#FazendoHistoria - Tratado de História das Religiões - Mircea Eliade

in #pt6 years ago (edited)

Foi neste livro que Mircea Eliade cunhou o termo Hierofania, (do grego hieros (ἱερός) = sagrado e faneia (φαίνειν) = manifesto) o ato de manifestação do sagrado.

Segundo ele não é possível para maioria de nós modernos compreender plenamente o sentido do sagrado, no entanto para os povos antigos todos os aspectos da vida estavam envolvidos no tempo mágico dos mitos. Os deuses para eles eram as próprias forças da natureza, com os quais se relacionavam, não eram seres afastados e distantes, suas religiões tinham um caráter muito mais pragmático.

Para os antigos “Mito”, ao contrário de nosso entendimento atual que considera um mito como algo falso, em oposição ao “Real” era considerado exatamente como uma manifestação da Verdade. Através deles a origem de todas as coisas eram compreendidas.

Mircea Eliade era um filósofo, por isto apesar do nome Tratado de História das Religiões, o livro não estuda as religiões de uma perspectiva histórica tradicional, no sentido de narrar os fatos. Ao Invés disto aborda os fenômenos religiosos em si mesmos, identificando os principais símbolos e estudando a sua estrutura e significado.

Em sua extensa obra ele compara as religiões, encontrando tipologias semelhantes entre diferentes culturas e momentos históricos sempre buscando uma síntese. Além de ser considerado um grande estudioso dos Mitos, se aprofundou em temas como Misticismo, Sonhos, Visões, e Êxtase. Viveu na Índia, onde estudou Yoga e leu manuscritos clássicos do hinduísmo em sânscrito original.


Mas por que eu gosto deste livro? Para responder terei que contar um pouco da minha própria História: Resolvi estudar Filosofia por influência de um professor. Este professor era tão bom, que vários outros alunos e amigos também se decidiram pelo mesmo caminho na mesma época. A maioria deles se formou, mas eu abandonei o curso e acabei voltando minha atenção para o campo da literatura. Percebi esta tendência quando na época da faculdade, o assunto que mais me interessava era Mitologia.

Eliade também escreveu romances, foi acusado de pornografia e de ter participado de movimentos fascistas, independente de qualquer coisa seus livros e ideias são muito fascinantes para mim, principalmente no que tange as descrições dos mitos de diversas culturas e povos arcaicos.

Como eu já disse anteriormente quando escrevi minha “pequena autobiografia” acredito que a literatura é capaz de exprimir e demonstrar uma realidade e uma verdade de maneira muito mais vívida e contundente do que a filosofia, portanto nem me ligo tanto na categorização que ele faz, e nesta parte dos conceitos, estruturas, hierofanias e a noção de sagrado que permeia toda sua obra, embora seja sim muito interessante.

O que eu mais gosto são os mitos em forma de narração literária dos feitos daqueles seres mágicos originais, que existiram no chamado Tempo do Sonho e deram origem a todas as coisas, trouxeram sentido e revelaram a realidade em sua verdade.

Não apenas as histórias em si, mas todos os símbolos, a visão e percepção de mundo que elas trazem à tona. Mais do que compreender a razão e o sentido oculto por trás dos conhecimentos e práticas destas culturas eu prefiro apenas absorver e sentir com o coração as mitologias, admirando e considerando seus conteúdos como expressões do mistério insondável que nos cerca.

Como cada cultura vê e compreende seus deuses e o universo e como utilizam tais conhecimentos através de rituais relacionados a promover boas colheitas e celebrar a abundância de alimentos. Os deuses se confundem e estão sempre em constante simbiose com as forças da natureza. Durante milênios as culturas eram matriarcais e as principais divindades cultuadas eram ligadas à terra, e ao sagrado feminino.

Em quase todas estas culturas a Grande Mãe era a principal divindade. Portanto a Natureza, a Terra, a Vegetação, as Águas, etc. eram muito mais importantes do que os deuses masculinos, solares e celestiais que tinham uma função secundária, normalmente ligados a fertilização da terra através da chuva, e eram considerados “afastados” dos assuntos humanos, com os quais não se envolviam.

Infelizmente não tenho como tirar uma foto do livro agora, ele ficou na minha outra casa lá no Rio de Janeiro. Mas tenho um outro aqui que trouxe comigo e que tem uma total conexão com o assunto: Mitologia dos Orixás:


Embora não seja um livro de História é um livro de histórias, ou “estórias” e de certa forma complementa o livro anterior. Também tenho uma forte relação com as culturas africanas, mas falarei sobre este assunto futuramente para não me estender demais.


Esse post faz parte do concurso #fazendohistoria, uma iniciativa de @leodelara.

Imagens: (1) Saraiva (2) Wikipedia e (3) Foto original.




Sort:  

Ótimo texto, fiquei com vontade de ler esse livro. Eu acredito que Deus tem várias manifestações divinas,
e procuro respeitar todas. Também valorizo muito em minhas crenças o sagrado feminino, acredito que Deus não tem gênero, mas as emanações dele possui essas duas energias complementares, cada uma responsável por determinado aspecto da criação, que devem estar em equilíbrio e serem respeitadas como parte do criador.

