#BIBLIOTECA# | Um, Nenhum e Cem Mil | Luigi Pirandello | #1

in #pt6 years ago

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Quem é este estranho dentro de mim?

Como suportar em mim este estranho? Este estranho que eu mesmo era para mim? Como não o ver? Como não o conhecer? Como ficar para sempre condenado a levá-lo comigo, em mim, à vista dos outros e no entanto invisível para mim? 1

Estas são apenas algumas das centenas de questionamentos que o italiano Luigi Pirandello (1867-1936) faz em sua obra de literatura filosófica cuja tradução no Brasil tem por título, Um, Nenhum e Cem Mil (do original: Uni, Nessuno e Centomilla).

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Está será minha primeira contribuição à etiqueta (tag) #biblioteca criado por @leticiachiantia, para catalogar os interesses em comum. Se quiser saber mais sobre clique aqui.

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Pirandello, que foi Nobel de Literatura (1934), foi dramaturgo , romancista, poeta e escritor de contos. Entre suas obras mais famosas temos esta que lhes apresentarei hoje. Ainda que seu maior destaque está no campo da dramaturgia com suas peças de teatro "A característica mais notável da arte de Pirandello é seu poder quase mágico de transformar a análise psicológica em um bom teatro."2

@matheusggr
Por isso já canto a pedra.
Não perde a oportunidade de ler
este livro não, meu filho! hehehe

livro e autor
Imagem: Wikipedia | Edição: Canva

A obra tem uma leveza sem igual. Mais parece que estamos ouvindo Pirandello nos contar os causos do cotidiano, mais do que normal, que aconteceram durante sua vida. Em sua escrita ele fala conosco. Sinto como se ele estivesse falando diretamente para mim, durante a leitura de seu livro, e isso me fascina!

Já na primeira página, inicia com um dialogo seu com sua esposa:

— O que você está fazendo? — perguntou minha mulher ao me ver demorar estranhamente diante do espelho.
— Nada — respondi —, só estou olhando aqui, dentro do meu nariz, esta narina. Quando aperto, sinto uma dorzinha.
Minha mulher sorriu e disse:
— Pensei que estivesse olhando para que lado ele cai.
Virei-me para ele como um cachorro a quem tivesse pisado o rabo.
— Cai? O meu nariz?
E minha mulher respondeu, placitamente:
— Claro, querido. Repare bem: ele cai para a direita.3

Pirandello jamais havia percebido tal característica, ou falha, como descreveu, em seu rosto até que sua esposa lhe apontou. A partir daqui, apenas aumentam suas reflexões sobre o número de qualidades, atributos, particularidades, peculiaridades, traços ou defeitos, que temos e que nunca nos demos conta. Mesmo assim, cada pessoa que nos vê, seja pela primeira vez ou que convive conosco quase todos os dias de nossas vidas, tem uma representação, uma interpretação, ou até mesmo nos percebo a partir de certa performance.

Você já parou pra pensar quantas versões de você existem por ai?

É isso mesmo! O "EU" que nós mesmos conhecemos é apenas uma versão de nós. Somente você tem acesso exclusivo a esse seu "EU". As pessoas a sua volta podem tentar se aproximar como e quantas vezes quiserem. Porém cada contato que você terá com cada indivíduo criará uma nova versão sua e que será única e exclusiva para aquele sujeito.

Quem nunca se deparou com situações em que alguém por algum motivo te falou uma impressão que teve sobre a sua pessoa, e quando você ouviu ficou impressionado por alguém ter pensado isso de ti?

São essas situações do cotidiano, que são abordadas por Pirandello em seu livro, Um, Nenhum e Cem Mil, em que o título faz uma brincadeira com o número de versões que existem de nós mesmos.

várias fotos
Imagem: Pixabay | Edição: Canva

E não parou por aí...

Com o intúito de dar uma amostra a mais do que lhes espera na obra de Pirandello, listo aqui um trecho que muito me agrada de seu livro. Espero que gostem!

Mas o problema é que vocês, meus caros, nunca entendem; e eu nunca vou poder explicar-lhes como se traduz em mim aquilo que vocês me dizem. Sei que vocês não falaram turco, sem disso. Usamos, eu e vocêsm a mesma língua, as mesmas palavra, em si, são vazias? Vazias, meus caros. E vocês as preenchem com o seu sentido, ao dizê-las a mim; e eu, ao recebê-las, inevitavelmente as preencho com o meu sentido. Pensamos que nos entendemos, mas não nos entendemos de modo nenhum.
(...)
Mas por que, então, santo Deus, vocês continuam a fazer como se não souvessem disso? Por que insistem em falar de vocês, se sabem que, para serem para mim aquelo que são para si mesmos, e eu a vocês tal como sou para mim mesmo, seria preciso que eu, dentro de mim, lhes conferisse aquela mesma realidade que vocês conferem a si, e vice-versa. E isso é possível?4

Deixo a vocês um pequeno vídeo que fiz sobre o livro em meu falecido laboratório de canal no YouTube!


