Igor Stravinsky: Uma vida de Obras

in #pt6 years ago

Igor Stravinsky

Introdução

A respeito de Stravinsky, pianista e compositor russo do século XX, pode dizer-se que foi um dos mais originais da sua geração, na forma como abordou, com sucesso, um diverso conjunto de estilos musicais, os influenciou e impulsionou (Grout & Palisca, 1994). Sobre Igor, filho, marido, pai, órfão de mãe, viúvo e marido novamente, pode dizer-se ainda que foi um “homem do mundo”, condicionado pelas tensões políticas da sua época, e amigo de algum dos vanguardistas deste século (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Um breve percurso pela sua biografia, notando como estas duas realidades se interceptam, procura ser a linha orientadora deste trabalho.

A juventude de Igor

Nasce Igor Fyodorovich Stravinsky, a 17 de Junho de 1882, em Orianembaum, no Golfo da Finlândia, filho de Fyodorovich Stravinsky e Anna Kholodovsky (Foundation Igor Stravinsky, 2010). O seu pai, de origem polaca, era um cantor Baixo, na Ópera Imperial de S. Petersburgo, e a sua mãe era bastante talentosa no piano (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Cresce então nas proximidades de S. Petersburgo, no distrito de Kryukov, com a possibilidade de assistir às actuações do pai, no Teatro Marriinsky (Canadian Opera Company, 2009). Em 1890 começa a frequentar aulas de piano, demonstrando já aí uma grande motivação e talento para a música (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Nesse mesmo ano, o jovem Stravinsky é encantado com o bailado A Bela Adormecida, de Tchaikovsky, e com a sua primeira exposição a uma orquestra (Wikipedia, 2012).

No entanto, e apesar da sua vontade em prosseguir os seus estudos em música, a vontade dos pais era que ele estudasse Direito, inscrevendo-o na Universidade de S. Petersburgo, em 1901 (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Nos quatro anos em que permaneceu inscrito na Universidade, assistiu a menos de cinquenta aulas, tal era o desinteresse que este tinha por Direito (Wikipedia, 2012). No seu primeiro ano de curso e torna-se amigo de Vladimir Rimsky-Korsakov, filho de Nikolai Rimsky-Korsakov, um compositor russo no auge da sua carreira. O Verão do ano seguinte passa-o na cidade alemã de Heidelberg, com os Rimsky-Korsakov, onde o pai de Vladimir fica suficientemente impressionado com o talento musical de Stravinsky, e decide propor-se como seu professor particular, em alternativa aos estudos num conservatório (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

Em Novembro de 1902, morre o seu pai, vítima de cancro, o que permite ao jovem Stravinsky uma maior liberdade para se dedicar à música (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Os Rimsky-Korsakov passam a ser como que uma segunda família para ele, onde continua a receber orientações de Nikolai, e se “infiltra” entre os grupos vanguardistas de S. Petersburgo, mantendo relações de amizade com muitos deles (Foundation Igor Stravinsky, 2010). A partir de 1905, as aulas particulares tornaram-se mais frequentes.(Foundation Igor Stravinsky, 2010).

Stravinsky, jovem-adulto

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Torna-se independente, em 1906, e casa-se com a sua prima, conhecida desde infância, Catherine Nossenko (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Nos dois anos que se seguem nascem: o seu primeiro, Theodore, e a sua primeira filha, Ludmila (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Deve assinalar-se também, o apoio que o compositor recebeu da sua mulher, enquanto o acompanhou na sua carreira musical (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

Uma das suas primeiras composições (1907), Sinfonia em Mi bemol maior, com uma forte influência do estilo do seu mestre é dedicada ao mesmo, Nikolai Rimsky-Korsakov (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Este morre em 1908, numa altura em que Stravinsky compunha Fogo-de-Artifício, uma fantasia orquestral para o casamento da filha de Rimsky-Korsakov, o que o motiva a compor Chant Funèbre (Foundation Igor Stravinsky, 2010) Sobre Nikolai Rimsky-Korsakov e as suas aulas, Stravinsky recordava que “o conhecimento do seu mestre era preciso, era capaz de o transmitir com grade clareza”, e “as suas aulas eram sempre de carácter técnico” (Foundation Igor Stravinsky, 2010). É natural que Rimsky-Korsakov tenha sido uma grande influência para Stravinsky, assim como os contactos que estabeleceu entre a elite intelectual de S. Petersburgo. Para além destes, o próprio ambiente cultural da cidade proporcionava “Serões de Música Contemporânea”, aos quais Stravinsky assistia, conhecendo, e dando-se a conhecer, aos músicos, compositores e poetas aplaudidos pelo público de S. Petersburgo, onde ele poderia, e viria a apresentar as suas próprias obras (Foundation Igor Stravinsky, 2010).


