Livro - Memórias de um doente dos nervos - Daniel Paul Schreber / Tradução: Marilene Carone - #FazendoHistória #Biblioteca

in #pt6 years ago (edited)

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Fonte: Amazon


Boa tarde!

O @leodelara traz nova configuração do concurso do #FazendoHistoria, e uma nova dinâmica muito interessante, que engloba e estimula a interação colaborativa e competitiva. Como sempre, é um prazer participar de iniciativas assim, que além de nos estimular a trazer conhecimento a plataforma, ainda ganhamos com isso, com aprendizado, interação e ainda em ativos digitais.

Aqui temos o post de apresentação do concurso, por @leodelara, explicando funcionamento. E ainda temos o post como forma de podcast, explicando questões em relação a dúvidas da comunidade.

Para iniciar minha participação, e ainda ganhar uns pontos extras, trarei junto a tag #Biblioteca, reunida semanalmente pelo @wiseagent no @msp-brasil.

Cada vez mais temos uma comunidade integrada, e produtiva, independente das oscilações de preço, agregamos um valor bem maior nessa interação do que o financeiro. Formamos uma forte comunidade virtual com o @brazilians, participando dessa nova etapa da Era da Informação.

E assim hoje retorno a minha proposta de discorrer aqui sobre o caso do Dr Schreber. Um caso de imenso aprendizado na área do saber sobre nosso funcionamento mental, e sobre a clínica da psicose. Tomando grande proporção após análise da escrita do Dr Schreber, pelo ponto fixo do saber psicanalítico e grande autor, pensador, artista e estudioso, S. Freud, na premissa de sua leitura psicanalítica na compreensão da linguagem do Dr Schreber se representava.

"A investigação psicanalítica da paranoia não seria possível se os doentes não tivessem a peculiaridade de revelar, ainda que de forma distorcida, justamente o que os demais neuróticos escondem como um segredo."(S. Freud, 1911)1.

O livro marca a história de construção do saber sobre nosso funcionamento mental. Dentre ilustres mentes como S. Freud, muitos autores retornaram fazer suas leituras e análises sobre o caso Schreber. Como o fez um ilustre pensador do nosso tempo, C. Melman , discorrendo sobre o caso em seus nos seminários de 1994 a 1995, que dão origem ao livro "Retorno a Schreber", mostrando que esse caso, pode nos ensinar bastante sobre a neurose também.

"Por que nosso destino seria menos delirante, menos errático do que o do célebre Presidente Schreber?" - (J. J. Tyszler - 2006)2.

Como trarei interpretações, leituras, bibliografias, nesse tema que é extenso, e que certamente ainda assim, como deve ser, deixará muito que foi trabalhado por outras mentes, é importante termos um ponto de partida, e referências como complementação para quem se interessar.

Esse ponto de partida é a própria leitura da escrita do Dr Schreber sobre sua realidade. Como J. Lacan trouxe é um grande livro de ensino, e foi também utilizado pelo mesmo trazendo suas considerações, na reformulação da teoria psicanalítica pela sua perspectiva, adicionando em muito ao saber sobre a teoria psicanalítica têm nos tempos atuais.

”O fato é que o livro de Schreber continua a ser a prova de fogo da teoria psicanalítica e um dos melhores textos de iniciação à fenomenologia da psicose, segundo Lacan.” (Marilene Carone - 1995)3.

O livro proposto recebe o nome de Memória de um Doente dos Nervos, escrito pelo próprio Daniel Paul Schreber. Foi traduzido do original alemão, e ainda com uma ótima introdução por Marilene Carone. Não é um livro fácil de achar, comprei pelo Estande Virtual, no Amazon e na Saraiva estão em falta.

Também pode ser encontrado na internet. Uma incoerência no fundamento do conhecimento, é tudo ter um custo, por muitas vezes alto, e para muitos, os pdf's disponibilizados na internet podem ajudar, no entanto, deve-se ter cuidado com leis como do direito autoral.

Cuidado também com as traduções, sempre me atendo a traduções, é um grande problema o viés de erro de interpretação na leitura das traduções, ou traduções secundárias a outras traduções, ou seja, uma interpretação em cima de outra. São temas complexos, e tem suas linguagens mais específicas. É sempre importante ter referências de boas traduções, ou melhor ler o original. Para mim é muito difícil ler esses temas em outras línguas, já é difícil em português!

O livro se inicia com Marilene Carone, nos trazendo o contexto do qual essa literatura se insere na importância acadêmica, no que envolve o termo “loucura”. Situando a cronologia e particularidades da vida de Dr Schreber, a partir do interesses e leituras, com o fim de localizar e nos fornecer esses escritos.

Com isso nos traz essa obra, para discussão e elaboração sobre esse caso, sendo possível utilizar e/ou contestar o saber psiquiátrico e/ou psicanalítico, agregar ao nosso conhecimento esse saber. Nos levando a conhecer a própria clínica que se apresenta nos escritos do Dr Schreber.

