#FazendoHistoria - Breve História do Xadrez - Parte 1

in #pt6 years ago (edited)
Xilogravura de um tratado de xadrez italiano
(imagem: https://commons.wikimedia.org)

Xadrez na Antiguidade

O Xadrez é um dos jogos mais antigos na história da humanidade, sua verdadeira origem continua sendo um mistério mas acredita-se que tenha sido criado a mais de 2 mil anos na Índia.

Na antiga Índia existiram muitos reis e reinos em constante guerra entre si. Eles coexistiam sempre se desafiando. Cada pequeno país estava sempre em estado de alerta para a batalha. Os reinos faziam alianças entre si para destruir um adversário em comum, para algum tempo depois voltarem a se confrontar.

Os exércitos indianos eram formados pelos seguintes elementos: carros, cavalos, elefantes e soldados a pé, que eram comandados pelo rei e seu ministro da guerra.

(imagem: http://www.articlesonhistory.com)

Baseado nesta situação de constante guerra entre diversos reinos foi criado um jogo chamado Chaturanga que significa: Exército composto de 4 partes. Era jogado por 4 pessoas, cada jogador participante controlando um reino ou conjunto de peças, e as peças simbolizavam os 4 elementos que formavam o exército hindú.

Elefante e Cavaleiro, Marfim, datado de aproximadamente 200 DC.
(imagem: http://www.cais-soas.com)

Xadrez entre os Árabes

Na Pérsia, no ano 200 depois de Cristo, o Xadrez já era considerado como jogo nacional, e exigia-se que os reis tivessem grande habilidade em sua prática.


O manuscrito persa do século XV-XVI.
(imagem: http://www.amaana.org)

Logo o jogo adquiriu também uma nova forma, passou a ser jogado com apenas 2 jogadores e foi suprimido o uso dos dados, embora a modalidade com dados tenha também permanecido ainda por longo tempo.

Deste modo também a expressão: Xeque e Xeque Mate que até hoje faz parte das regras oficiais do jogo são uma marca da grande influência que os Persas tiveram na evolução e difusão do nobre jogo.


Conjunto de sete peças, marfim, datado de 762 DC
(imagem: http://www.cais-soas.com)

Os primeiros mestres de Xadrez que conhecemos viveram na Ásia Central por volta dos séculos VIII ou IX de nossa Era, e foram os pioneiros na teoria das aberturas, no estudo dos finais de partidas e na composição de problemas.

Um dos maiores jogadores daquele tempo, foi, por incrível que pareça, um escravo de nome: Naim-el-Jadim que ficou famoso por sua habilidade no jogo e compôs inúmeros problemas que eram admirados pelos nobres.

Os árabes tiveram notáveis enxadristas e o jogo se espalhou rapidamente tanto pela Pérsia, Arábia, chegando a Europa, quanto para os países do extremo oriente.


Xadrez no mundo muçulmano.
(imagem: http://history.chess.free.fr)

Naquela época o turcomano Abu-Bak-As-Suli era considerado o campeão mundial e foi autor de importantes manuscritos em língua árabe onde ampliou as investigações anteriores sobre o jogo e que contém numerosas análises de aberturas e finais.

Xadrez na Idade Média

No entanto é durante a Idade Média que o jogo adquire sua denominação e características idênticas as atuais, obedecendo as mesmas regras de hoje e passa a fazer parte da educação dos nobres cavaleiros, juntamente com a equitação, natação, esgrima, etc.


Embora de início tenha sido proibido pelo clero que considerava o Xadrez uma vergonhosa futilidade, em pouco tempo esta atitude mudou pois já era praticado pela maioria dos reis e nobres, e os religiosos passaram a contribuir inclusive no desenvolvimento da teoria do jogo.

No ano de 1497 aparece o primeiro livro impresso de Xadrez, um tratado de autoria do espanhol Luís de Lucena, que contém uma análise de aberturas e 150 problemas. Já em 1512 surge em Roma um pequeno livro de autoria do português Damiano, onde pela primeira vez aparece um princípio básico que contém a semente da concepção moderna do jogo: “Não se deve realizar nenhuma jogada sem objetivo, cada lance deve ter uma determinado fim.”

O Xadrez aos poucos vai conquistando adeptos dentro da nobreza feudal, entre os mercadores, assim como nos círculos clericais. Aparecem os primeiros jogadores profissionais que se lançavam em viagens e aventuras sem fim, cavalgando pela Europa em busca de fama.


Cavaleiros Templários jogando xadrez
(imagem: https://commons.wikimedia.org)

Percorrendo longas distâncias, pedindo acolhida nas mais diversas cidades, castelos e abadias, e desafiando nobres e aficionados, ou jogando contra outros profissionais em troca de prêmios em dinheiro. Muitos compõem interessantes problemas que são impressos e vendidos para os entediados príncipes, reis, papas, etc. Nesta época se destacam Leonardo de Cutri, Ruy Lopes e Paolo Boi.


Peças medievais do jogo de xadrez
(imagem: http://medievalimago.org)

Ruy Lopes era um abade espanhol que escreveu um livro que continha as regras do jogo, analises de aberturas e partidas do manual de Damiano duramente criticadas. Foi precisamente nesta obra que aparece pela primeira vez a abertura 1. e4, e5. 2. Cf3, Cc6. 3. Bb5 que até hoje continua sendo conhecida como “Ruy Lopes” ou “Abertura Espanhola” considerada ainda em nossos dias, uma das mais sólidas e promissoras aberturas tanto para as brancas quanto para as negras.

Este artigo faz parte do lançamento da tag #fazendohistoria

Bibliografia:
Adventure of Chess - Edward Lasker
Filosofias da India - Heinrich Zimmer

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Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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Olá, tudo bem contigo @pedrocanella? Parabéns por seu post e obrigado por usar nossa nova tag #fazendohistoria. E é claro, de participar do Desafio!
Antiguidade, Índia, árabes... e aiaiai na Idade Média! Pegou pesado comigo heim? Mais uma pra listas das coisas que herdamos do oriente. Os diversos desenvolvimentos que o jogo teve são fantásticos. Se despertou curiosidade em saber em quais contextos ocorreram essas transformações e se elas se influenciaram mutuamente. Uma dica que descobri recentemente sobre os usos de "a.C. e D.C." é que têm diminuído bastante. Tem-se usado cada vez mais "nossa Era" como você fez, ou "Era Comum". Recentemente o canal de televisão inglês BBC atualizou todo o conteúdo de seu site para esse padrão. E sobre o "por incrível que pareça, um escravo" ter sido um mestre, nem é tão incrível assim sabia? A escravidão entre a Antiguidade e Idade Média foram completamente diferente da escravidão das sociedades africanas na modernidade. Antes, eram escravos de guerra, ou seja, toda uma sociedade perdedora (na guerra) poderia torna-se escravos entre eles grandes pensadores. Ou até mesmo escravidão por dívidas, o que poderia acontecer com um grande mestre também. “Não se deve realizar nenhuma jogada sem objetivo, cada lance deve ter uma determinado fim.” Precisava levar essa frase pra vida. Mas tanto no xadrez quando fora dele sou mais "Deixa a vida me levar, vida leva eu..." hehe Que a Deusa Fortuna esteja do seu lado!!

Adorei conhecer um pouco da história do xadrez =)
Fez um bom apanhado e adorei as imagens!
Você deve ser um excelente jogador! Joga há bastante tempo?

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