Redação dá oportunidade para sociedade pensar em seus problemas

Nesse último domingo, aconteceu o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em todo o Brasil. O tema da redação sobre Os desafios para a formação educacional de surdos no Brasil? chamou a atenção de muita gente além dos estudantes que estavam fazendo a prova. Os motivos são vários, o principal talvez seja a falta ou melhor inexistência de infraestrutura na maioria das escolas do país para atender jovens nessa situação.

Por todo o Brasil, 4,3 milhões de estudantes compareceram aos locais de prova (Foto: Congerdesign/Pixabay)

Esse assunto abre caminho para vários outros problemas, por isso uma discussão bem ampla. No caso, considero até difícil sugerir um norte. Para simplificar, vou me ater às questões de inclusão.

Li várias críticas a respeito. De um lado, jovens encarando a redação com estranheza; do outro, críticos justificando a falta de repertório. Se for verdade as reações, elas não fazem diferença substancial. Porque é normal que parte dos jovens reclamem. Para quem não está preparado será a principal saída. Já os críticos é apenas uma parcela de opinião.

A redação do Enem foi muito bem escolhida para dar mais um daqueles chacoalhões na sociedade, típicos daquelas reportagens de jornal em que a câmera filma escondido pessoas sentadas no ônibus para dar um flagrante naqueles que não dão lugar para os idosos.

A sugestão do tema não foi só importante aos jovens para fazê-los pensar em políticas de inclusão, respeito as diferenças, diversidade e direitos humanos, principalmente na época de formação educacional. No entanto, foi crucial para todos reverem esses problemas, pensar em soluções e dar mais uma chance de discussão ampla.

Naquele dia, vários inscritos com algum tipo de deficiência estavam fazendo a prova. O mais curioso para eles ou para muitos, é que o tema transfigurava para a realidade presente. Além dos obstáculos diários vividos em sua formação, estavam sendo vítimas mais uma vez das mesmas circunstâncias ali. Pode apostar que muitas das escolas em que faziam o exame não tinham acessibilidade para deficientes físicos.

Para exemplificar melhor e aproximar bem do tema da redação, cito um dos casos de jovens surdos que tiveram dificuldade, não por causa do tema, porém pela falta de estrutura. O inscrito Bernardo Manfredi, de 20 anos, gostou da escolha do tema e se sentiu representado, mas a dificuldade para se expressar começou exatamente ali, no lugar em que teve a oportunidade. Como em outros anos em que realizou o exame solicitou um intérprete de leitura labial e transcritor para lhe ajudar. O problema é que não foi atendido como deveria, o profissional foi negado primeiramente, depois demorou muito para chegar. Enfim, mesmo prejudicado, ele conseguiu fazer a redação e abrir mais uma vez os olhos da sociedade.