Muito desse contexto nem o próprio S. Freud, o "sherlock holmes do inconsciente", teve acesso. Mais dados foram adicionados após biografias junto ao tempo. Traz assim muitos dados sobre a vida pessoal para além do que já trazia em muito o Dr Schreber em sua linguagem.

“Como observa O. Mannoni, por mais que o livro de Schreber aponte para o imaginário, nunca foi considerado obra de imaginação: ele transforma cada leitor seu num psiquiatra.” - (Marilene Carone - 1995)3.

Marilene também não poupa críticas ao saber psiquiátrico, e sua limitação compreensiva em relação a leitura psicanalítica, sobre a compreensão da singularidade daquele indivíduo. Trarei essas diferenças com mais calma eventualmente.

Assim Marilene introduz a leitura, da complexa e extensa obra “Memórias de um doente dos nervos - Daniel Paul Schreber”, com o artigo intitulado “Da loucura do prestígio ao prestígio da loucura".

No livro Dr Schreber irá explicar como veio a ser acometido pelo que chama de doença dos nervos, remetendo ao título da obra. Justificando que mesmo doente dos nervos, e uma justificativa claramente coerente, ele não perdeu a sua razão.

”Minha mente é tão clara como de qualquer outra pessoa.” - (Dr Schreber - 1903)4.

Trazendo suas marcas de criação, sua relação submissa ao pai e seu modelo de educação famoso na época, a dificuldade do seu consciente lidar com esses instintos do inconsciente, até não suportar mais,ou seja, suas emoções, perdas conflitos morais, suas expectativas, mesmo tendo sucesso na carreira. A dificuldade de grande peso, que o funcionamento psíquico do Dr Schreber tem ao lidar com as perdas, consequente da sua formação psíquica, pela suas relações sociais e base genética, somado a cultura que o forma.

Nesse caso, como acontece com todos nós, é um fator determinante as circunstâncias relacionais, comedidos pela presença de afeto provenientes de relações sociais desde o nascimento, na infância, na adolescência, seguindo na idade adulta, e continua nas etapas posteriores com o envelhecimento. Sendo que nas relações da infância tem o maior impacto na formação mental, mesmo assim, em qualquer época da vida, a mente funciona melhor a quem tiver vínculos afetivos saudáveis.

Retornando, Dr Schreber nos leva em seu encadeamento de ideias, que dentre circunstâncias e fenômenos presentes em sua realidade, nos levando em sua sistematização delirante que envolve temas místicos, grandiosos, de perseguição, influência, dentre outros temas.

”Por outro lado, creio que poderia ser valioso para ciência e para o conhecimento de verdades religiosas possibilitar, ainda durante a minha vida, quaisquer observações da parte de profissionais sobre meu corpo e meu destino pessoal.” - (Dr Schreber - 1903)4.

Trazendo em seus escritos iniciados ainda em sua longa segunda internação, discorrendo sobre suas relações pessoais e espirituais. E narrando a trajetória de seu acometimento mórbido, com um raciocínio lógico incrível.

Tendo assim, somente nos deixando desejosos, sobre o tema do terceiro capítulo do qual não divulgou, onde explica que iria relatar suas relações relativa a membros da família, depois justifica que por respeito não iria divulgar, suprimindo o capítulo. Nos deixa essa interrogação, que até hoje não se tem notícia. E certamente seria de grande valia saber como o mesmo interpretava suas relações pessoais.

Bom pessoal, não é um livro muito fácil, Dr Schreber era de uma cultura intelectual imensa, e traz uma complexidade de suas associações de ideias e sua sistematização delirante, em sua linguagem condensada pelo funcionamento psíquico psicótico, construído em meio a muitos outros fenômenos psíquicos.

No entanto, vale a leitura pelo menos dos três capítulos iniciais, para acompanhar os próximos posts, a quem interessar entender melhor sobre a nós mesmos e as relações humanas que vivemos. Continuarei nesse percurso trazendo algumas leituras e interpretações de minhas referências de estudo.

Obrigado pela leitura!

"Então, o progresso introduzido pela psicanálise era o de reconhecer que, no caso, o sujeito não era inicialmente o autor, e, em seguida, que ele não passava de um efeito parasitário do significante, e que, então, nossa relação com o significante devia ser desse tipo, quer dizer, uma repetição, uma fiel retomada". (Charles Melman - 1994)2.


Referências das citações - por ordem de citação:

1 - FREUD, Sigmund. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia (Dementia Paranoides) relatado em autobiografia (“O caso Schreber, 1911”). In: Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schreber”), artigos sobre técnica e outros textos (1911 –1913) –Obras completas, vol. 10.Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo. Cia.das Letras. 2010.

2 - MELMAN, Charles. Retorno a Schreber/ Charles Melman. - Porto Alegre: CMC, 2006.

3 - CARONE, M. Da loucura de prestígio ao prestígio da loucura. In: SCHREBER, D. P. Memórias de um doente dos nervos. Tradução de Marilene Carone. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

4 - SCHREBER, Daniel Paul. Memórias de um doente dos nervos. Tradução e organização de Marilene Carone. Rio de Janeiro:Graal, 1984.


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