Vulcão Ijen - Ilha de Java - Indonésia
O lago mais ácido do mundo
Um vulcão ativo. Um lago azul-turquesa com água de pH tão baixo, que parece ácido de bateria. O fenômeno do "Fogo Azul". A única mina de enxofre, do mundo, onde a extração ainda é feita manualmente. Enfim, um dos lugares mais perigosos e atraentes do nosso planeta e nós fomos até lá pra ver.
Cuidado com gás tóxico
Quando chegamos no estacionamento de Paltuding, por volta de 2h00 da madrugada, ainda estava muito escuro e bateu um medo danado. Será que iríamos conseguir? Não era perigoso? Mas fomos apresentadas ao guia Kholili, que foi muito simpático e disse que caso quiséssemos desistir no caminho, era só falar.
E, assim, começamos a nossa trilha do Vulcão Ijen ou Kawah Ijen (cratera do Ijen), como é conhecido. O ponto de partida em Paltuding fica a 1.850 metros de altitude e o Vulcão Ijen tem 2.386 metros de altitude.
A trilha até a beira da cratera do Ijen tem 3km e nós levamos duas horas pra completar essa parte do trajeto, com uma diferença de altitude de pouco mais de 500 metros.
O Kholili nos entregou uma lanterna, daquelas de colocar na cabeça, e seguia na frente com a lanterna dele, nos guiando. A subida começou tranquila, mas a placa avisando que é proibido a subida para quem sofre de asma, tem problemas do coração ou pressão alta, deveria ser uma indicação do grau de dificuldade. O único problema é que ela está escrita apenas em indonésio.
Apenas o início da trilha é tranquilo
Depois de um tempo, a trilha vai ficando mais difícil e a respiração vai ficando muito pesada. Não sei se por falta de preparo físico ou se por causa dos gases tóxicos na atmosfera. Talvez pelas duas coisas. Pensamos em desistir, mas desistimos de desistir. Paramos várias vezes pra descansar.
O Kholili nos entregou as máscaras quando começamos a sentir o cheiro do enxofre do vulcão. Achei muito desconfortável de usar, mas necessária, afinal os gases tóxicos podem causar danos irreversíveis aos pulmões ou até mesmo ser fatal.
Como ainda estava muito escuro quando chegamos na beira do vulcão, não estávamos conseguindo ver nada ali. Então decidimos ir até o final, ou seja, descer os 200 metros até as margens do lago mais ácido do mundo. Na volta vimos que mesmo se não estivesse escuro, a fumaça teria nos impedido de ver o lago por completo, com toda a sua beleza.
Proibido descer na cratera. Perigoso.
A descida é muito perigosa. Em alguns trechos curtos um corrimão meio bambo, de madeira, marcava o trajeto, mas a maior parte do caminho é irregular e não é marcado. Você precisa ter certeza de cada passo dado, pois as pedras podem estar soltas e escorregadias. A fumaça também atrapalha bastante e quando o vento tocava na nossa direção era preciso parar, fechar os olhos e esperar a nuvem de gases tóxicos se dissipar.
Imaginem descer isto no escuro.
Algumas pedras estão soltas e são escorregadias
Os meus olhos arderam muito com esta fumaça
Chegamos a conclusão que jamais teríamos feito esta descida se estivesse claro. Só fomos por que estava escuro e, literalmente não vimos onde estávamos nos metendo. Mas não me arrependo nem um pouquinho, foi uma experiência incrível e um lugar único no mundo.
O fenômeno do Fogo Azul
O aspecto mais interessante e raro deste vulcão e, o que atrai tantos turistas para uma caminhada no meio da noite, é o "Fogo Azul", que não deve ser confundido com lava.
Este fogo é causado pela grande quantidade de gás sulfuroso preso no interior do Ijen. Com altas pressões e temperaturas de mais de 600°C, este gás procura um caminho, através de pequenas fissuras, para o exterior. Uma vez em contato com o oxigênio, entra em combustão e forma chamas de até 5 metros de altura. A impressão que se tem de ser lava azul é devido ao fato do gás sofrer condensação, o transformando em enxofre líquido, que então, escorre pelas encostas do vulcão, como um rio em chamas. O fogo tem a tonalidade azul brilhante, como a dos fogões a gás, mas só é visível à noite.
Conseguimos ver algumas chamas e tirar algumas fotos do"Fogo Azul", durante a descida, mas a fumaça atrapalha bastante a visibilidade das chamas e quando tentamos nos aproximar mais, os nossos olhos arderam muito e preferimos ver só de longe. Mas o Kholili chegou mais perto e tirou esta foto pra gente.
Levamos 45 minutos para descer até o final. Quando o dia foi clareando deu pra ver a cor azul-turquesa do lago, que é maravilhoso. O lago do Ijen existe pelo menos desde 1789, tem uma profundidade média de 176 metros e mede 960 por 600 metros.
O lago faz com que este seja um dos vulcões mais perigosos da região, pois sua água, com um pH de 0.5 (semelhante ao ácido de bateria), contamina os rios e poços da região, resultando em danos aos ossos e dentes dos moradores da área, que utilizam desta água pra tudo. Outro perigo constante é o risco do lago desmoronar, como já aconteceu em 1817. O número de mortes é desconhecido, mas 3 aldeias foram completamente destruídas pelo fluxo de lama criado pelo desmoronamento.
Em uma das maiores minas de enxofre do mundo há uma realidade muito triste.