Um primeiro momento crucial na carreira de Stravinsky, ocorreu na noite de 6 de Fevereiro de 1909, com a apresentação de Fogo-de-Artifício e de Scherzo Fantastique, no Siloti Concerts, em S. Petersburgo (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Entre os espectadores encontrava-se Sergei Diaghilev, fundador da companhia Balé Russo, que impressionado com o trabalho de Stravinsky, pediu-lhe para que orquestra-se duas peças de Chopin, para o bailado As Sílfides, apresentado em Paris, no Théatre du Châtelet, nesse mesmo ano (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Confiante no talento do jovem compositor, Diaghilev encomenda-lhe o bailado Pássaro de Fogo (1910), o que leva Stravinsky a mudar-se para Paris, com o intuito supervisionar os últimos ensaios, juntando-se a ele a família, no final da temporada (Wikipedia, 2012). Seguem-se Petrushka (1911), e A Sagração de Primavera (1913), mais dois bailados para a companhia de Diaghilev (Foundation Igor Stravinsky, 2010).
Este período foi também muito significativo para a sua vida pessoal, com o nascimento do seu segundo filho, Siatoslav Soulima, em 1910, e a sua segunda filha Maria Milena, em 1913 (Wikipedia, 2012).

Primeira Fase: período Russo

Os três bailados apresentados em Paris, segundo a literatura variada, tem um estilo, ou uma estética musical, muito particular e original, pode dizer-se, para a sua época. Não se destacando apenas na conjectura musical do início do século, destacam-se também na própria carreira de Stravinsky, por se tratar de obras inspiradas na tradição russa, no seu folclore, e naturalmente revelarem a influência que o seu mestre teve sobre o pupilo (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Sem esquecer, no entanto, que o compositor começa já a demonstrar a sua própria linguagem musical, experimentando ideias às quais dá continuidade e profundidade nas peças seguintes (Grout & Palisca, 1994).

A respeito de O Pássaro de Fogo, apresentado em 1910, na Ópera de Paris, foi um sucesso, tornando Igor Stravinsky famoso, da noite para o dia (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Composta para uma grande orquestra sinfónica, filia-se na tradição nacionalista russa, e revela a influência de Rimsky-Korsakov na sua orquestração rica (Grout & Palisca, 1994). No seu estilo próprio, começa a experimentar com ritmos e processos de composição incomuns (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Com este bailado inaugura-se também a colaboração com o coreógrafo Michel Fokine (1980-1942), cuja coreografia demonstra a energia pulsante da última dança da peça, caminho que o compositor russo que viria a explorar de forma latente em A Sagração de Primavera (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

Petruchka, em 1911, reafirma o talento de Stravinsky, pela qualidade e inovação da sua composição, novamente para uma grande orquestra com uma força e uma coesão notáveis (Foundation Igor Stravinsky, 2010). O enredo deste bailado situa-se em 1830, nas celebrações do Mardi Gras, em S. Petersburgo, em que “um boneco ganha vida, mas sofre por ser um mero boneco, impossibilitado de expressar o seu amor, da mesma forma que um ser humano (Foundation Igor Stravinsky, 2010). As melodias e polifonias são frequentes inspiradas no folclore russo (Grout & Palisca, 1994). Os ritmos vivos e “cores orquestrais garridas e brilhantes, e a textura contrapontística, assentam no ambiente carnavalesco das cenas e das personagens (Grout & Palisca, 1994).


Por último, aquela que é considerada por Grout e Palisca (1994), como a composição mais famosa do início do século XX: A Sagração da Primavera (Retratos da Rúsia Pagã). O seu enredo baseia-se numa visão que o próprio compositor viveu, um sonho lúcido talvez, em que, no contexto de um ritual pagão primaveril, uma virgem era sacrificada em nome dos deuses, dançando até morrer (Wikipedia, 2012). Stravinsky desenvolve de forma aprofundada aqui, os ritmos e efeitos orquestrais que havia “timidamente” experimentado nas peças anteriores (Grout & Palisca, 1994). Os ritmos variáveis, energicos e pulsantes, combinações de acordes muito pouco usuais ou mesmo novos, e efeitos orquestrais, elementos que se combinam para revelarem o carácter “primitivo” que lhe foi atribuido pelo público da altura (Grout & Palisca, 1994). A polémica estreia de A Sagração, no dia 29 de Maio de 1913, no Théatre des Champ-Elisees, chegou a causar um tumulto entre os espectadores (Grout & Palisca, 1994).

