#Biblioteca - O Clube do Filme

in #pt6 years ago (edited)

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Imagem Divulgação - Fonte Amazon


O livro O Clube do Filme, escrito pelo escritor e novelista canadense David Gilmour, foi uma grata surpresa de leitura.

Estava no mercado há alguns anos atrás, querendo ler algo diferente, e dentre alguns livros expostos me chamou atenção o enredo do livro. Como sempre gostei de filmes, comprei para ver como se desenrolava a história.

Baseado em sua história pessoal, e o relacionamento com seu filho, David traz a angústia e dificuldade de educar seu filho, que tinha 15 anos, atravessava a adolescência, indo mal na escola, e sem perspectivas futuras.

Jesse vinha tendo notas desastrosas na escola, mesmo sendo considerado simpático e sociável, e sendo recorrentemente advertências sobre suas notas, somente o cigarro era algo que realmente prendia sua atenção.

David estava separado da mãe de Jesse, Maggie. E mantinham um relacionamento saudável, com Jesse morando com David.

David não tinha um emprego fixo, era crítico de cinema na época, assistia a infelicidade de Jesse com o fracasso na escola, e já não sabia mais o que fazer, até que propôs a Jesse, se ele teria interesse em parar a escola, com o compromisso de assistir e discutir três filmes por semana.

E assim a história se desenrola, em uma escrita sensível, percorrendo grandes clássicos do cinema, e abrindo o universo do filho, as portas da linguagem, e ensinando algo muito maior que diversos saberes, que o amor e dialogo são as portas que encaminham o pensamento humano, e isso em minha perspectiva é educação.

A educação é um tema de grande impacto social, e cheia de nuances, e direções. Carrega muito da formação pessoal individual, e passa por etapas que não tem uma receita, sendo consequente também das relações familiares, e escolares.

É muito comum aqui no Brasil, atender crianças que vivem um contexto familiar conturbado, ainda mais nas comunidades mais pobres, com contextos de violência e falta de atenção. Não menos comum é a falta de atenção dos criadores em melhores condições sociais, afinal o trabalho dignifica, o que sobra é o tempo de recarregar as energias.

Muitos reproduzem na escola o que aprendem ou não aprendem em casa. E em muitos contexto os pais também nunca aprenderam, vivem em uma pobreza imensa, em relações de violência que perpassam gerações, tanto entre casais, quanto em relações do casal, a educação dos filhos.

É um erro acreditar que educação é só na escola. A função dos criadores, é imprescindível para constituição dos valores morais individuais, do caráter, dos limites das relações sociais e do respeito ao outro. Esses valores irão variar entre culturas e comunidades, e também farão parte da constituição mental individual.

E nos coloca em questão. Como educar os que nunca tiveram oportunidade de aprender? A escola pública tem um papel imprescindível.

O ensino que engloba valores e conteúdos, guiam e orientam o funcionamento mental. Eventualmente os valores adquiridos também martirizam a mente humana.

O afeto, o amor, faz com que os conteúdos e valores adquiridos, sejam apreendidos de outra forma, e mais eficaz.

De outra forma como no contexto do livro, mesmo com condições de vida, e relacionamentos estáveis, por mais que entrelace a separação do casal, que tem impacto, mesmo não descrito no livro, Jesse mantinha suas notas ruins, e dificuldade de acompanhar o ritmo da escola.

Os contextos se darão em diferentes dinâmicas. Sendo o que os unifica é a dificuldade de superar as perdas do crescimento, caso haja perdas, e caso haja algo a perder. E se não houver perdas, quando se têm algo, não se torna possível sentir desejo por algo que não tem, o que também acontece com muita frequência, não há demanda para ter ideais. Se nada falta, não é preciso buscar.

É importante ter, ter alguém. Muitos não tem ninguém, muitos tem e não superam as perdas que suprem o amadurecimento, e muitos não são permitidos perder.

As perdas se constituem da relação humana, nos tiram da zona de conforto, temos que superar a perda do seio materno, do sair do colo, dos criadores para fazer tudo, de sair da fralda e ir para a privada, das funções paternas e maternas que servem para nos dar e retirar. Nos ensinar a buscar na nossa realidade e na nossa vida os objetos perdidos. E lembro se perde quando se têm. Não ter também é comum, muito comum, e de grande impacto na constituição psíquica.

As funções maternas e paternas, podem ser exercidas por qualquer pessoa, e deve ser realizada com amor. Constituir uma presença, mesmo na ausência. Para que cada um aprenda a lidar com a própria realidade.

