Moto e eu, tudo a ver

in #motorcycle7 years ago

Acho que tudo começou quando eu tinha uns 10 anos de idade.

Morávamos em Florianópolis mas estávamos de mudança de volta para São Paulo, minha cidade natal. Mais precisamente, o plano era voltar a morar em uma casa que tínhamos em um condomínio fechado localizado próximos a São Paulo.

O ano era 1990 e foi também o ano que eu visitei a Disney pela primeira vez. Não dá pra esquecer uma visita a Disney com esta idade. Eu tinha muitos motivos para estar empolgado, pois após cerca de alguns anos morando em outros lugares (meus pais adoravam mudar de casa) finalmente eu voltaria para a casa que eu sentia saudades.

Meu pai sempre gostou de moto e acabou, obviamente, me influenciando. E para comemorar o nosso retorno ele me presenteou com um patinete motorizado. Foi meu primeiro contato com um veículo movido a gasolina e duas rodas. Você deve estar pensando que ele deveria ser louco em colocar em cima de algo tão perigoso, mas estes patinetes não são mais rápidos e inseguros do que os atuais modelos elétricos que vemos por aí.

Mas o destino mudou e meu pai foi convocado a assumir uma posição de gerência na companhia que trabalhava, porém em outra cidade, Ribeirão Preto. A princípio, mudamos para uma casa, onde ficamos por pouco mais de 1 ano. Lá eu tive a chance de dar os meus primeiros passeios, mas como não era um lugar fechado e seguro como um condomínio, eu mal podia sair e claro, nunca sozinho.

Por 3 anos a minha relação com aquele patinete foi de pura contemplação, até porque logo mudamos para um apartamento e aí sim o patinete ficou lá, parado e guardado dentro de um banheiro na lavanderia.

Meu pai também deveria ter muita esperança de voltar a morar em São Paulo, pois ele decidiu manter o patinete guardado ao invés de vende-lo e 3 anos mais tarde, finalmente retornarmos a tão desejada casa.

A primeira moto


Ao retornarmos para São Paulo, eu mal podia me conter de alegria de estar de volta aquele lugar que me parecia o mundo perfeito. Casas sem muros, segurança 24h e ruas tranquilas e livres para poder brincar, jogar taco, queimada, andar de bicicleta, carrinho de rolemã e claro, andar de motonetas, ou como chamamos hoje, scooter.

Em 1994, com o dólar baixo e a economia crescendo, vários novos tipos e categorias de produtos começaram a aparecer. Foi quando as primeiras scooter, famosos na Europa, passaram a ser vendidas aqui.

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A primeira moto a gente nunca esquece

Eu lembro muito bem o dia que ganhei minha primeira scooter. Era uma AE 50 (50cc, fraquinha e andava pouco mais que uma bike descendo ladeira com tudo) da Suzuki. Vermelha, com uma carenagem moderna. Comparado com as mobiletes, as scooter eram como um carro de luxo. Tinham chave com trava para guidão, painel completo com velocímetro, marcador de gasolina e indicador de setas e farol alto. Acabamento de primeira, bateria, partida elétrica e porta objetos abaixo do banco. Ah! E não precisava misturar óleo e gasolina para abastecer. Havia um tanquinho só pra óleo e outro para gasolina. Coisa chique demais.

E como eu rodei com esta vermelhinha. Lembro que zerei o odômetro que suportava registrar até 10.000Km. Tudo isso sem nunca sair do condomínio.

Sábado, sol, moto e vento na cara


Os tempos mudaram, claro. Hoje em dia é meio que impensável em entregar uma scooter na mão de um adolescente desta forma mas naquela época era quase a regra entre os pais e muitos dos meus amigos também tinham motos, até maiores.

Lembro que uma das coisas que mais gostava de fazer era sair cedo de casa no sábado para ficar rodando atoa. As vezes andava por 1h ou 2h seguidas, passando várias vezes pelas mesmas ruas e curtindo muito aquela energia.