A 1ª Grande Guerra: aquando e após

Em 1914, tem inicio a Priemira Guerra Mundial, e todas as consequências que dela derivam. Para Stravinsky, este conflito, juntamente com a revolução Bolchevique que se viria a desenrolar, implicaram que se afasta-se da sua terra-natal durante quarenta e oito anos, acabando por dificultar a sua vida económica (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Para não submeter a sua família a uma vida nómada, “rebocada” pelas necessidades da sua carreira, Stravinsky decide “assentar” na Suíça, junto ao Lago Geneva, onde tinha aliás permanecido aquando do nascimento dos seus dois filhos mais novos (Foundation Igor Stravinsky, 2010). O compositor acaba assim por dividir o seu tempo entre a estadia com a familia, e as viagens que necessita de fazer para continuar o seu trabalho (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

A sua passada estadia em França, levou-o, talvez num acesso de nostalgia, a recolher contos do folclore russo, numa última visita a Kiev, pouco tempo antes da guerra começar (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Este material acabaria por influenciar as composições posteriores. Começou em 1914 a compor O Casamento, terminando em 1923, em 1915 Raposa, resultado de uma encomenda da Princesa de Polignac, e escreve ainda peças mais pequenas, como Berceuse du Chat (1915-16), ou Quatre Chant Paysans Russes (1914-17), assentes no folclore russo, mas com uma orquestração diferente, e menor impacto do que as obras de 1910 a 1903 (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

As conjunturas politicas da época, implicaram que Diaghilev tivesse dificuldade em financiar o seu trabalho, vendo-se Stravinsky, em 1918, a procurar formas de financiamento alternativas à companhia do Bailado Russo (Wikipedia, 2012). Encontra ajuda financeira com Werner Reinhart, patrono e filantropo suíço, e ainda um clarinetista amador muito competente (Wikipedia, 2012). Em sinal de gratidão, Stravinsky compõe e dedica-lhe as Três Peças Para Clarinete (Wikipedia, 2012). Neste mesmo ano compôs ainda História do Soldado, para sete instrumentos, pois durante a guerra, a circulação das orquestras era difícil (Foundation Igor Stravinsky, 2010). A partir desta ideia, de simplificar as suas composições, foi incluindo elementos de ragtime, jazz, tango, e valsa, mais adequados a pequenas combinações de instrumentos (Foundation Igor Stravinsky, 2010).


Com o final da Guerra, Sergei Diaghilev volta a contactar Stravinsky, pedindo-lhe para que orquestra-se um conjunto de peças atribuidas a Pergolesi, compositor italiano do século XVIII (Foundation Igor Stravinsky, 2010). O resultado surgiu em 1920, com o bailado Pulcinella, um trabalho moderno, muito bem recebido pelo público (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

A família Stravinsky volta a mudar de morada, novamente para Paris, no ano de 1920, numa tentativa de estimular mais a carreira do compositor (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Na “cidade das luzes”, assina um acordo com a companhia fabricante de pianos Pley el, para os quais faz arranjos das suas primeiras obras, e teve ainda aoportunidade de tocar numa das salas da companhia (Wikipedia, 2012). Na cidade acaba se encontrar com outras personalidades como Picasso, ou Prokofiev (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Conhece ainda, em 1921, Vera Bosset, mulher do artista plástico Serge Sudeikin, com a qual inicia uma relação, sem no entanto terminar o seu casamento com a sua mulher Catherine (Wikipedia, 2012). Igor Stravinsky passa a viver uma vida dupla, dividido entre a sua família, e Vera Bosset, que acaba por se divorciar do seu marido para continuar com o compositor (Wikipedia, 2012).

