#TrovadoresNordicos - Hárbarðsljóð - O poema de Hárbard

in #pt6 years ago (edited)

Skål steemers! Trago aqui mais um poema com deidades e símbolos da mitologia nórdica. Dessa vez, o Hárbarðsljóð.
Um dos mais fascinantes poemas em prosa da Edda Poética que mostra a complexidade existente entre os Deuses Thor e Odin. Foi preservado no Codex Regius e no fragmento da Edda AM 748 I 4TO, no qual poucos poemas e páginas se conservaram, como o Grímnismál. Algumas passagens desse poema possuem notável semelhança com o Loketretten.

Nessa prosa, o ferreiro Hárbard e o deus Thor trocam insultos, no que parece uma competição para ver quem mais insulta o outro. Hárbard é rude e ofensivo para com Thor, que estava retornando a Åsgard depois de uma jornada em Jötunheim, a Terra dos Gigantes. Hárbard acaba obstruindo a passagem através de um riacho. Ele começa falando que Thor é mal vestido, por estar em uma roupa de andarilho, e que sua mãe está morta.

Mais palavras rudes são desferidas a Thor no decorrer da prosa. Hárbard se vangloria de sua proeza sexual, de suas habilidades técnicas e mágicas, e pergunta sobre sua pessoa. E Thor responde, contando sobre seus feitos contra os gigantes daquela terra.

Por fim, depois de tanto zombar dele, Hárbard acaba jogando pragas a Thor e lhe diz para ir embora dali.


Thor estava viajando do leste quando chegou a um canal. No outro lado do canal estava um barqueiro com seu barco.

Thor o chamou:
Quem é o servente dos serventes,
que está do outro lado do canal?

O Barqueiro disse:
Quem é o camponês dos camponeses,
que chama através das ondas?

Thor disse:
Atravesse-me através do canal, eu alimentarei a ti de manhã.
Um cesto eu tenho sobre minhas costas com a melhor comida.
Eu me alimentei no descanso, antes de sair de casa, de arenque e bode.
Muita satisfação eu tive.

O Barqueiro disse:
Tu te gabas da tua refeição da manhã. Não sabes claramente o que virá no futuro.
Abatido está o teu lar. Morta, eu creio, que tua mãe está.

Thor disse:
Isso que tu disseste agora, a todos parece ser
O mais indesejável de se saber,
Que minha mãe está morta.

O Barqueiro disse:
Embora tu não tenhas três boas acomodações, tu tens as pernas nuas
E os acessórios de mendigo. Ainda nem calças vestes.

Thor disse:
Traga esse barco aqui, eu te mostrarei aonde ancorar.
Mas de quem é o barco que tens do outro lado?

O Barqueiro disse:
De Hildólfr, o qual ordenou-me a ocupá-lo.
Um guerreiro sábio em conselhos, que vive no canal Ráðsey.
Ordenou-me a não atravessar ladrões, nem ladrões de cavalos,
Apenas os bons homens e, então, aqueles que eu conheço bem.
Diga-me teu nome, se desejas atravessar o canal.

Thor disse:
Eu diria meu nome, mesmo que fosse um criminoso, e todo o meu parentesco
Sou filho de Odin,
Irmão de Meili,
Pai de Magni.
O Poderoso Líder dos Deuses.
Com Thor tu estás falando aqui.
Agora eu desejo perguntar. Como tu és chamado?

O Barqueiro disse:
Eu sou Hárbard.
Raramente eu escondo meu nome.

Thor disse:
Por que esconderia o teu nome,
A menos que tenhas culpa alguma?

Hárbard disse:
Embora eu tivesse culpa, então eu guardaria minha vida
Contra os que são iguais a ti,
A menos que eu estivesse condenado.

Thor disse:
Sentirei vergonha por causa disso,
Pois terei de nadar através das ondas até ti e molharei minha roupa de baixo;
Pagarei tributo por tua infantil zombaria,
Se eu vier a atravessar o canal.

