[WRITING] Café da manhã

Resolvi variar um pouco em minhas publicações e escrever uma vez ou outra pequenos contos como esse, ele tem uma leve liçãozinha de vida, então se ler com atenção, vai perceber o que realmente quer dizer esse café da manhã ;)

Café da manhã

Mexi na pilha de blusas, droga, ela não estava lá. Abri a outra porta do guarda roupa de madeira e lá estava ela, minha blusa de tricô que ganhei da minha avó há 2 anos. Fechei o armário e vesti aquela coisa aconchegante e quentinha. Passei minhas mãos por ela, sua textura de lã trazia tantas memórias, foi uma dose instantânea de paz.

Passei pela porta do quarto e desci as escadas que rangiam em sua madeira velha a cada passo que eu dava. Cheguei na sala, a janela estava aberta, o branco da neve lá fora contrastava com os tons escuros de madeira rústica daquele ambiente, com a árvore iluminada, presentes debaixo dela e trocentos enfeitinhos de Natal espalhados que eram incrivelmente harmônicos, a lareira acesa com seus estalos de madeira queimando dava o toque final para que eu me sentisse num filme mágico. Não bastasse isso, o disco de vinil, também da minha avó, tocava uma música antiga de Natal, que eu não pude parar para ouvir, se não os biscoitos queimariam no forno!

Andei pela sala, passei os dedos no sofá enquanto caminhava, cheguei à cozinha pequena e também rústica, com uma atmosfera antiga, embora, acredite, era toda novinha. Abri o forno e tirei os biscoitos que fiz, desliguei também o chocolate quente que aqueci numa velha (e bota velha nisso) chaleira italiana. Os biscoitos coloquei num prato e depois na travessa, e a bebida apoiei sobre uma pequena plataforma de madeira para não queimar a toalha da mesma travessa. Virei-me e abri o armário, ali peguei duas xícaras e dois pratinhos. Da gaveta logo abaixo peguei duas colherinhas. Ajeitei da melhor forma aquela pequena refeição, voltei para a sala e me sentei, colocando tudo na mesinha de centro, e esperei.

Não passaram nem dois minutos e a porta da frente se abriu. Eu falei "oi, amor", me levantando. "Oi" foi a resposta, resposta curta, mas fofa, fez meu coração derreter. Ela colocou a cesta com alguns pedaços de lenha no chão, tirou o casaco e o pendurou no gancho do lado da porta. Eu andei até ela, quando cheguei perto ela enfim percebeu o lanche que eu tinha preparado, o que a fez sorrir. Seus olhos encontraram os meus, e novamente meu coração derreteu.

Ambos sentamos no sofá, um do lado do outro, de frente para a lareira. Servi um chocolate quente para nós, ela bebeu tudo sem piscar, poxa vida, lá sei vai todo meu trabalho. Ela então deitou no meu ombro, o que me paralisou por um momento, pois toda vez que algo assim acontecia eu rezava para que o tempo parasse, e que aquele breve e pequeno instante durasse por toda a eternidade.

Acordei do sonho. Meu coração apertou. Mais um dia cinza e tedioso. Joguei as cobertas para o lado com certa raiva, sentei-me na cama e esfreguei os olhos. Sai do quarto escuro e dei num corredor cheio de luz, que me cegou e machucou por um momento. Desci pesadamente as largas escadas e fui até a cozinha. Fiz café. Servi-me. Sentei à mesa e o engoli. Silêncio era a música que tocava, vazio era a atmosfera que permeava e tédio era o vento que soprava. De repente, um barulho. Era meu celular, tinha recebido uma mensagem. Li pela tela bloqueada. Sorri.