A Escrita e suas Questões

Quando eu era pequena ganhei o livro de poemas infantis: Ou Isto ou Aquilo de Cecília Meireles, meus pais liam para mim e também me falavam de maneira muito positiva da autora. Aquilo me fascinou, meu desejo de escrever e ser escritora vem desde esta época e é claro que comecei fazendo poesias.

Naquele tempo e durante muitos anos eu acreditava em inspiração. E quando a inspiração não vinha eu não escrevia nada. Depois aos poucos comecei a me dar conta que dizer: “estou sem inspiração” era apenas uma desculpa para minha própria preguiça de arregaçar as mangas e trabalhar.

A profissão é um tanto romantizada. Acredita-se que o escritor é um ser mágico cheio de imaginação em cuja mente brotam ideias constantemente e em profusão. Certamente estes tipos de gênios existem, mas a grande maioria dos escritores precisa se esforçar para as palavras saírem, escrever é mais como um parto e os textos só podem nascer através de um certo sofrimento, e as vezes até mesmo manchados de sangue.

Outros utilizam alguma substância entorpecente para lhes trazer a tal inspiração e creio que muito da literatura universal foi produzido pelo menos à base de vinho. Para mim que não tenho genialidade e não sou adepta das drogas o remédio é a disciplina. Me forço a escrever todos os dias, nem que seja apenas alguns poucos parágrafos.

Escrever é como ter que acordar às 6 da manhã para correr, você tem que se obrigar, caso contrário é muito mais prazeroso ficar na cama quentinha debaixo das cobertas.

Para minha sorte sempre amei ler. E ler muitos livros é algo que ajuda demais na tarefa de escrever. Lendo muito você vai absorvendo todos aqueles estilos que de um modo ou de outro vão ficando gravados no seu subconsciente.

Durante minha adolescência morei em uma cidade pequena, e não tínhamos TV, Internet, nem vídeo games, lá não pegava o sinal de celular. Felizmente tínhamos na casa uma biblioteca lotada de clássicos, e por isto eu tive uma oportunidade singular para mergulhar de corpo e alma no universo da literatura.

Eu queria e quero escrever mas a questão principal era e ainda é: Escrever o que? Qual Tema? Me sentava na mesa munida de lápis e papel, mas não somente o papel estava em branco, minha mente também.

Percebi que é mais fácil escrever sobre o que vivemos, pois se consegue um maior grau de sinceridade quando se fala da própria experiência. Poderia me sair bem escrevendo memórias e sobre certos eventos que aconteceram no meu passado. Mas eu era tão jovem (e ainda sou) que quase não havia tido experiências de vida relevantes nem interessantes.

Todo o material que eu dispunha como adubo para fazer meus textos germinarem eram os próprios livros que havia lido.

Me disseram também que eu poderia evoluir lendo certos tratados que se propunham a ensinar técnicas de como escrever, uma espécie de teoria da criação literária, mas tive medo de ler tais conteúdos e acabar ficando ainda mais paralisada e acabar perdendo o pouco de originalidade que eu talvez possuísse.

Continuei me esforçando e com o tempo percebi que a minha escrita já fluía um pouco mais natural, menos travada, mas ainda me faltavam temas de interesse.

Agora venho resolvendo este problema da maneira mais doida: Eu não escolho mais o tema sobre o qual vou escrever. Peço para outras pessoas escolherem temas e então eu faço um sorteio. Depois eu escrevo sobre o tema sorteado.

Descobri que é um método muito eficaz para mim e vem dando certo. Talvez nem tanto pela qualidade dos artigos, mas pelo menos em relação à quantidade maior de textos que venho produzindo.

Espero que um dia eu consiga me deparar por mim mesma com um tema que seja forte o suficiente para me dominar e me fazer escrever um livro.

Por hora este método tem-me ajudado a treinar, adquirir flexibilidade, aprender coisas novas e continuar fazendo o que gosto, que é escrever.

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Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

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