Quando andamos de moto estamos tolamente expostos ao meio ao nosso redor. Se entra numa zona de sombra de árvores, no mesmo instante é possível sentir o ar gelado. Nenhum cheiro passa despercebido e até mesmo a percepção de como a rua é feita, a aspereza do asfalto, as ondulações, tudo fica mais evidente.

Sábado era dia de zerar o galão de 5 litros de gasolina que mantinha na garagem.

Eu cresci, a moto também


Quando fiz 17 anos a minha incrível scooter já não estava mais dando conta. Além de muito rodada eu já desejava motos maiores. Meu sonho era tirar a habilitação o quanto antes para cair na estrada. Aquela imagem de motoqueiro, livre e sem amarras era muito sedutora para alguém que havia passado os últimos 3 anos cercado por grades em um condomínio.

Desta forma eu consegui convencer meu pai de fazer um upgrade e após achar um comprador para minha scooter e dele conseguiu um belo desconto numa XL 125 zero, ponta de estoque, a tão sonhada "moto grande"chegou.

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Quadro roxo, carenagem e tanque azul.
Suspensão de molas simples e muito estilo anos 80. Eu amava esta moto.

Sonho interrompido


Mas nem tudo foram flores. Apesar também de não ter sido nenhuma tragédia. Amém.

Durante 1 ano eu pude aprender muito sobre motos de verdade. Como trocar uma marcha, como parar, arrancar, frear. Ela era potente e divertida de pilotar.

Mas minha mãe (até agora vocês devem ter achado que não tinha mãe. Qual mãe neste mundo quer o filho sobre duas rodas… kkk) tinha um plano. Ao completar 18 anos, a primeira coisa que fiz foi correr para a auto escola para tirar a habilitação. Aqui vai um fato engraçado, pois ao chegar na auto escola (eu fui o primeiro) o instrutor me perguntou “Você já sabe andar de moto?”, Respondi que sim e ele disse “Então pega aqui este dinheiro e passa no posto ali da esquina para abastecer e depois nos encontramos lá no ponto onde fez aula de baliza na semana passada, sabe onde é?”. Eu mal podia acreditar naquilo.

Mas voltando para o caso com minha mãe. Ela sabia que eu queria pegar e estrada e sumir por aí, então quase que imediatamente que minha carta saiu ela vendeu a moto. Fiquei como dizem por aí, sem eira nem beira.

11 anos sem moto


Durante os próximos 11 anos eu só fiquei na vontade. Comecei a trabalhar, cursei faculdade, namoro, viagens e mais algumas mudanças de casa e nada de eu comprar uma moto nova.

Não sei dizer ao certo porque levei tanto tempo. Não foi apenas falta de dinheiro, mas acho que também sentia medo. Mas o desejo de ter outra moto nunca sumiu.

Halery-Davidson


Em 2008, 10 anos depois de ter tirado habilitação, resolvi mudar e fazer valer aquele documento.

Eu sempre fui um grande fã da marca Harley-Davidson. Não é preciso explicar muito o motivo desta admiração. As motos são clássicas, cheias de estilo e barulho. O sonho de consumo da maioria dos motoqueiros de primeira viagem.

Perto de casa havia uma concessionária da Harley e eu sempre passava em frente na expectativa de um dia entrar e sair com uma moto de lá. Mas eram caras demais.

Foi quando me deparei com um anúncio de consórcio para a Harley. Não pensei duas vezes e preenchi com meus dados, aguardando a estimativa de quanto teria que pagar. E paguei.

Após o contato do vendedor fui até a loja e lá fechei o seguinte: 80 parcelas de R$ 450,00 para uma carta de crédito de 70% do valor deu uma Harley 883R zero quilometro.

80 parcelas e começava a pagar imediatamente. Não sabia quando seria sorteado ou se teria grana para tentar um lance. Não importava. A moto estava mais próxima de mim do que jamais esteve.

