Filme: The White Ribbon (2009) De: Michael Haneke

_{Credit: Films du Losange / edited by Kubrickamente}

O “envenenamento do poço” é um dispositivo retórico em que informações negativas sobre um sujeito são previamente apresentadas a uma audiência com a intenção de desacreditar tudo o que este tenha a dizer. Esta mecânica argumentativa tem como principal objetivo criar um ambiente de desconfiança à volta do sujeito e do ambiente em que este se insere. É numa falácia deste género que o professor da escola, interpretado por Christian Friedel, e narrador desta história cai quando se refere, na sua primeira intervenção, aos eventos passados na aldeia de Eichwald como sendo uma possível explicação para a Alemanha desumana que, mais tarde, viria a surgir das cinzas da Primeira Guerra Mundial e, logo de seguida, adverte para o comportamento suspeito dum grupo de crianças locais aquando duma série de crimes misteriosos. E, absorto na fotografia de Christian Berger, o espectador regista essas frases irremediáveis que condicionarão para sempre a sua perceção destes jovens, conforme estes viram as costas à câmara em direção às tropelias do costume ou, segundo o narrador limitado, em direção a mais um crime. Porém, depois destas apreciações premonitórias duma narrativa clássica de caça ao malfeitor, os atos vis que se seguem não são mostrados, sendo, ao invés, dado destaque ao convívio entre as pessoas da aldeia, inclusive as crianças, e as três figuras patriarcais principais - o pastor da Igreja, o médico local e o barão – e às imposições comportamentais, religiosas e sociais intransigentes que estes impõem aos seus entes queridos e súbditos. Esta subversão da narrativa expectável através do “envenenamento” serve para que o espetador associe os métodos educativos dessas figuras soberanas aos crimes supostamente perpetrados pelas crianças, deixando de interessar tanto quem cometeu o crime, mas sim a forma como uma educação opressiva pode, ou não, incentivar à germinação duma sociedade cruel no futuro.