Segunda Fase: 1913-1923

Este segundo período estilístico de Stravinsky, é muito influênciado pelas restrições forçadas no decorrer da Guerra, levando a que o mesmo abandonasse a grande orquestra, substituindo-a por pequenas combinações de instrumentos (Grout & Palisca, 1994). Os bailados História do Soldado (1918) e O Casamento (1917-23), e o octeto para instrumentos de sopro (1923), são exemplos disso, compostos para seis pares de instrumentos solistas e bateria de precurssão no primeiro caso, e para quatro pianos e bateria de percurssão no segundo. (Grout & Palisca, 1994).


Deve destacar-se também a experimentação com o Jazz, que resultou em Ragtime e Piano Rag, e mais tarde, já em 1945, da experimentação com este estilo resultaria Ebony Concerto (Grout & Palisca, 1994).

O bailado Pulcinella, estreado em 15 de Maio de 1920, viria a assinalar uma nova fase estilística do compositor, juntamente com o octeto, de textura contrapontística, depois do folclore russo, e do jazz: o neoclassicismo (Grout & Palisca, 1994).

Vida em Paris

Viver em Paris, proporcionava a Stravinsky uma actividade musical muito mais intensa, num período marcadamente pós-guerra (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Depois do contracto com a companhia Pleyel, seguiu-se um semelhante em 1924 com a empresa Aeolian Company, de Nova Iorque, alicerçando a condição económica do compositor e respectiva família (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Este contracto vem reforçar a ideia de que Igor Stravinsky não era “apenas” um compositor, também dirigia e interpretava para o público, apesar de o foco recair sobre a composição (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Em 1925, assina um contracto com a duração de dois meses, como maestro e solista, numa digressão pelos EUA, onde foi carinhosamente recebido pelo público (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

O seu trabalho continuou, com Serenade en La pour Piano, dedicada à sua mulher cuja saúde estava afectada, e considerada pelos críticos, como a melhor peça que o compositor já escreveu para piano (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Catherine tinha já passado por um sanatório, na Suíça, devido à tuberculose, aquando grávida da sua segunda filha (Wikipedia, 2012). A sua saúde parecia manter-se num estado de fragilidade suportável, se assim o quisermos entender.


Volta a compor para uma grande orquestra em 1927, com a ópera-oratória Édipo Rei, inspirado no texto de Sófocles, e em certos motivos do barroco de Handel (Foundation Igor Stravinsky, 2010). No ano seguinte, 35º aniversário da morte de Tchaikovsky, Ida Rubenstein encomenda um bailado a Stravinsky, que se inspira no falecido compositor, o homenageia com O Beijo da Fada (Foundation Igor Stravinsky, 2010)

Em 1928 compõe Apollo, Chefe das Musas (bailado), o último bailado para a companhia de bailado russa, começando a demonstrar a sua renovada religiosidade (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Dois anos depois adere à Igreja Ortodoxa, na qual aliás, tinha sido baptizado e educado, e daí resulta a Sinfonia dos Salmos, inspirado em textos bíblicos, e Perséfone (1934), o bailado melodrama inspirado na mitologia grega mas onde se destaca a influência da doutrina Ortodoxa (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

No ano de 1934, a família Stravinsky consegue a nacionalidade francesa, e nesse mesmo ano o seu segundo filho, Soulima, começa uma carreira como pianista (Foundation Igor Stravinsky, 2010). O compositor escreve então Concerto para dois pianos apenas (1935), para que ele e o filho a tocassem em público (Foundation Igor Stravinsky, 2010). É de relembrar que Stravinsky, apesar da segunda vida que mantinha com Vera Bosset, era um homem dedicado à família, que investia muito na educação dos seus quatro filhos (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

A colaboração de Igor Stravinsky com entidades norte-americanas, nomeadamente o casal de patronos Bliss que, para a celebração do seu 30º aniversário de casamento, encomendaram uma peça, resultando o Dumbartons Oak Concerto (1938) para orquestra de câmara (Foundation Igor Stravinsky, 2010). No ano seguinte colabora com a Orquestra Sinfónica de Bonston, compondo Sinfonia em Dó, estreada no 50º aniversário da mesma (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