@LeodeLara

Obrigado. Tenho certeza que você vai gostar muito deste autor, tem muitos livros bons, alguns outros são: "Mito e Realidade" e "O Sagrado e o Profano" e tem um livro dele intitulado: "O Xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase", que eu também gosto muito.

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Acredito 100% na presença de Deus, mas não me sinto ligado a NENHUM tipo de religião (ou tradições que sejam inerentes a alguma delas). Rezo onde quero, quando preciso e sempre que julgo necessário (não apenas para pedir algo, mas também para agradecer).

No geral, eu acho o campo religioso - como o mesmo se estabeleceu ao longo dos anos - um verdadeiro campo minado que realmente não me agrada.

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já eu não acredito em deus, portanto você tem razão, e é estranho eu afirmar gostar deste livro, mas é que curto mitologia, e os livros deste autor abordam muito este tema. Quanto a religião, também não sou uma pessoa muito religiosa, mas o que acho interessantes nestas culturas antigas é que a religião deles era o xamanismo, então estava mais no campo da feitiçaria e das viagens do xamã por outros mundos e estados de consciência.

E aí, cara!
Também curto bastante histórias miticas embora faz tempo que não as leia, lembro do tempo do ensino médio que tínhamos que ler diversos livros sobro contos gregos que falavam de diferentes deuses e como as personagens se relacionavam com eles. É um mundo que te envolve e como você disse, as vezes é melhor se deixar levar pela narrativa do que tentar entender cada detalhe por trás da história. Bem legal!
@leodelara
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Normalmente a mitologia grega é a porta de entrada, mas os mitos de todos os povos antigos são igualmente fascinantes, para mim uma das culturas mais fantásticas em termos de mitos é a indiana.

Muito bom @pedrocanella! Gosto muito desses temas e não conhecia esse livro, já tinha lido sobre o autor, mas foge um pouco das minhas prioridades, vou guardar o nome para ler com mais calma.

Muito se confunde no entendimento dos dogmas, na discussão da existência ou não de Um ou mais deuses. O que acredito estar fora da nossa possibilidade, pelo menos da minha area, porem podemos estudar como os seres humanos interagem com seus dogmas, o objeto de estudo das principais teorias, e de minha preferencia psicanálise e fenomenologia é o animal humano, e não a existência ou não dos mitos(no sentido que traz, que é a significação de mito).

Já li que alguns autores creditam a cultura helênica precursora da filosofia que molda nossa sociedade, essa aurora do pensamento - "lampejos", a falta de um dogma dominante, que satisfizesse as "verdades reveladas". Assim a partir de questionamentos existenciais foi possível desvendar o que até então sabido, deveríamos lembrar disso com frequência hoje em dia. O positivismo tomou conta da nossa sociedade, e as "verdades reveladas" deram lugar a economia psíquica proveniente do advento da tecnologia. No meio de tantos conhecimentos acumulados, estamos parados do tempo, e talvez retrocederemos como sociedade.

Os mitos preenchem um vazio existencial, dando um lugar a falta do referencial simbólico, seja "pai"ou "mãe", e não so a falta do simbólico, a falta da função do simbólico é tao importante quanto. Acredito ser muito importante os mitos para a nossa espécie. Infelizmente as mentes mais sofridas, por vezes atuam através dos símbolos misticos para praticar seus radicalismos.

São temas que realmente deveríamos discutir mais, entender que todas as crenças terão seu lugar, a cada um, e o respeito ao outro e as crenças individuais são importantíssimos em uma civilização, por mais que ainda estejamos longe disso. Muito bom seu texto.

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Obrigado @matheusggr

Exato, sem estes mitos e dogmas religiosos acredito que a sociedade seria mais caótica, pois como você disse, ao dar resposta ao vazio existencial das pessoas, geram uma certa tranquilidade e estabilidade para a seguirem a vida cotidiana.

O que me fascina é exatamente o lado psicológico, como te disse anteriormente, adoro os livros do Oliver Sacks, e explorar as nuances da mente humana, seus estados de consciência e formas diversas de perceber a realidade que nos cerca.

Nos livros do Eliade podemos vislumbrar isto, como era diferente a visão de mundo naquela época, como cada cultura tinha seu póprio "molde" para lidar com a realidade.

Certamente nenhum é "certo" ou "errado", os deuses e mitos são diferentes manifestações, em cada cultura, para dar resposta aos mistérios insondáveis do nosso universo.

Pude comprovar isto quando morei na Amazônia, pois lá as pessoas acreditam sem nenhuma sombra de dúvida em diversas lendas, para eles não são lendas, mas uma total realidade.

Em todas as famílias com quem conversei, sempre conhecem alguém que já presenciou ou teve alguma experiência direta com estes "mistérios" e seres mágicos da floresta. Tais como a "Caipora", "Pai da Mata", "Mãe da Mata" "Mapinguari", etc.

Se você disser que tais coisas não existem, vão olhar para você como se você fosse "louco". Pois eles realmente vivem outra realidade, diferente da nossa mas não menos real.

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