#FILMOTECA# - "Entre Abelhas" (2015)

Fonte: Divulgação (Táxi Café)

Sinopse: Coisas estranhas começam a acontecer na vida de Bruno, um jovem de quase 30 anos que acaba de se separar da mulher. Ele tropeça no ar e esbarra no que não vê, até perceber que as pessoas ao seu redor estão desaparecendo só para ele. Os dias correm e a situação só piora. Com a ajuda da mãe e do melhor amigo, Bruno tentará se adaptar a esse novo mundo com cada vez menos gente.

Quando a rede Globo anuncia um filme de comédia, é de se esperar que venha um punhado de pequenos curtas-metragens à la Zorra Total (ou qualquer outro programa humorístico sofrível que a emissora insiste em manter no ar), onde a escrita é sofrível (argumento na maioria das vezes inconsistente e sem força para se manter por uma longa duração), a direção não existe (fazendo o estilo a Deus dará", onde a coisa corre solta), o elenco é forçado (principalmente porque enche o filme com participações especiais totalmente desnecessárias) e a edição das cenas beira - muitas vezes - o amadorismo (evidenciando o desleixo com o projeto)... Felizmente, "Entre Abelhas" consegue escapar ileso de praticamente todos esses estereótipos.

Fonte: Divulgação (Rede Globo)

O grande mérito da história é ser um drama disfarçado de comédia (um ótimo recurso argumentativo, por sinal). A trama fica alternando - com habilidade - na balança entre os momentos emocionantes e reflexivos (oferecidos pelo eixo dramático) e os momentos mais complexamente engraçados (oferecidos pelo eixo cômico.. onde vale ressaltar que a grande maioria das piadas não estão ali de uma aleatória ou gratuita).

Há uma grande história que vai sendo construída de maneira simples, porém sempre adicionando novos elementos para que o espectador comece a se questionar sobre a sanidade do protagonista e a partir daí, decidir se começa a descontruir o problema que ele vive (pautando-se em explicações reais para tentar solucionar as situações) ou se mergulha de vez nas paranoias que ele vivencia e faz questão de afirmar que é tudo parte da realidade (deixando-se levar pelas peças que a mente é capaz de causar).

Fonte: Divulgação (Extra)

Ian SBF dirige o filme - que tem um ritmo deveras lento, mas envolvente - sem trazer muitas novidades (por exemplo: vez ou outra, um ângulo de câmera diferenciado aqui e ali) deixando claro para os espectadores a ideia de seguir a linha do pensamento "em time que está ganhando não se mexe" (afinal, se já existe um bom roteiro e um elenco bacana, qual a razão de fugir do padrão?). O resultado não é algo inovador, mas consegue ficar bem acima da média do que é realizado dentro da mesma proposta de outros filmes nacionais.

Um dos fatores que ajuda a deixar o clima do filme mais realista é a ambientação urbanizada (aliás, um trabalho muito legal feito pela equipe responsável pela fotografia). O clima de selva de pedra (reforçado pelo ritmo de vida sempre muito agitado), propenso a falta de emoções mais significativas entre os seres humanos se torna mais visível - e principalmente mais respirável para quem vive em regiões assim -, mostrando a falta de empatia pelo próximo.

Fonte: Divulgação (G1)

O elenco não tem nenhuma atuação de destaque. Apesar da grande aposta do projeto ser o comediante Fábio Porchat (que sai completamente da sua bolha de piadas com teor de comédia plastificada e entrega uma performance onde é realmente possível vê-lo como um ator de verdade... ainda que os clichês de sua performances estejam presentes em alguns momentos), ninguém desponta realmente. Os personagens são interessantes (relativamente bem construídos, incluindo a superficialidade que se torna parte integrante de alguns), mas todos são lineares... Não oferecem nenhum momento Wow!, mas conseguem deixar o filme redondo em sua qualidade.

O trabalho de edição é o que mais atenção, porque consegue estabelecer uma dinâmica criativamente diferenciada e isso faz com que o público compre a ideia de uma maneira mais realista (embora haja muito surrealismo no que o material do roteiro apresenta).

Fonte: Divulgação (Globo Filmes)

"Entre Abelhas" é o tipo do filme que é vendido de uma maneira (para gerar o buzz comercial... nesse caso, como uma comédia que na verdade é um drama), mas que entrega um resultado diferente do esperado... O lado bom dessa decisão é a surpresa que o espectador tem ao se deparar com uma produção nacional não convencional, cheia de simbolismo / metáforas e que consegue ser engraçada e reflexiva ao mesmo tempo (guardando o seu melhor para o ato final, que é muito bem pensado e executado).