A tuberculose atingiu a família Stravinsky entre 1938 e 1939, como não tinha ocorrido antes (Foundation Igor Stravinsky, 2010). A tuberculose que afectou a Catherine, acabou por ser transmitida à sua filha mais velha, resultando na morte da mesma, em 1938 (Foundation Igor Stravinsky, 2010). E da própria Catherine, e de Anna, mãe de Igor, em 1939 (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Esta tragédia, assim como o advento da 2ª Guerra Mundial, viriam a afastar o compositor da sua morada em França, mudando-se para os EUA em 1939 (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Tinha recebido aliás, nesse mesmo ano, um convite para leccionar na Universidade de Harvard, nesse mesmo ano lectivo (Foundation Igor Stravinsky, 2010). As suas aulas acabaram por ser publicadas em livro, sob o título de Poethique Musicale (1942), traduzido para inglês em 1947 (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

Vida na América

Vera de Bosset junta-se a Igor Stravinsky em 1940, casando no início desse mesmo ano, assentam primeiro em Beverly Hills, e mudam-se mais tarde para uma casa que adquirem em Hollywood (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Tornam-se cidadãos estado-unidenses em 1945 (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

A vida social de Stravinsky é novamente alterada, e rapidamente o mesmo observe influências do novo continente. Faz-se rodear de outros intelectuais e criadores de Los Angeles, alguns deles expatriados como consequência da Guerra (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Entre amigos e colaboradores podemos referir Aldous Huxley, W. H. Auden, Otto Kempler, Thomas Mann, e Dylan Thomas (Foundation Igor Stravinsky, 2010). A própria cultura do continente inspirou o compositor, que em 1940 apresenta Tango, resultado de algumas visitas ao México (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Em 1941 é detido por fazer novos arranjos numa exibição pública de The Star Sprangled Banner, por a lei federal proibir qualquer alteração do hino (Foundation Igor Stravinsky, 2010). A influência do jazz, volta a manifestar-se em 1944 e 1945, com Scherzo à la Russes para jazz ensemble, e Ebony Concerto, respectivamente (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Também a 2ª Grande Guerra serviu de inspiração para a Sinfonia em Três Movimentos (1945), chamada também de “Sinfonia de Guerra”, que muitos consideram como uma das suas obras primas (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

Igor Stravinsky, aproveitou ainda a condição legal dos Direitos de Autor, vigente nos Estados Unidos, para rever e reeditar várias das suas obras, desde Petruchka, Pulcinella, e Édipo Rei, entre outras (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Continua a compor novas peças, como é o exemplo neoclássico de Orfeu (1947), inspirado no Orfeu de Monteverdi, e Missa (1948), revelando novamente a influência de textos bíblicos na sua música (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

Em 1951, em Veneza, conduz ele mesmo a orquestra que apresenta The Rake’s Progress, uma ópera inspirada nos trabalhos do pintor inglês William Hogarht, e cujo libreto foi escrito em colaboração com o poeta W. H. Auden (Foundation Igor Stravinsky, 2010). A ópera foi um sucesso entre o público ao nível internacional, e Stravinsky aproveitou a viagem a Veneza, para revisitar a Europa (Foundation Igor Stravinsky, 2010). The Rake’s Progress, vem também marcar o fim do período neoclássico do compositor (Foundation Igor Stravinsky, 2010).

Terceira Fase: Neoclassicismo




Relativamente ao período neoclássico de Stravinsky, aproximadamente entre 1923 e 1951, não foi exclusivo do mesmo (Grout & Palisca, 1994). Na altura, estava em voga a utilização de técnicas e processos de orquestração do período barroco e clássico, desde Bach a Monteverdi, e até Beethoven (Grout & Palisca, 1994). No entanto, o compositor russo foi especialmente competente no estilo, tornando-se um dos seus melhores representantes (Grout & Palisca, 1994).



Este neoclassicismo, pode classificar-se como o recurso aos princípios clássicos da frieza, da objectividade e do equilíbrio, podendo ainda recorrer à imitação, à citação ou à alusão a melodias ou estilos de compositores mais antigos (Grout & Palisca, 1994). No caso de The Rake’s Progress, as próprias técnicas de composição e orquestração estão contextualizadas no período em que o enredo decorre (Grout & Palisca, 1994). Talvez numa tentativa de (re)criar ambientes, ou atmosferas do passado. A textura contrapontística, a música de câmara, e adesão à música absloluta, em detrimento da música programática característica do Romantismo, são exemplos de como se procurava um corte com a aparente falta de ordem na música do principio do século (Grout & Palisca, 1994). Não significa isto que os compositores em geral, e Stravinsky em particular, copiassem a música do passado, mas antes, davam-lhes uma roupagem nova, num novo contexto (Grout & Palisca, 1994).