Presente de aniversário


Demorou 1 ano para conseguir comprar minha Harley e fui contemplado no dia do meu aniversário. Estava tranquilo em casa quando o telefone tocou e a atendente me explicava que eu havia sido sorteado e que poderia escolher o bem para comprar. O mais legal é que eu poderia pegar uma moto usada caso não quisesse completar o valor da carta para pegar uma zero.

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Eu e minha Harley na Serra do Rio do Rastro

Parti pra web em busca da minha moto. Foram muitas pesquisas até cair numa Harley 883R laranja. Linda, era exatamente o que eu tinha em mente. Baixa Km, típicos moto de garagem.

Eu acho que nunca fiquei tão ansioso para comprar uma coisa. O processo demorou uns 15 dias e quando finalmente estacionei minha “Valerie” (sim, eu dei nome a moto) na garagem eu não podia acreditar. E como ela me deu prazer.

To the road


Bom, o texto já está longo, então as histórias de minhas viagens com esta incrível máquina vão ficar para outro dia. Foi nesta moto que validei todo aquele desejo e pude reviver minha paixão pelas duas rodas com toda intensidade. São muitos casos e acontecimentos. Da vida na estrada ao dia-a-dia na cidade grande. Esta moto foi inesquecível.


No próximo artigo sobre motos irei contar como foi meu primeiro passeio com a Halrey e a primeira viagem. Vou procurar pelas imagens e preparar um texto legal.

Obrigado pela leitura e bom domingo!

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tambem adoro moto vou para o serviço de moto e uma paixão.

Olá @sergiooss. Eu também costumava andar de moto por São Paulo e ir ao trabalho. A melhor que já tive para o trânsito foi uma PCX 150cc. Inclusive uma vez escrevi aqui sobre a viagem que fiz com ela até Londrina. O post está em inglês.

https://steemit.com/motorcycle/@dudutaulois/750-miles-in-a-150cc-scooter

Abraços!

Parabéns, seu post foi votado e compartilhado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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Top sua história! Meu máximo com 2 rodas é ter andado de walk machine na adolescência :D A gente dividia um só dum amigo com uns 20 malucos. Cada um andava seus 200metros e a fila andava. Bons tempos!

Hahaha...Walking Machine. Era esse mesmo que eu tinha. Amarelo e com um adesivo com a letra "E" no paralama traseiro para seconder a ralada que dei empinando no primeiro rolê que fiz. Eu vou ter que achar fotos para postar aqui... hahahah.. Eu curtia bastante.

Great job @dudutaulouis congratulation good luck

Caramba, que sorte ser contemplado bem no dia do aniversário!! E sua mãe? Aceitou finalmente você andar de moto? E no aguardo pelos próximos posts!!

Pois é, uma coincidência sem igual. Bom, depois da Harley eu nunca mais parei de ter moto, ficando apenas alguns intervalos sem. A Harley durou uns 4 anos, vendi para ir morar no Chile. Na volta comprei uma scooter (PCX 150) que viajei muito com ela. Umas das viagens inclusive eu relatei aqui https://steemit.com/motorcycle/@dudutaulois/750-miles-in-a-150cc-scooter
Depois veio a Tiger 800. Essa sim era um demônio. Mas vendi logo que minha filha estava para nascer para poder comprar um carro com porta-malas maior... hahhaa...
Minha mãe só reza e pede a Deus pra eu ficar bem. Mas ela sabe que sou responsável e não têm como evitar.

Adorei o seu post! Mas confesso que eu tenho medinho de moto. Já andei mas sabe o receio? Então...

Obrigado @youcandigtatz! O medo de andar de moto é um igrediente importante para a segurança. Meu pai sempre me dizia "A gente cai com a moto quando acha que já sabe pilotar bem". Moto não permite espaço para distração e negligência. Óbvio que existem muitos fatores de perigo alheios ao motoqueiro, mas se tiver cuidado os riscos caem drasticamente. Faz quase 30 anos que ando de moto e nunca me envolvi em acidente grave, e olha que usava diariamente para ir trabalhar em São Paulo.

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