#Filosofando | Será que "Penso, logo existo"? Por um mundo menos cartesiano!! #1
É com imensa alegria que eu escrevo esse post para contribuir com a mais nova iniciativa de nossa comunidade luso-brasileira, a tag #FILOSOFANDO! Já fica meus parabéns ao @joaoprobst, ao @antigourmet e a todos que fizeram parte de alguma projetando essa iniciativa. Se você quer conhecer mais sobre clique aqui.
Você já deve ter vivenciado em algum momento em uma dualidade (uma dicotomia) que te fizeram acreditar ser oposta certo? Aqui pretendo pensar um pouco sobre uma dicotomia, a suposta oposição, separação entre objetividade e subjetividade. Muitas vezes somos levados a acreditar que há de um lado um racional, ligado a decisões puramente lógicas e um outro lado emocional ligado a decisões puramente passionais.
Imagens: Pixabay | Edição: Canva
Neste texto pretendo colocar a minha opinião sobre alguns assuntos. E conforme acredito, isso foi um dos maiores enganos que o iluminismo nos deixou como herança ao pensamento ocidental. Mas se acalme que pretendo explicar alguns porquês. Gostaria de relembrar algo obvio, porém, as vezes necessário. Qualquer um(a) tem total direito de discordar do que irei expor aqui. Contudo, esta é a forma como eu penso sobre o assunto. Então, um abraço (pra quem é de abraço), um beijo (pra quem é de beijo) e vamos nessa!
Antes de mais nada, precisamos conhecer brevemente quem foi um dos responsáveis em teorizar, com isso materializar uma visão binária que já vinha sendo construída há alguns séculos. Esse sujeito foi René Descartes (1596-1650).
Quem foi René Descartes?
Imagem: Wikimedia Commons
René Descartes, ou Renatus Cartesius (seu nome latino), foi um filósofo moderno francês que viveu durante o século XVII. Como de costume aos filósofos da época, seu domínio expandia para além da filosofia, em seu caso, dominava física (olha @fisicanaveia por aí!) e matemática. É mais conhecido pela célebre frase; "cogito ergo sum", traduzida como "penso, logo existo".
Foi considerado um dos responsáveis pela chamada revolução científica, sendo chamado de "pai da matemática moderna" e "o fundador da filosofia moderna". E como se apenas isso já não bastasse alguns afirmar quem foi com ele que surgiu o racionalismo. Porém, hoje, já se tenha a compreensão de que ele foi quem ordenou pensamentos de diversos autores e períodos e inaugurou o racionalismo moderno de forma sistematizada.
O que é Cartesianismo?
Imagem: Pixabay
Sites como InfoEscola, intensamente usado por estudates em formação do ensino básico e médio consultam, possuem afirmações como esta:
"Para Descartes a filosofia seria como uma árvore, na qual a metafísica forma a raiz, a física o tronco e as diversas ciências os galhos, sendo que o mais alto grau de sabedoria estaria na moral, que pressupõem conhecimento das diversas ciências, sendo as principais a ética, a mecânica e a medicina. (...) Descartes procurou encontrar um conjunto de princípios que pudessem ser conhecidos sem qualquer dúvida. Para investigar tal possibilidade, procedeu análise por meio de um método próprio conhecido como "dúvida hiperbólica", ou "dúvida metafísica", mais frequentemente referido como "ceticismo metodológico", que consiste em rejeitar qualquer ideia da qual se possa duvidar, para então, após análise, restabelecer ou reconstruir estas ideias de modo a criar uma base sólida para o conhecimento."1
Gostaria de observar aqui essa tentativa de Descartes em buscar um conhecimento puro, eu diria até que poderia ser quase que como se fosse a busca por um tipo de verdade absoluta, que bem sabemos hoje, que não há. Sua divisão das áreas do conhecimento, onde a teoria (metafísica) torna-se oculta, escondida por debaixo da terra, onde a raiz de sua "árvore" está. Sendo a física o tronco e as ciências os galhos, onde ficariam as humanidades?
Precisamos considerar, que diversas áreas das humanidades que temos hoje, se quer existiam como disciplinas formadas na época de Descartes. Portanto, sua divisão proporcionou e/ou influenciou, gostemos ou não, das subdivisões e desdobramentos do que ele considerava moral e ética nas mais diversas áreas das humanidades (aplicadas ou não).
Estou longe de pretender aprofundar pensamento cartesiano neste pequeno texto, mesmo porque seria praticamente impossível fazê-lo. Nem mesmo considero que o conhecimento que desenvolveu tenha sido desnecessário ou mesmo inútil. Jamais afirmaria tal coisa. Tenho convicção de sua utilidade para diversas áreas do conhecimento. Contudo para as humanidades, seu pensamento não foi tão gentil. Mas não foi Descartes o responsável por isso, mas sim pensadores que surgiram depois deles e tentaram encaixar sua metodologia em áreas que não deveriam ser sua finalidade.
Vantagens ou desvantagens?