Últimos anos e o Serialismo





Em 1948, conhece um jovem maestro, Robert Craft, que acaba por se tornar seu assistente, e o introduz às técnicas do serialismo desenvolvidas, sobretudo por Shoenberg, um outro compositor muito influente do século XX, mas também por Berg e Webern (Grout & Palisca, 1994; Foundation Igor Stravinsky, 2010). Aos 70 anos de idade, Igor Stravinsky começa gradualmente a incorporar nas suas obras elementos das técnicas do serialismo, sobretudo de Anton Webern, que tanto admirava (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Assim tem origem Cantata (1952), Septet (1953), e Three Songs for William Shakespeare (1953). Em homenagem à cidade de Veneza, que o compositor tanto admirava, apresenta na Basílica de São Marcos a obra parcialmente serial, Canticum Sacrum ad Honorum Sancti Marci Nominis (1956) (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Dois anos mais tarde, apresentaria no mesmo espaço Threni, uma peça toda ela assente no serialismo, e de um profundo valor (Foundation Igor Stravinsky, 2010). É de assinalar a capacidade de Igor Stravinsky em apreender novas técnicas, novos estilos e linguagens musicais, apesar da sua idade, e sem nunca perder o seu estilo próprio.


Muda-se uma última vez, para o hotel Essex House, em Nova Iorque, onde permanece até 1972. (Wikipedia, 2012) Depois de várias passagens pelo hospital, morre com um enfarte do miocárdio. A sua última grande composição foi The Requiem Canticales, sob a direcção de Robert Craft, e terminada em 1966, foi interpretada no seu funeral, após o Requiem de Alessandro Scarlatti (Foundation Igor Stravinsky, 2010).



A sua última composição? The Owl and the Pussycat (1966), baseada num poema de Edward Lear, e dedicada à sua esposa, Vera (Foundation Igor Stravinsky, 2010). Terminando assim a vida de um dos maiores compositores do Século XX, e sem dúvida aquele que mais sucesso e competência na forma como conjugou todos os estilos, e como transitou, gradualmente, de um para outro, sem perder a sua identidade musical. Sobre o homem, recordemos que se soube rodear de personalidades, na sua ânsia em conhecer e se inspirar no trabalho de outros, para a vida e para as obras, e talvez um pai de família não muito presente, por razões profissionais e não só, mas no entanto, preocupado com o conforto e educação dos filhos. Recorde-se Igor Fyodorich Stravinsky.

Bibliografia

Imagem 1

Canadian Opera Company. (2009). Nightingale Study Guide 2009/2010. Obtido em 6 de Junho de 2012, de Biography of Igor Stravinsky: http://files.coc.ca/studyguides/nightingalestudyguidestravinskybiofinal.pdf
Foundation Igor Stravinsky. (2010). Igor Stravinsky Foundation. Obtido em 6 de 6 de 2012, de http://www.fondation-igor-stravinsky.org/web/: http://www.fondation-igor-stravinsky.org/web/en/biographie/sa-vie-son-uvre.html
Grout, D. J., & Palisca, C. V. (1994). Histótia da Música Ocidental (5ª (2007) ed.). Lisboa: Gradiva - Publicações Lda.
Wikipedia. (27 de Maio de 2012). Igor Stravinsky. Obtido em 6 de Junho de 2012, de Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Igor_Stravinsky

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Olá @martusamak, tudo bem? Parabéns por seu post, obrigado por usar nossa nova tag #fazendohistoria e, é claro, por participar do Desafio! Em breve estarei comentando seu post na curadoria do @msp-brasil. Caso não siga ainda, lhe convida a segui-lo.

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Desde já agradeço, mando um abraço e até a próxima!

Admiro muito a música do Stravinsky em especial a "Sagração da Primavera" na minha opinião uma verdadeira obra prima. Parabéns pelo post tão completo e bem feito.

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Muito obrigado @pedrocanella ! Realmente a Sagração da Primavera é uma obra prima. Agrada a toda a gente! É impressionante como o pulsar desse bailado agarra e intriga até os menos conhecedores. Fui uma vez com uma amiga ver o bailado. Ela saiu de lá sem perceber muito bem pela experiência que tinha passado! O melhor sinal de que aquilo a tocou realmente!

Realmente é fora do comum, a primeira vez que escutei, pirei !! Se der me indica outra peça dele neste nível para eu escutar. Abraço

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