, espero sinceramente que essas pesquisas acelerem! Obrigado pelos links e sugestões.

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