Infelizmente na dinâmica humana, os contextos dos extremos se reproduzem, em todas as camadas da sociedade, para mais e para menos. Tendo consequências que confluem no sofrimento mental individual, e que independente da opinião ou julgamento de qualquer ideologia, irá acontecer.

E no contexto médico, por mais que os tempos estejam difíceis, não adianta só medicar e se resumir aos reducionismos da classificação nosológica atual. Onde nesses contextos estimulantes são prescrevidos com imensa frequência. A medicação serve a um contexto clínico maior, que deve ser avaliado em cada caso, podem ser úteis, e muitas vezes o são, mas certamente em todos os casos devem ser avaliados a clínica que se forma, é a arte da medicina. A clínica, nossa interpretação, utilizando os instrumentos entre as experiências pessoais, saber (doutrinas), o funcionamento biológico orgânico, os dados, as nosologias (prévias e atuais), a farmacologia, naquela singularidade individual, entre outros, no exercício de interpretar o caso a caso. Prescrever faz parte da nossa função, porém é a clínica que nos direciona a "therapeia", é o que nos faz sermos portadores dessa suposta sabedoria.

Como diz um ditado que uma grande professor de semiologia me ensinou lá no início da minha formação, por volta de 2008. - “se você não sabe o que procura, não irá conseguir interpretar o que encontra”.

Retornando, a adolescência é um período difícil, de consolidação da personalidade, que soma as características constituídas a partir dos criadores, características também compostas por influência do meio cultural, somado e a constituição genética, tendo muito mais impacto a dinâmica relacional social.

Crescer não é fácil, a maturidade é uma das grandes questões a serem discutidas em nosso meio, onde a cultura do trabalho, do dinheiro, do consumo, das diversões, da sexualidade, permeiam uma série de valores constituídos em diferentes comunidades.

O indivíduo tem que se descobrir, a busca deve vir de dentro também, não só de fora, os ideais que nos dão movimento, ideais constituídos a partir dos relacionamentos principalmente parentais, desde o nascimento, e muito mais forte essa construção no campo do afeto, do que até das palavras. A palavra sem afeto, é vazia, assim como a ciência sem o humano, assim como qualquer objeto sem o valor humano.

Cada um deve constituir seus próprios pensamentos e desejos, claro que com ajuda do outro, porém é uma linha tênue, o desejo individual, ou a constituição de indivíduos reféns do desejo do outro, ou dos outros. Não saber o próprio desejo é muito mais comum do que parece ser.

Com essa sensibilidade, e assumindo um grande risco, David abre a porta do diálogo, a partir do que une os dois, o gosto pelo cinema. Uma linguagem em comum, que abre as portas para o ser falante e pensante, que não superou as etapas do crescimento, o que é imensamente comum, se constituir psiquicamente.

Somos que dependem do relacionamento com o outro, ao mesmo tempo que temos que nos constituir como sujeito, na busca dos nossos desejos, superando as perdas que o crescimento e amadurecimento nos impõe.

Não seria incomum se David falasse todo dia que o filho não quer nada, não faz nada, que tinha que trabalhar, querer alguma coisa da vida. Ou mesmo, o que é muito comum, quem nunca ouviu por aí? “Tinha que ter dado uma coça para aprender!”.

Se bater ensinasse, já tínhamos aprendido como sociedade, não teríamos tantos presos, e as leis seriam para contornar limites, e não de função punitiva, como o é. Há leis que são maiores que a lei dos legisladores, são as leis humanas.

No livro, David através do diálogo e entendimento do seu filho, fez com que conseguisse alcança-lo, e na linguagem. Ensinando e aprendendo, assim como Jesse. Os relacionamentos saldáveis caminham em um aprendizado mútuo.

Fazendo com que Jesse aprendesse a andar com as próprias pernas, em busca dos seus próprios desejos, com carinho, respeito e conhecimento.

O Clube do Filme é uma leitura curta e dinâmica, que nos faz refletir sobre os relacionamentos sociais e possibilidades, para além dos julgamentos morais rígidos e punitivos.

Além de ler as opiniões e curiosidades de David, sobre grandes clássicos da sétima arte, realizando a potência que a arte pode trazer no meio cultural.

Termino como o livro começa:

“Eu não sei nada sobre educação, exceto isto: que a maior e mais importante dificuldade dos seres humanos parece residir naquela área que diz respeito a como criar os filhos, e como educá-los”.- Michel de Montaigne (1533-`1592)



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