Hárbard disse:
Aqui ficarei e daqui irei ti esperar.
Tu não encontrarás um homem tão robusto depois do jazido Hrungnir.

Thor disse:
Agora tu recordas, quando eu combati contra Hrungnir,
Aquele Jötunn orgulhoso, que tinha a cabeça de pedra.
E que ainda o matei caiu na minha frente.
O que fazias enquanto isso, Hárbard?

Hárbard disse:
Eu estava com Fjölvar por cinco invernos inteiros
Sobre aquela ilha, que é chamada Algroen,
Combatemos vigorosamente ali e derrubamos os mortos,
Muitas coisas procurávamos e donzelas seduzíamos.

Thor disse:
Como suas mulheres vos confortavam?

Hárbarðr disse:
Nós tínhamos mulheres animadas, se elas nos fossem sábias.
Sábias mulheres nós possuíamos, se a nós fossem fiéis.
Pelas cordas de areia elas podiam esconder do vento,
E de profundos vales cavavam a terra.
Fui mais sábio que todas elas em conselho
Dormi junto com essas sete irmãs,
E eu tive afeição e prazer com elas.
O que tu fazia então enquanto isso, Thor?

Thor disse:
Eu matava Þjazi, o mal-humorado Jötunn,
Atirei para o alto os olhos do filho de Alvaldi, no céu brilhante;
Eles são os maiores sinais de minhas realizações,
Eles que todos os homens veem desde então.
O que tu fazia então enquanto isso, Hárbard?

Hárbard disse:
Poderosas poções de amor eu usei contra as Mirkriður,
Quando eu as tirei de seus maridos.
Um feroz Jötunn eu creio que Hlébarðr foi.
Ele me deu um Gambanteinn, e eu lhe tirei a razão.

Thor disse:
Com um malvado coração então tu recompensou o bom presente.

Hárbard disse:
Esse carvalho que eu possuo, foi tirado de outro.
Cada coisa em seu lugar.
O que tu fazia então enquanto isso, Thor?

Thor impaciente disse:
Hárbard, seu covarde
Mantendo-me aqui tu me atrasas.

Hárbard disse:
Oh, Ása-Thor
Eu nunca pensei que um barqueiro te enganaria em sua jornada.

Thor disse:
Um conselho eu ti darei agora
Reme teu barco para cá, cesse as ameaças.
Venha ao pai de Magni.

Hárbard disse:
Saia do canal, eu negarei a ti conduzi-lo.

Thor disse:
Mostre-me agora o caminho
Já que não desejas me transportar sobre as ondas.

Hárbard disse:
Pouco é negar, mas longe é para viajar.
Uma pequena distância em direção aos troncos,
Outra em direção as pedras.
Mantenha assim o caminho à esquerda, até chegares a Verland.
E ali Fjörgyn encontrará Thor, seu filho, e ela o mostrará o caminho da descendência
Até as terras de Odin.

Thor perguntou:
Chegarei lá em um dia?

Hárbard disse:
Com dificuldade e trabalho chegará lá, quando o Sol nascer
Então eu suponho que sim.

Thor disse:
Breve agora será nossa conversa,
Por me falares apenas com insultos.
E por me negar a atravessar, não o pagarei
Se nos encontrarmos de novo.

Hárbard disse:
Vá agora, então.
Onde todos os demônios possam lhe ter.



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O mais curioso é perceber o quanto não há uma construção de "autoridade" que é de costume ocidental desde a antiguidade greco-romana, ao menos, e permeando a Idade Média. Isso foi uma das coisas que mais me chamou a atenção neste diálogo que trouxesse dessa vez da Edda.

Excelente trabalho! Abraço e até a próxima!Logo-50.png

Sim, mesmo ele respondendo a Hárbard quem ele era. Esse o trata com indiferença, mas de maneira desrespeitosa. E Thor nem acaba reclamando, apenas o confronta nessa "competição". Valeu pelo comentário, abraços!

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