CRÍTICA | Uma Aventura Lego 2steemCreated with Sketch.

in #pt5 years ago

É curioso sair do cinema refletindo, principalmente, sobre a familiaridade apresentada em Uma Aventura Lego 2. O mais do mesmo que a obra oferece tão bem dialogou comigo de maneiras distintas, quase antagônicas. Ao mesmo tempo que confortava meu “saudosismo” para com o primeiro filme (Uma Aventura Lego, 2014, de Phil Lorde e Chris Miller), essa familiaridade também me desconfortava com sua óbvia repetição narrativa, tanto na execução quanto na estrutura. Foi graças a essa familiaridade que notei-me tentado decidir, afinal, o quanto havia gostado de Uma Aventura Lego 2.
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Phil Lorde e Chris Miller retornam, como roteiristas, ao universo que conceberam em 2014. Não me oponho a afirmar que a dupla é a principal responsável pelo conflito que me apoquenta. Vamos aos porquês...

Desde o primeiro momento, através de um breve prólogo, Uma Aventura Lego 2 apresenta suas características principais enquanto dita qual será a trama. A apresentação discorre através do visual conhecido desde a primeira obra: riqueza de detalhes, textura sensorialmente palatável, cores ricas e construções criativas, desde os novos personagens até os diferentes cenários. Nada mal e — com exceção de alguns personagens — nada novo. A partir desses elementos Uma Aventura Lego 2 apresenta a sua premissa: os alienígenas destruidores Lego Duplo, novo brinquedo Lego, maiores e direcionados para crianças na primeira infância (sim, o filme continua sendo um expositor de brinquedos e alimento para o consumismo de todas as idades) chegaram e estão destruindo tudo mais rápido do que os cidadãos conseguem construir. Passados cinco anos após a aniquilação da cidade, Emmet (Chris Pratt) e seus amigos – como Wyldstyle (Elizabeth Banks), Batman (Will Arnett), Unikitty (Alison Brie), dentre outros – precisarão combater os Lego Duplo para evitar a destruição total.

A comédia de Uma Aventura Lego 2 permanece em lugar comum. As piadas, por exemplo, mantém-se com a mesma estrutura ao buscarem, basicamente, apenas três formatos que se repetem: punchlines rápidos, as gags que reforçam o aspecto imaginativo (o mundo real que sustenta e permite a fantasia) e referências pop aleatórias (de Radiohead à Matrix, o roteiro consegue jogar referências cuja apreciação é subjetiva). Mas é também a partir dessa mesmice que Phil Lorde e Chris Miller, além, é claro, do diretor Mike Mitchell, estabelecem o conflito que ficou na minha cabeça através de um elemento distinto: a sinceridade.

Uma Aventura Lego 2 demonstra uma autoconsciência que permeia suas características visuais e narrativas. Há piadas comentando a estrutura do filme, desde decisões tomadas por personagens, até as fragilidades do roteiro, como ao sugerir que um personagem – e o espectador, indiretamente – apenas aceite algo já que uma explicação detalhada demonstraria a complexidade do assunto, ou a antecipação do deus ex machina que resolverá parte da trama, dentre outros momentos. A sinceridade pede, principalmente, por abstração. Pede que o espectador releve incoerências narrativas e embarque na aventura. Tudo isso em forma de piada orgânica que encaixa perfeitamente na proposta da equipe criativa. Nesse ponto reside outra apreciação subjetiva: ao mesmo tempo em que eu aceitei embarcar na jornada sem muitos questionamentos, senti-me incomodado pelo artifício que, mesmo sincero (e até engraçado em certo ponto), soa um pouco preguiçoso.

O terceiro ato, porém, elabora valor que dá ao Uma Aventura Lego 2 sua grande partícula de originalidade: o plot twist. A partir dessa peripécia o filme apresenta um mínimo de criatividade que torna a trama consideravelmente mais interessante. Nesse ponto, a condução da obra demonstra-se competente ao guiar bem o espectador para uma surpresa instigante (dentro do possível).

É também no terceiro ato que a mensagem de Uma Aventura Lego 2 ganha substância. Curiosamente, isso acontece ao resgatar a música-chiclete Everything is Awsome, do primeiro filme, e repaginá-la com uma nova perspectiva, diminuindo a candura infantil e utópica que ela representava (nada contra como ela era). A obra ganha contornos de maturidade. O mais interessante é perceber que a repetição da música não cai, tal como outros elementos do filme, em lugar comum, mas é utilizada para se reinventar. Imagino que assim os realizadores tenham buscado um diálogo ainda mais próximo com o público do primeiro filme, agora mais maduro, oferecendo uma perspectiva um pouco mais realista que demonstra a necessidade de percepção e de adaptação (como é demonstrado, também, nos momentos live action) dos personagens.

Uma Aventura Lego 2 é uma obra familiarmente sincera. Algumas repetições são necessárias, outras são óbvias e outras soam preguiçosas. Mas nenhuma delas se apresenta irrelevante dentro do contexto. A única que poderia cair nesse terreno infame seria a repetição da música, mas, ao fazê-lo, o filme reescreve seu significado. Além disso, há uma sinceridade envolvente em assistir uma obra que não esconde seus objetivos (vendas e entretenimento), tampouco suas limitações, mesmo que isso soe preguiçoso. Ainda assim, isso não é o suficiente para definir o filme como tal.

Mas ainda assim, com méritos tão evidentes, precisei refletir sobre como estava me sentido com Uma Aventura Lego 2. Não tive qualquer resquício do fascínio que senti em 2014. Ri consideravelmente menos. Mas gostei ainda mais da mensagem e de como o roteiro me conduziu até o grato plot twist. E o desejo de comprar Legos também aflorou (mérito atingido...), mas foi rapidamente rechaçado pela minha carteira (... mas anulado por força externa). No fim, percebi que estava satisfeito com o que assisti. O tempo passou rápido, assim como minhas lembranças do filme.
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