A parte triste do Ijen, bem longe da realidade dos turistas que pagam para estar ali, é a dos trabalhadores de uma das maiores minas de enxofre do mundo. A única que ainda usa a extração manual. As condições de trabalho são de insalubridade e periculosidade total. A concentração de gás é de 40 vezes o limite aceitável e os mineiros não usam equipamentos de proteção apropriados. Vimos alguns deles se protegendo apenas com um pano úmido que cobria o nariz e a boca.
Os gases de dentro do vulcão são extraídos através de tubos de cerâmica que são inseridos na rocha. A condensação transforma os gases em um líquido vermelho escuro, que escorre pelos tubos. Após o arrefecimento se solidifica, ficando amarelo.
Os mineiros, então, quebram o enxofre em pedaços e colocam em suas cestas de vime, que chegam a pesar até 90 quilos e carregam estas cestas nas costas, morro acima.
Depois ainda colocam o material dentro de sacos e em cima de um carrinho que puxam pelos 3 km até a base do vulcão, onde recebem por cada quilo extraído. E repetem todo o processo, pois fazem pelo menos duas viagens por dia.
O salário depende de quantos quilos conseguem carregar, mas fica em torno de USD 9,00 por dia. Este valor é consideravelmente maior que o salário dos trabalhadores dos campos de arroz, por exemplo, que gera em torno de USD 4,00 por dia. Mas o preço é alto, pois muitos morrem antes mesmo de chegarem aos 40 anos de idade.
Existem lugares que visitamos durante a vida que ficam marcados na nossa memória pra sempre. O Vulcão Ijen, com certeza, é um destes lugares. Não apenas pelo cenário surreal ou pela estranha sensação de saber que está colocando a sua vida em risco, mas por saber que, ainda nos dias de hoje, pessoas enfrentam esse tipo de condições de trabalho, todos os dias! Foi uma grande lição de vida. Os heróis do Ijen, que colocam suas vidas em risco pela sobrevivência deles e de suas famílias, merecem o meu respeito.
Dicas para a trilha:
Usar sapato confortável. Nós fomos de tênis, mas o ideal seria botas de trekking, pois o caminho da descida até a cratera é muito irregular, com pedras soltas e o risco de torcer o pé é alto.
Mas ele estava de chinelo...
Leve uma jaqueta quente e leve. Faz frio na região, mas enquanto estiver se exercitando, pode sentir calor e, por isso, é melhor que seja uma peça leve pra poder colocar na mochila, mas quentinha pra quando você precisar se aquecer.
Use uma máscara de gás. Vimos alguns turistas com apenas uma máscara de pano ou até mesmo sem máscaras e achei super perigoso. Quando contratamos o passeio fiz questão de confirmar se iriam providenciar máscaras de gás apropriadas para o vulcão e elas foram super úteis. Apesar de desconfortáveis de usar, não dava pra ficar sem.
Tentei tirar, mas não consegui ficar sem.
Contrate uma agência que providencie um guia especialmente para o Ijen. O Kholili foi incrível e fez o possível para garantir a nossa segurança. Literalmente segurou nas nossas mãos. Percebemos que ele tinha um bom conhecimento da trilha e um bom relacionamento com os outros guias e até com os mineiros, fato importante no caso de uma emergência.
O nosso guia Kholili
Leve uma lanterna. Nós estávamos apenas com a lanterna do celular, mas o Kholili estava preparado e tinha lanternas para nos emprestar. Mas mesmo assim, eu indico que levem uma lanterna reserva, pois a trilha é muito escura.
Leve água e alguma coisa pra comer.
Leve uma mochila com apenas o necessário, sem muito peso.
Leve dinheiro em moeda local. Os mineiros oferecem pequenas esculturas feitas de enxofre para vender. Mesmo que você não goste, pense que vai estar ajudando quem realmente precisa e merece. Também demos uma gorjeta para o Kholili.
Respeite os trabalhadores do Ijen. Em grandes partes da descida para a cratera, apenas uma pessoa consegue passar de cada vez. Portanto, quando cruzar com um deles no seu caminho, mova-se para o lado e deixe eles passarem. Pense que eles estão ali para trabalhar e provavelmente terão uma cesta de 90 quilos nos ombros.
Parabéns, seu post foi votado e compartilhado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!
Que legal! Obrigada!
Caramba! Tem que ter muita coragem, só de imaginar que existe a possibilidade de uma erupção já me manteria a quilômetros de distância. Hehehehe! Obrigado por compartilhar ;)
Hahaha...geralmente um vulcão meio que avisa antes de uma erupção. Mas eu não teria coragem para repetir esta aventura. Acho que só fui pq estava tão escuro que não vi o perigo do lugar.
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Thank you!
Post fantástico!! Bom, eu adoro viajar e conhecer novos locais etc... mas esse ai acho que não vai para a minha lista heheh
Só uma dica, os steemcleaners podem achar que se trata de plágio, visto que está no site.
Se conseguir confirmar só uma vez que o site é seu, vai ter mais upvotes e tal.
Por exemplo um link no site que nos leve ao seu blog no steemit serve e fica logo resolvido... mais votos, melhor reputação e menos mensagens chatas.
Vou dar follow, que este post está realmente muito bom.
Muito obrigada pela dica @maxjoy! Vou já colocar o link no meu site. Obrigada por follow, vou continuar postando mais sobre viagens, pq eu tbém adoro viajar!