Imagem: Pixabay
Até mesmo a divisão que propus neste subtópico ainda sofre influência de Descartes. Ao reproduzirmos as dualidades, como certo ou errado, melhor ou pior, bem ou mal, estamos sendo fortemente influenciados pela dicotomia razão ou emoção.
"Descartes foi ainda um defensor do dualismo mente/corpo, mas diferente de defensores anteriores do dualismo, Descartes defendeu que a relação não é unidirecional. Sua hipótese era de que, o corpo funciona como uma máquina enquanto a mente é imaterial e não segue as leis da natureza. Mente e corpo seriam conectados pela glândula pineal, através da qual a mente comanda o corpo, mas também o corpo influência a mente, de forma que a relação é bidirecional, sendo possível explicar os momentos em que agimos pelas paixões."1
Imagem: Pixabay
Apesar dos incontáveis avanços que o cartesianismo permitiu através dos séculos, hoje para as humanidades, não podemos mais nos limitar a essas divisões, binárias e hermeticamente divididas. Ou seja, não há verdades ABSOLUTAS e qualquer que seja o assunto tratado, quando tangencia práticas sociais, tem por premissa a unidade como um todo.
Sem dúvida, houve, e ainda há, momentos em que certas divisões como estas são necessários, visando um caráter analítico de pesquisa. Contudo, devemos ter em mente que ela é artificial e meramente heurística. Que na realidade amálgama de elementos, uma vez considerados diferentes e heterogêneos, que encontram completamente misturados e mutuamente influenciados. Sem que possamos separá-los com precisão, devemos partir dessa premissa, só assim conseguiremos avançar de forma coerente para a conquista de uma sociedade que não se destrua mutuamente por viver num constante "NÓS contra ELES".
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Parabéns, você está participando do #filosofando, boa sorte. Sabe que eu não sou muito fã do Descartes, ne? Li o Discurso sobre o Método, mas não me convenceu muito, não que esse filósofo não tenha sua importância, tem claro, mas lhe faltou alguns detalhes que foram preenchidos por filósofos posteriores, o objetivo dele era nobre, colocar um método para a filosofia, mas como você doma o imprevisível? Fora que ele foi muito influenciado pela religião, no começo do livro ele fala que a única coisa que não pode ser duvidada racionalmente é deus, eu já prefiro optar pela opção de questionar tudo.
Kant fez algo parecido, analisou a possibilidade da metafísica como ciência, concluiu que era impossível pela sua imaterialidade.
Sobre não existir verdades absolutas concordo, isso fica bem claro em Kant e em Nietzsche, o primeiro afirma que não vemos o objeto, uma maçã por exemplo, mas a percepção do objeto, a imagem da maçã, portanto a imagem do objeto mudará conforme quem o observa.
Novamente parabéns pelo texto.
Sim. Concordo @joaoprobst. Eu quis trazer mais o Descartes, por ele ter essa posição tão alta nesse Panteão dos filósofos ocidetais modernos. Kant é bem platônico, né? Isso me lembrou da clássica obra de René Magritte. O grande ponto que eu vejo são as influências que isso tudo teve nas "ciências" humanas. Que até hoje ainda tem quem fique se preocupando em chamar as humanidades de ciências. Se consideradas como tal, se fazem com epistemologias diferentes das ciência exatas, sendo necessários cuidar com certas aproximações de método.
Obrigado pelo comentário e boa sorte aos participantes!
Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!
Muito obrigado!
Excelente texto @leodelara.
Mano, Descartes era f..., sou muito fã, inclusive estou escrevendo um artigo sobre ele e pretendo publicar ainda nesse semestre.
Mas existem problemas em sua teoria claro, seu contexto é do século XVII numa época que a Igreja Católica proibia as pessoas de pensarem, mas mesmo assim, ele é o pai da filosofia moderna, o pai do racionalismo e das ciências modernas, foram poucos que conseguiram feitos parecidos.
Mas como disse, em tudo existe algo errado e o problema na teoria de Descartes é justamente querer tratar tudo como um cálculo matemático e como vc aborda muito bem, a área de humanas não dá para ser tratada de tal forma.
Atualmente há muito debate sobre esse tema, vários filósofos da ciência como Thomas Khun e Hugh Lacey são extremamente contrários a esse tipo de pensamento e eu concordo, hoje precisamos ver o mundo de outra forma, de um modo mais conjunto, mas para a época de Descartes isso foi um marco, tanto que o próprio Galileu em carta disse para não ir à Roma pois lá não era bem visto pela igreja, e após sua morte toda sua obra foi anexada ao Index.
Excelente texto sobre um excelente pensador.
Muito obrigado @antigourmet! É isso mesmo. Talvez eu não seja tão entusiata quanto você, mas reconheço os méritos de Descartes. Só acredito que numa perspectiva de avançarmos, hoje, nos colocar a frente dos "gigantes" e não mais em seus ombros. Eles nos foram úteis? Com certeza. Agora vamos caminhar com nosso próprios pés e avançar nesse debate. Por isso defento como título, "um mundo menos cartesiano", mas não de sua extinção, como você muito bem deve ter percebido.
Muito obrigado por seu comentário.
Abraço e até a próxima!