Justiça?

Onde mora a justiça?
Alguém pode dizer se a viu?
Saiu em viagem?
Por acaso, levou bagagem?

Onde mora a justiça?
Grita o pobre para o ar e a terra!
Envolto em farrapos,
cheio de frio e de fome.
Por uma côdea de pão bolarento,
aguenta todo o tipo,
de maus tratos.

Onde mora a justiça?
Onduleia a floresta ao sabor do vento.
Enquanto não for estropiada,
violada e vendida, quando muitas vezes,
não é queimada.
Não consegues ouvir seu lamento?

Onde mora a justiça?
Na fábrica da alimentação,
sofre a vaquinha para dar leitinho.
Engorda o pato ou o faisão.
Sem sossego perde a cabeça,
o borrego.

Onde mora a justiça?
Passeia nesses palácios da lei,
essa, que é humana e cruel.
Feita à medida dos homens
do papel.

Consta por aí,
que se descobriu seu paradeiro.
Vive num condomínio de luxo,
lado a lado com o Rendeiro.

Dá festas e recebe comissões,
fecha os olhos às infracções,
banquetea-se de champagne e fois gras.
Queixa-se do fígado mas é o que dá,
ser ganaciosa e ignorante.
Soube tão bem o patinho,
servido pelo pretinho,
mas o pobre do animal que engordou,
de hormonas e sofrimento, vinga-se na justiça
tirana, desumana, que para o inferno ela irá,
juntamente com seus lacaios aberrantes,
mensageiros de morte andantes.

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