Estamos vivendo o fim do mundo (e/ou por que eu não acho que é coincidência que #GameOfThrones, #StarWars e o #MCU estão acabando ao mesmo tempo.)

2019 parece que é o ano que o século XX finalmente vai acabar.

Como Tyrion disse ontem, "Não há nada mais poderoso no mundo que uma boa história"

É através de histórias que a gente entende o mundo. Desde as pinturas nas cavernas, até os emojis nos celulares.

A gente tá tudo contando e ouvindo histórias

E estamos em um impasse, pois a gente sabe que as histórias que a gente ouviu esse tempo não fazem mais sentido, mas a gente ama elas tanto que tamo tudo "juntos e shallow now" com elas.

As narrativas antes eram em sua maioria hiperlocais, histórias para se contar em volta da fogueira ou entre amigos em uma taverna. Aos poucos, fomos inventando tecnologias que espalharam essas histórias igual fogo de palha. Sejam meios de transporte como barcos e aviões ou papéis e tintas mais duradouras. Até que chegamos no século XX e a gente inventou os meios de comunicação de massa.

E finalmente começou a existir um começo de narrativa única entre todos os humanos da Terra, algo que não existia a milênios.

Esse movimento ficou muito forte, principalmente depois do pós guerras. A invenção do adolescente, o começo da era de ouro das HQs e das histórias de fantasia vieram tudo ali. Um momento que a gente teve de coletivamente criar uma nova história para apaziguar um pouquinho os corações de quem viveu alguns dos maiores terrores da história da humanidade. Só que como qualquer coisa, o tal do mercado percebeu isso e tomou pra ele essas histórias na tal da Indústria Cultural. Logo depois isso ficou tão forte que muitos governos criaram políticas para usar isso como propaganda. (isso na verdade começou já na Segunda Guerra com os EUA usando os super heróis pra dar um sopapo no Hitler e o Pato Donald vindo conhecer o Zé Carioca no Brasil para mostrar como a gente é irmão e ai de você se for pro outro lado!)

E assim, as histórias começaram a ser direcionadas para criarmos um entendimento de mundo do jeito que "Eles"queriam, para assim termos o "mundo" que eles queriam. Isso durou todo o século XX, principalmente do final dos anos 1970 pra cá quando foi inventado os blockbusters com os filmes dos migos George Lucas e Steven Spielberg. Logo a indústria viu o potencial desse tipo de história e como a gente precisa dela pra ser nossa ponte com a História e ai que a parada começou a ficar séria. Ai veio Televisão via satélite, TV a cabo, intranet, internet, smartphone e finalmente a gente está aqui. Nessa tribo global, experienciando as mesmas histórias. Juntos ao mesmo tempo. Mas o ser humano é muito ruim de aceitar mudanças, e mesmo com essas histórias não fazendo mais sentido para o mundo que a gente vive hoje, a gente tá aqui no twitter brigando por elas.

Não faz mais sentido um homem bilionário se vestir de morcego e gastar bilhões para criar gadgets para lutar contra o crime ao invés de simplesmente criar sistemas de redistribuição de riqueza para educar e apoiar a população mais carente da sua cidade. Não faz mais sentido, um alienígena ter uma base escondida na Antártida e não dividir 1% da tecnologia alien com o mundo para termos energia renovável ou motores que não são a combustão. Como também não faz sentido ter um estúdio só contando todas as histórias que a gente tá se apegando nelas em um nível global como a Disney tá fazendo. Isso tudo foi só pra dizer que histórias não são só super herois, ou famílias disfuncionais que travam uma guerra nas estrelas, ou uma guerra pelo trono de um reino inventando.

É tambem nosso sistema politico, financeiro e comportamental na vida real. São as histórias que formam nosso mundo. Histórias de que se você vender seu tempo e seu trabalho, você é uma pessoa melhor e justa. Que você individuo, pode mudar seu país com um voto a cada 4 anos. Que você tem de ser bonzinho para não deixar o cara que vive no céu bravo. Hoje, muitas dessas histórias, não fazem mais sentido. Sejam por que tem robôs roubando nossos empregos. Tem muitos mecanismos para garantir que quem seja eleito seja alguém que interesse a outras pessoas. E que o conceito de um ser superior, talvez é só isso. Um conceito. Assim como aconteceu na Idade Média e na Revolução Industrial, a gente tá vivendo o fim de uma idéia, de uma história coletiva, para o começo de outra. E é por isso que eu não acho coincidência que grandes pilares da narrativa coletiva que a gente viveu nesses últimos tempos, estão acabando juntos.

A gente tem de saber que a Galáxia é maior do que a família Skywalker.

A gente tem de saber que super heróis podem ser negros, gays, mulheres e qualquer outro tipo de ser vivo.

A gente tem de saber que reis e rainhas são humanos e que as vezes suas lendas são épicas, mas suas histórias são banais.

E principalmente, a gente tem de saber que esse é o momento da gente escrever uma nova história juntos. Alguem ai vai ser nosso Sam (do Sr dos Anéis ou do Game of Thrones, pode escolher) e vai colocar tudo isso no papel (ou no arquivo de word) logo mais. Mas primeiro, a gente tem de viver essa história para alguém poder narra-la. E é ai que nos encontramos. No momento que o Peter Parker é mordido pela aranha, ou que o Jon Snow descobre que é um rei ou o Luke descobre que existe algo além de Tatooine. Podemos ser o Jão das Neves e não fazer nada e ficar com nosso ruivinho no norte. Ou podemos comprar a briga e ir destruir a estrela da morte ou ficar dando rolê de teia em Nova Iorque. A opção é nossa. Mas é uma opção que a gente vai ter de fazer logo.

Vai ser rápido. Vai ser intenso. Vai ser dolorido. Mas não vai ser diferente de nenhuma outra mudança de historia que a gente já passou. Seja o fim de um casamento ou de uma guerra mundial. O novo assusta, mas a gente finalmente tá conectado em rede e pode se ajudar nisso ai. Mas vamos ter de mudar de história para podermos começar a cuidar do clima, do planeta, da gente. Essa é a semente da nova narrativa.

O Coletivo contra o individuo.

O nosso contra o meu. E é assim que um mundo morre.

E também é assim que um mundo nasce.

Pelas histórias que a gente conta e as que a gente divide.

E é assim que a gente tá entrando em um mundo novo e vamos ter de deixar o velho pra trás.