Evite ruídos, fale corretamente

in #pt6 years ago

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▬ Friedrich Nietzsche e Bertrand Russell, filósofos com diferentes métodos de comunicação | BBC Radio 4

Um dos desafios mais insurgentes na minha área de atuação acadêmica é sobre o quão eficazes estamos sendo na comunicação de nossas ideias. Enquanto alguém que estuda filosofia, é corriqueiro considerar uma distinção que se faz entre dois tipos característicos de filósofos: os analíticos e os continentais.

Falando de um modo bem simples, os analíticos são aqueles que acreditam na possibilidade de aumentarmos a precisão da nossa linguagem. Para eles, uma boa comunicação depende de usarmos as melhores palavras não-genéricas que melhor descrevam nossos pensamentos, pois palavras genéricas (como "Ser" e "Nada", comuns na ontologia) costumam mais causar dubiedades e variações nas interpretações do que progredir no debate. Para os continentais, entretanto, a precisão da linguagem é limitadora do fazer-filosófico, pois ao seu ver a filosofia deve permitir a construção de pensamentos por meio de narrativas e transmissão de experiências e intuições particulares dos filósofos.

A reflexão que aqui trago, porém, não se basta nesta distinção entre continentais e analíticos. Antes, o emprego da boa comunicação a que me refiro não é uma questão de qual método devemos empregar na construção de nossos pensamentos; o foco a ser dado para transmitirmos nossas ideias dependerá, acima de tudo, do contexto no qual estamos envolvidos.

Tente falar como um profissional do Direito em uma escola pública: você muito dificilmente será entendido. Aliás, é bem comum que os estudantes não entendam seus próprios professores — por que seria diferente com alguém cuja forma de comunicação é tão distante da realidade escolar? Podemos extrapolar este exemplo para outros casos, mas acredito que vocês já captaram a ideia.

Agora pare e pense naqueles profissionais que, por uma necessidade estratégica, precisam aprender a usar jeitos diferentes de se comunicar em diferentes ambientes. O médico estuda por longos anos numa universidade, aprendendo conceitos complexos sobre a anatomia humana, falando em termos que o distancia da grande maioria das pessoas de qualquer nação; entretanto, quando precisa atender cidadãos comuns no consultório, ele se utiliza da linguagem do povo, sempre atentando para o tipo de paciente que está diante de si (se for uma criança, até linguajar infantil cabe).

Vale atentar para um detalhe: embora o contexto precise ser sempre relevado, a boa gramática está sempre presente. Por uma questão de eficiência na comunicação, precisamos falar evitando gírias e termos que causam interpretações contraditórias, priorizando fazer de nossa sequência de palavras um todo coerente e transmissível em sua essência.

Não que o formato importe mais que o conteúdo, mas quem pretende dizer algo, de forma séria e equilibrada, na internet, precisa entender a necessidade de se escrever corretamente.

Não só pela seriedade para com as palavras que essa simples atitude demonstra, por parte de quem escreve, mas até mesmo para evitar ruídos de comunicação e para, especialmente, evitar que as pessoas foquem em erros pequenos e que só têm a fazer com que os debates atrasem por falta de objetividade no assunto.

Por favor, se preocupem mais com as palavras. Deem mais carinho à língua e à comunicação. Somos seres sociais. Portanto, quando formos nos comunicar, que prezemos por uma boa forma de falar.

Para mais dicas filosóficas de como melhorar sua comunicação, considere ler o livro Ensaio Filosófico: O Que É, Como Se Faz de A. P. Martinich.

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A linguagem escrita, na minha opinião, exige um rigor superior a linguagem falada, uma vez que na escrita não é possível perceber de forma clara sarcasmos, ironias, ou dar segundas chances de explicação antes de uma interpretação pré-conceituosa. A linguagem escrita causa um impacto, uma primeira impressão do que foi dito, permanente e dificilmente passível de correção. Por isso a importância de se praticar a escrita de forma clara, objetiva, com domínio vasto do vocabulário formal e coloquial. Na era da informação, especialmente a informação na forma digital, a maneira como nos comunicamos pode ser definitiva na propagação errônea ou correta de uma ideia.

Não seria "na escrita nao é possível perceber de forma clara sarcasmos"... ?

"Na escrita não é possível ", comi o não sem querer. Obrigado pelo aviso haha

Bem por aí mesmo, @edoardolobl... Há uma parte, logo na introdução do livro que indiquei ao final do texto, em que o autor fala sobre como a escrita permite a estruturação de nossos pensamentos de modo coerente e complexo, sem que o próprio autor consiga ter tudo aquilo que escreveu disposto em mente. Assim, a escrita nos permite ir e voltar às coisas que em algum momento da vida se passaram em nossas mentes, e que aproveitamos a oportunidade para registrá-las. A precisão da linguagem então passa pela precisão das ideias que você quer expressar naquele momento em que está escrevendo. Se você for fiel ao que quer passar aos outros escrevendo, evitará ruídos e assim poderá construir algo.

Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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É esse o grande problema. O desejo de se fazer entendido é de todos que escrevem. O talento para organizar ideias de um conhecimento especifico para uma linguagem em comum, é pelo menos para mim, muito difícil. E o steemit é um local que treino exatamente isso. É uma linha ténue de uma interpretação que passe um estimulo ao entendimento do assunto, e da capacidade de expressar de forma a ser entendido, sem deixar que a interpretação vague no preconceito ou pressuposição de um saber que não é somente o meu.

Caso a transmissão de um saber se dê de forma a preencher um conhecimento que é construído por anos e anos, em um post, ou vários posts, e ser tomado como uma verdade em si. É descartar todo o conhecimento que forma quem o descreve, e quem escreveu o próprio saber dentro de um conhecimento muito maior do que o meu com certeza.

Ao mesmo tempo que escrever sem encontrar um meio termo, torna aquele conhecimento impalpável, tendendo afastar o leitor de um conteúdo que o mesmo não compreende.

E acredito que não seja o objetivo ser totalmente compreendido, ou totalmente incompreendido, mas pelo menos mostrar que existe muito conhecimento e que quando mais se aprende, mais se da conta de que não se sabe nada, outros se dão conta que sabem de tudo, o que também é descartar a o próprio questionamento do saber.

Essa é a grande marca do saber, não ser transmitido pelo empirismo, mas pelo conhecimento adquirido dentro da estrutura de ensino que se propõe a estudar. Objetivar alguns conhecimentos é descartar a possibilidade interpretativa do conhecedor, e se restringir a economia de
entender ou divergir da opinião do outro, e não elaborar o próprio saber.

Você falou logo de início algo que tenho percebido na construção de seus textos, e que considero ser uma autocrítica valiosíssima:

O talento para organizar ideias de um conhecimento especifico para uma linguagem em comum, é pelo menos para mim, muito difícil.

Meu chute é que sua dificuldade reside na tua construção pessoal e profissional. Sobre tua construção pessoal nada posso dizer; Entretanto, enquanto médico, provavelmente você deve ter se acostumado muito mais com complexidades do que com simplicidades, e por ver a vida de modo complexo a gente precisa sempre se atentar para nosso desejo de colocar detalhes e mais detalhes no que estamos falando, pois muitos detalhes podem apenas prejudicar a comunicação — sendo preferível, pruma comunicação mais "popular", a objetividade.

Aliás, essa é uma autocrítica minha: eu preciso melhorar minha objetividade, meu poder de síntese. Muitas coisas surgem enquanto estou elaborando uma linha de raciocínio, e aí fica sempre presente a dificuldade de discernir entre o que é e o que não é válido expressar.

Felizmente uma coisa é certa: com a prática, com o contato e troca de ideias recorrentemente, a gente melhora. Por que não aproveitar o Steemit pra isso, então, não é mesmo?

Abraço!

Citei você no meu post mostrando novatos promissores - clique aqui para conferir!

Opa @felipejoys, na verdade não fui citado, acho porque violei um dos critérios que é ter menos de 40 de reputação hehe :P

Que bizarro. Eu podia jurar que tinha te colocado. Mas sim, não devo ter posto pela sua rep maior. Mas... podia jurar que sim!

Aqui em minha cidade o pessoal tem um linguajar que todos se entendem, mas, saindo daqui, e indo principalmente para cidades maiores, acontecem desentendimentos! Boa noite Aly

Isso é bem comum dentre cidadãos de cidades pequenas mesmo. Aliás, mesmo em cidades grandes, se você for se utilizar de termos regionais para descrever produtos (como pão francês, que aqui em Porto Alegre chamamos de cacetinho) você pode acabar apenas sendo incompreendido, e mesmo com elementos maliciosos. Boa noite! :)

Perfeito, concordo plenamente com você. Não conhecia essa questão do analítico e continental. No caso Russel era analítico? Por que Nietzsche sem dúvidas seguia mais essa espontaneidade do fogo da alma, se é que posso dizer. Pelo menos é o que me parece. Preciso ler Russel urgentemente, tem algo em especial que indique?
Levo muito a sério essa questão da palavra e da tentativa de se fazer entender corretamente na minha vida, vejo que por mais assertivo que eu tente ser, acabo me batendo e sendo mal interpretado. Só isso já dá conteúdo para estudar anos e anos.
Valeu!

Essa distinção é bem comum entre filósofos anglo-saxões porém há muitos que não gostam de fazê-la. O problema que me parece central nessa distinção é o uso da linguagem, por isso falar de comunicação quando se fala de ambos os tipos filosóficos é algo que acontece frequentemente.

E sim, Russell nessas categorias seria analítico. Nietzsche não seguia padrões de comunicação acadêmica — embora tenha conseguido escrever de modo a popularizar a filosofia — e somando isso ao seu uso de termos que possibilitam inúmeras interpretações, aplicando narrativas pessoais em sua escrita, se entende que ele é continental.

Do Russell, indico o livro História da Filosofia Ocidental, pois ele não apenas ilustra os pensamentos de vários filósofos ao longo da história, como também faz comentários críticos sobre eles, numa linguagem bem bacana pra todo mundo. Mas todo livro dele vale dar uma conferida.

Qualquer coisa estamos aí, abraço!

Valeu! Já dei uma flertada nesse livro aí! Quando for possível comprarei sim :) Obrigado pelos esclarecimentos.

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