Filme: Moonlight (2016) De: Barry Jenkins

_{Credit: Rex Features / edited by Kubrickamente}

“Estás no centro do mundo”, diz o traficante de droga Juan (Mahershala Ali), enquanto segura Chiron (Alex Hibbert) pela cabeça e o ajuda a flutuar no mar cristalino dos arredores de Miami. A água cerúlea banha o pequeno jovem e salpica-lhe os olhos com o sobressalto de quem está a fazer algo pela primeira vez, conforme o homem o ampara, carinhoso, perdido na ardência do momento, lampejado pela luz do sol que lhe realça a pele negra e contrasta com a alvura do cenário envolvente. Os conceitos de afectuosidade, masculinidade, sexualidade e inocência entrelaçam-se numa dança ensopada ao som do violino de Nicholas Britell. Com o objetivo de imersão em mente, o cinematógrafo James Laxton mantém a câmara ao nível da água, completamente dependente das imagens que a ondulação lhe proporciona, ansioso que o oceano lhe dê aquilo que tanto almeja: uma cena imortal. Moonlight, realizado por Barry Jenkins, divide-se em três capítulos, cada um filmado com uma película cinematográfica diferente. Para a primeira parte, referente à infância de Chiron, foi utilizada a película Fujifilm, ideal para realçar os azuis e verdes típicos da água translúcida e da vegetação de Miami; para a segunda parte, referente à sua adolescência, a antiga película Agfa, conhecida pela suas cores mais deslavadas, soldado raso na missão de demonstrar a visão deprimente que o adolescente sujeito a eventos traumatizantes tem do mundo que o rodeia; para a terceira parte, a película Kodak, conhecida por enfatizar as cores vivas e saturadas, perfeita para captar a ida da versão adulta da criança que não sabia nadar ao encontro dum final romântico e aconchegante, numa fuga aos momentos pálidos da sua juventude. Neste sucessivo contraste de cores e estados psicológicos, da criança inocente para o homem calejado, o protagonista torna-se tridimensional, sem nunca deixa de ser o menino negro que fica azul à luz da lua.