Quantas versões virtuais suas existem na Internet?


imagem pergunta final
Imagem: Pixabay

Se gostou desse texto não deixe de dar uma olhada em outras postagens que fiz listadas em minha página no Steem.Center | Leo de Lara.
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Agradeço sua dedicação na leitura.

Te desejo uma excelente semana e volte quando quiser!

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Referências Bibliográficas

Notas

1 | Luigi Pirandello, 2015, p. 23.
2 | The Official Web Site of The Nobel Prize | Tradução livre: "The most remarkable feature of Pirandello's art is his almost magical power to turn psychological analysis into good theatre."
3 | Luigi Pirandello, 2015, p. 9.
4 | Luigi Pirandello, 2015, p. 45.

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Dizem que existem no mínimo três "eus": o como eu me percebo, o como eu acho que os outros me percebem, e o como de fato os outros me percebem.

Esse aí com certeza existem... Mas acho que eu concordo com o autor, viu? Acho que tem, não uma centena, mas milhares de versões minhas por aí, na cabeça das pessoas... hehe
Muito obrigado pela visita e por comentar @discernente!
Abraço e até a próxima!

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Que tal um quarto "eu"? Como de fato eu sou...


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Muito obrigado!

Muito bom @leodelara. Por coincidência fiz uma postagem sobre ele aqui há mais ou menos 6 meses. Pirandello é muito bom. Li e trouxe aqui o Assim é(se lhe parece). E ler ele fez parte para entender melhor o funcionamento social da nossa psique. Artistas assim, ajudam muito, e talvez essa poderíamos dizer que seria um dos objetivos da arte.

Entretanto nosso Eu, vai além, e é constituível por nossas vivencias, e comandado pelo nosso inconsciente. Podemos dizer que nem mesmo conhecemos nosso Eu, e temos uma mera impressão dele. Claro que muito mais do que outros em seus preconceitos.

E assim se dá as relações humanas. É o "normal" em seu amplo conceito. Onde todos somos imperfeitos, e buscamos algo para completar nossa falta, ou deveríamos. Buscando a maturidade do nosso Eu. E que não é fácil, e por vezes pode causar bastante sofrimento, pelos moldes culturais que estamos inseridos, e que como sempre traz é decorrente de uma construção de muito, e muito tempo.

É muito comum, vemos em discussões, a busca da verdade, "será que o paciente estava falando a verdade? ", e é comum no dia a dia isso, uma desconfiança que vem se tornando cada vez mais forte em nossa sociedade. E literaturas assim nos fazem ver, que nos apresentamos a cada um de uma maneira diferentes, as muitas faces do Eu, e por diversos motivos, que só cabem aqueles indivíduos. Uma grande discussão nos tempo de hoje! Muito bom! Ainda vou ler esse!

Excelente comentário @matheusggr. Que bom que o conheces. Eu suspeitei mesmo. Um outro autor que já li comentários (do Antoine Compagnon) sobre essa discussão sobre nossos múltiplos "Eus", foi o argentino Jorge Luis Borges. Esse com certeza deves conhecer também. Mas eu não cheguei a ler nada desse autor ainda. Apenas baixei inúmeros de seus livros em meu Kindle. Até agora parei por aí... hehehe
Acredito (e espero) que toda essa discussão ainda vai me ajudar muito na dissertação, na busca pela construção subjetiva e social do ser, como mulher medieval e materializada em sua escrita... e essa já outra história... hehe

Abraço e até a próxima!

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Muito interessante a temática! Amei a edição do vídeo, seus posts tb estão bem legais.
Eu costumo pensar que quem vê cara não vê coração. Já fiquei me imaginando como as pessoas me interpretam, muitas vezes acho que sou mal interpretada. Mas, por outro lado, percebo que a maioria de nós não fica muito se recordando de fatos e palavras, mas das situações como um todo.
No fim, acho que tb tenho várias interpretações de mim mesma.
Um pouco confuso e bem reflexivo haha

Muito obrigado pelos elogios.

Sim, mas é bem por aí... O que este livre me ajudou a pensar, é que independente do que a gente fizer, as pessoas sempre terão uma visão de nós que fugirá de nosso controle. Por isso, penso que tenho que fazer o que acredito ser o melhor e viver minha vida...
Acredito que você iria gostar muito desse livro.

Abraço e até a próxima!

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