Fazendo as pazes com o Natal

Resolvi enfim abandonar minha antiga atitude rebelde de não comemorar festas tradicionais, tal qual o Natal, baseando-me em pequenos subterfúgios relativamente infantis, como por exemplo o de dizer que o Natal é apenas uma jogada de marketing da sociedade para aumentar o consumismo no fim de ano. E não é que não seja! Essa é sim parte da faceta do atual Natal, aceite isso ou fique emburrado. Vivemos em uma sociedade capitalista, seria no mínimo estranho se não houvesse uma campanha de marketing em cima da época natalina. O próprio capitalismo é algo que já faz um tempo, deixei de reclamar. É atitude claramente adolescente revoltar-se contra o capitalismo, naquela idade onde você já sabe o que quer: um livro, uma camisa, um tênis, mas você não tem dinheiro e simplesmente não aceita que seja certo ter que trabalhar pra ganhar esse dinheiro ou esses produtos! Então só lhe resta o "Foda-se o capitalismo, sou revoltadinho".

Mas voltemos ao Natal. Apesar de qualquer desculpa esfarrapada para julgar tal tradição como manipulação do sistema vigente, devemos ver que o Natal é uma tradição muito antiga, que transcende nossa noção de sociedade moderna. Para ser mais exato, estamos falando da comemoração pagã do nascimento do Sol Invícto, no dia 25 de dezembro. Está confuso? Pois é, talvez o natal não seja tão monótono assim!
A cultural romana festejava do dia 17 à 24 de dezembro as comemorações de Saturnália, uma festa ao deus Saturno, seguido então do dia mais curto do ano (no hemisfério Norte). Hoje em dia é sabido que inúmeros "Deuses, mitos, figuras símbolos de uma época" nasceram no dia 25, ou tinham essa data celebrada com seu nascimento, desde o antigo Egito. No caso de Jesus Cristo, foi o Constantino (Imperador) que devidamente catolizado e percebendo que os cultos de fim de ano não iriam cessar mesmo com a ascensão do cristianismo (o que é um sincretismo religioso natural da sociedade) resolveu decretar oficialmente (na lei) que o dia 25 de Dezembro tornava-se então o dia de comemorar o nascimento de Jesus Cristo. De forma que tal qual como em várias outras tradições, o Natal tornou-se um ritual misto de paganismo (politeísmo) e cristianismo (monoteísmo). Com o crescimento de popularidade da fé católica e cristã todo e qualquer vestígio do simbolismo mais denso e verdadeiro do natal acabaram ficando em segundo plano. Aí acrescentam-se inúmeros novos símbolos, como por exemplo o clássico Papai Noel, na verdade Nicolau de Mira, um santo Turco, cultuado em boa parte do Norte, falecido em 350 d.c.

De santo bondoso que doava todos seus bens para o velhinho responsável por presentear todas as crianças é um pulo. Vale a pena conhecer a história mais a fundo.
Mas ainda assim algumas tradições originais mantem-se, como o pinheirinho de Natal, árvore típica da região fria do mundo, na antiga Europa, a guirlanda, também clássico item pagão.

As vezes algumas pessoas podem interpretar o paganismo como algo ruim ou mesmo maléfico, o que é no mínimo errado! o paganismo é a forma quase inerente do homem cultuar o universo e a vida, tudo como um Deus vivo, é a relação tradicional religiosa com a terra, em um período onde o homem relacionava-se de forma muito próxima e intensa com a terra, com o clima, com o seu próprio mundo. Ao meu ver, essa relação ritualística verdadeira do Natal também deve ser resgatada e levada em conta. Não existe como ignorar a ligação natural da data com o nascimento de Jesus e sua importância, mas devo dizer que me agrada compreender toda a cerimônia natalina como uma comemoração de valores que transcendem a ideia cristã e ganham uma significância pessoal, familiar, de celebração da vida e da família, da relação com a natureza e tudo que conseguimos de bom nesse ano que passou. Os presentes são sim importantes, o clima natalino é sim importante, por que não vivemos em uma zona intelectual de estudar história, mas sim no dia a dia de um povo que precisa firma-se em cultos que lhe engrandeçam a alma, que fortaleça a família e renove as expectativas, juntamente com outro ritual famoso de nossa sociedade, o Ano Novo.

Finalizo esse relato dizendo que montar o pinheirinho de Natal (pinheirinho de verdade, e não de plástico) com minha filha de dois anos e meio foi uma experiência muito boa, colher pinhas de verdade para fazer a guirlanda e tudo mais, me deu uma sensação de relação com essa cerimônia e penso que enfim me livrei de qualquer ranço pseudo filosófico de negação às tradições.

Desejo a todos um Feliz Natal!