Ayaya Pachamama e os indígenas bolivianossteemCreated with Sketch.

in #travel7 years ago (edited)

Há muitos lugares lindos no mundo para se conhecer, mas são poucos os que têm uma aura mágica no ar. Hoje quero levá-los a um país rico em tradição e rituais milenares, a Bolívia. Esta é a terra dos Aymara e Quechua, indígenas que vivem por entre os diversos pueblos situados na Cordilheira dos Andes, a mais de 4000 metros de altitude. Ali, toda a população masca folha de coca para ter mais energia, para diminuir os efeitos da altitude e, claro, por ser um hábito que existe há gerações naquela região.

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O país se autodenomina um “Estado Plurinacional”, pois é formado por mais de 30 povos com diferentes culturas e línguas que se espalham por todo o território, como chiquitanos, ayoreos, yuracarés, chacobos e sirionó. Só subindo a Cordilheira para ter esta experiência. Navegar pelo lago Titicaca, participar de um ritual dedicado à “Pachamama”, conhecer sítios arqueológicos e aventurar-se em um deserto de sal, são alguns exemplos do que se pode fazer ali.

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Vivi na Bolívia por dois meses, pude conhecer muitas pessoas de cultura Quechua, andarilhos europeus e muita gente pró ou contra Evo Morales, o atual presidente do país. Quase não vi brasileiros por essas estradas. Mas antes de convidá-los a fazer uma viagem dessas, me sinto responsável em dar uma dica, vá de coração e mente aberta, pois

  1. As estradas da morte sçao perigosas mesmo. O carro passa por vias de terra batida ao lado de precipícios de mais de 700 metros de altura que serpenteiam os Andes bolivianos. Pra quem tem problema no coração, façam como eu, durmam, leiam e evitem olhar pela janela, pois como diz a história, “o que os olhos não vê o coração não sente”. Já para os fotógrafos profissionais ou amadores, as paisagens são estonteantes!As fotos ficarão maravilhosas!

  2. Comida refrigerada é luxo. Não existe supermercado (só nos grandes centros), se você quiser comer carne, você vai encontrá-la à moda antiga: frangos e gado pendurados em ganchos dos mercados públicos. Pelo menos, todos os produtos são orgânicos e fresquinhos, vindos diretamente das mãos dos agricultores que moram ao redor.

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Estrada entre Samaipata e Cochabamba

Bem, se você não se importar com esses dois pequenos detalhes, você não irá se arrepender.

Uma das primeiras experiências que tive foi com o culto indígena à Mãe Terra, conhecida como “Pachamama”, também traduzida como Mãe Universo ou Mãe tempo. Segundo a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), 62 % da população boliviana é indígena e eles procuram garantir a continuidade de suas culturas e tradições e é na Pachamama que todos encontram uma unidade. Todos indígenas que conheci, falavam espanhol comigo, porém entre si falavam a língua que aprenderam com seus pais. A única coisa que posso ensiná-los é como se diz "Olá" em Quechua, preparem-se e repitam comigo: Rimaykullayki.

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A todo momento, inclusive em cidades grandes como Cochabamba, você vai ver pessoas jogando um pouco de bebida na terra e dizendo “Ayaya Pachamama” antes de tomá-la. Normalmente fazem isso com a bebida nacional – a chicha-, feita à base de milho fermentado. É gostosinha, por isso, cuidado pra não ficar muito "feliz" e fazer como eu, que na festa dancei todas músicas que os Mariachis tocaram (Sim, mesmo sendo típico do México, os bolivianos adoram este estilo musical tão forte e dramático, assim como eu).

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De tempos e tempos ocorrem oferendas à Pachamama, em uma festa onde todos bebem chicha e conversam em volta de uma fogueira. Nessa fogueira você deve jogar oferendas à mãe terra, como a chicha e miniaturas de lhamas e/ou alpacas. É uma forma de agradecer tudo que a terra lhes proveu. Foi uma experiência antropológica interessante para entender o modo de pensar de pessoas tão diferentes de mim. Recomendo.

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Além de comunidades campesinas, há indígenas urbanos e alguns deles se organizam em grupos que lutam por interesses em comum. A “Red Tinkuna”, é um exemplo, ela é uma associação que ajuda comunidades originarias através de palestras, biblioteca popular, aulas de reforço e oficinas profissionalizantes para os jovens. O objetivo é oportunizá-los a ter condições de melhorar a qualidade de suas vidas, sem esquecerem suas línguas, histórias e culturas. Até porque, a diferença social ainda é grande entre indígenas e não indígenas, a CEPAL apresenta que a a evasão escolar de jovens na Bolívia ainda é alta, 37% dos jovens não terminam o Ensino Médio e nos pueblos indígenas, a taxa aumenta para 54%. Assim, percebemos a importância de associações como essas, que ajudam aonde as mãos do Estado ainda não chegaram.

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Depois de algumas semanas pelo interior do país e aprender tanta coisa, decidi ir à La Paz. Ao perambular entre algumas ruas e ladeiras do centro, me deparei com uns bichinhos estranhos pendurados em tendas bem, juntos com velas e pequenos objetos de oferenda. Me lembrei dos meus primeiros dias na Bolívia e da Pachamama. Que fantástico, finalmente descobri de onde vem as miniaturas de lhamas! Ao chegar mais perto percebi que aquelas lhamas pequenas (que da última vez tinha visto à noite) eram DE VERDADE! Usam-se fetos de lhamas ressecadas nas oferendas! A verdade nua e crua estampada na minha cara! Morri de pena das lhamitas, pobrecitas. Agora se elas são frutos de “morte morrida” ou “morte matada”, não sei, se souberem, me informem, por favor.

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Peço que não se escandalizem, lembrem-se que nossos antepassados eram antropófagos! O que é muito pior ;)
Neste post foquei em algo muito particular e sensível que, muitas vezes, uma foto não conseguiria mostrar.

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Acabei descobrindo a Bolívia por acidente, pois na verdade era só caminho pra chegar à Machu Picchu no Peru, porém, sinceramente, tirando a parte das lhamas... descobri que o país esconde paisagens dignas de pintura e as pessoas são as mais simples e acolhedoras do mundo. Assim, me despeço deixando algumas fotos que tirei ao longo dos mais de 60 dias que estive lá. Se você tiver curiosidade sobre algum lugar em particular, deixe uma mensagem abaixo, provavelmente este será o próximo post do blog.

Obrigado a todos!

Principais cidades visitadas em ordem de chegada: Santa Cruz de La Sierra, Samaipata, Cochabamba, Sucre, Potosí, Salar del Uyuni, Copacabana e Isla del Sol.

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Licancabur - Vulcão localizado na fronteira entre a Bolívia e o Chile

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Isla de Sol - Lago Titicaca

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Lagoa Rosada

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Salar del Uyuni

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Crianças da Isla del Sol e a lhama de estimação

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A luta campesina

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Artesanato em Copacabana

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muito boa as fotos, lindos gugares

#life
Edgar Allan Poe : All that we see and seem is but a dream within a dream.

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Muito bom, @anatripsandfalls! Adorei as fotos e o relato da tua viagem, obrigado por compartilhar ;)

Parabéns, seu post foi votado e compartilhado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

Fantástico Post. (Mais um, fiz um follow)

Só a titulo de informação, a tag #pt é a principal para artigos em Português. Se meteres lá, os posts vão ter mais visiblidade.

Muito bom, parabéns! Tão perto e poucos brasileiros, vale a pena divulgar. Valeu!!

Lindas fotos, belo texto. Parabéns!

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