Sobre a Fé no Progresso

in #religiao20 days ago

De uma conversa com a IA sobre Dostoiévski, John Gray e natureza da religião.

A fórmula de que a religião se sustenta em “mistério, milagre e autoridade” costuma ser atribuída a Fiódor Dostoiévski, no livro Os Irmãos Karamázov (1880), mais especificamente no famoso capítulo “O Grande Inquisidor”.

Nesse trecho, o personagem Inquisidor explica que o ser humano, em vez de desejar liberdade, prefere segurança e submissão — e que a Igreja teria se apoiado nesses três pilares:

  • Milagre => algo que impressiona os sentidos.

  • Mistério => aquilo que escapa à razão.

  • Autoridade => o poder que ordena e guia.

No diálogo do Grande Inquisidor, Dostoiévski põe em cena um dilema central: o ser humano não deseja de fato a liberdade espiritual, mas sim segurança, certezas e alguém que assuma a responsabilidade por suas escolhas.

O raciocínio do Inquisidor é:

  • Liberdade é um fardo => Poucos suportam viver sem respostas prontas.

Então:

  • Milagre dá aos homens algo visível e imediato, um sinal que os convence sem esforço.

  • Mistério satisfaz a ânsia pelo incompreensível, mantendo a sensação de transcendência.

  • Autoridade tira deles o peso de decidir e dá ordem à vida.

Filosoficamente, Dostoiévski está discutindo a tensão entre:

liberdade individual (a fé livre, difícil, responsável),

e conforto coletivo (a submissão à autoridade religiosa que garante paz, mas ao custo da autonomia).

No livro Cachorros de palha (Straw Dogs, 2002), o filósofo John Gray cita essa passagem de Dostoiévski e usa a ideia de “mistério, milagre e autoridade” para criticar a crença moderna no progresso e na racionalidade científica.

Para Gray, isso não vale só para a religião: o humanismo moderno, a ciência e a política progressista também funcionam como “religiões seculares”, oferecendo seus próprios milagres, mistérios e autoridades.

  • O milagre aparece como a fé no progresso tecnológico que resolverá todos os problemas.

  • O mistério se traduz em narrativas grandiosas sobre a história, a salvação pelo conhecimento, ou um futuro de redenção.

  • A autoridade é encarnada em líderes políticos, ideologias, instituições científicas ou tecnocráticas.

Assim como o Inquisidor dizia sobre a Igreja, Gray afirma que os projetos modernos de progresso também se apoiam nessas três forças, porque os humanos continuam buscando alívio da angústia existencial — não liberdade absoluta.

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